Marcos Nasser tinha 9 anos quando chegou a Niterói, aonde o pai imigrante levou a mulher e os seis filhos. Na cidade fluminense, Nasser cresceu, fixou residência e escreveu, ainda na juventude, os primeiros versos, influenciados pela leitura de mestres como Gonçalves Dias (1823-1864), Jorge de Lima (1893-1953) e Murilo Mendes (1901-1975) – e cujos ecos reverberam ainda em sua escrita. Sua poética, no entanto, não está circunscrita a Niterói. A cidade é o ponto de partida para o escritor girar seu caleidoscópio e alargar seu olhar e sua fala ao mundo e à vida em si.
“Águas da baía ociosas/ Retêm ontens (…) Sal que não conserva os corpos/ E água, água, muitas águas”… Sim, o poeta vai das paisagens idílicas à crueza da vida (“O real nesse irreal/ O irreal nesse real”). E nada escapa da sua mirada, do vaivém dos homens pelas ruas (“Quantas faces indiferentes constroem/ Comigo o tempo/ A caminho da morte”) à labuta das prostitutas, cujo trotoir começa – onde mais? – nas ruas: “Mas os olhos bem pintados/ Mexem-se, revivirados;/ Olham sem olhar o que olham/ Revelam pântanos d’alma”.
O amor serve à poesia desde tempos imemoriais. E não escapa à verve de Nasser. “Viver ou morrer/ Não importa,/ Importa o amar”, reconhece o poeta antes de dissecar esse estado de arrebatamento em diferentes vertentes. E elas incluem o amor na sua alvorada (“Onde brota o amor/ Os campos renascem// O tempo é o instante:/ O instante em que surges”), culminando no seu ocaso: “Vamos seguir como agora/ Cada qual na sua toca/ Nem feliz, nem infeliz:/ Seguir apenas calados”.
Marcos Jorge Nasser – Foto: Vitor Vogel
O poeta não está alheio ao tempo e sua fugacidade, como deixa transparecer nos versos: “Os ventos buscam funis/ Os sons somem no silêncio/ A vida nunca retorna”. A finitude, este claro (e grande) enigma existencial, leva o poeta a refletir sobre a questão de forma tocante: “De repente, em plena tarde/ Alguma coisa acontece: (…) De repente a vida some,/ Evapora se dissolve”. Ou, como ele constata em outro poema: “Sabemos da morte/ O que a vida permite”.
E o que Nasser nos permite é uma experiência singular e elaborada, possível através da poesia. Essa mesma que, como reconhece Lula Basto no prefácio, ele extrai de jazidas secretas. Sim, certos poetas lidam com preciosidades. É o caso de Marcos Jorge Nasser.
Serviço:
Título: Poemas de Niterói – Volume V
Autor: Marcos Jorge Nasser
Editora: Ibis Libris
Lançamento: junho de 2025
Número de páginas: 144
Formato: 16 x 23cm
Preço: R$ 70,00