Preparando o fim de ano com leveza: um guia afetuoso rotina de preparação para o fim de ano, entrelaçando dicas práticas e um olhar psicanalítico que respeita desejos, lutos e vínculos

por Graça Duarte

Nos dias que antecedem o recesso priorize o corpo, sono regular, alimentação leve e movimentos breves, mas cotidianos, uma caminhada ao ar livre, alongamentos ao amanhecer. Quando o corpo se regula, a ansiedade diminui, por isso inclua pequenas âncoras sensoriais (chá favorito, playlist calma, respirações conscientes) que pode ativar em momentos de agitação. Marcar uma sessão curta com o meu psicoterapeuta, quando possível, é um gesto de responsabilidade afetiva, ajuda a nomear expectativas e a não reproduzir antigos padrões em encontros familiares.

Nas relações, planeja com gentileza e limites claros. Redigir mentalmente algumas frases de deslocamento (“preciso de um tempo”, “adoro estar com vocês, mas hoje vou descansar cedo”) prepara a inevitável ambivalência das festas. A psicanálise lembra-nos que reações intensas costumam ser ecos do inconsciente, a noção de transferência ou de compulsão à repetição pode iluminar porque certos episódios emergem, ao reconhecê-los, perde-se a aura de inevitabilidade e ganho agência. Pequenos gestos simbólicos (uma carta sincera, um prato compartilhado) costumam fazer mais do que grandes declarações na movimentação do afeto.

Rituais possíveis para encerrar e começar

Para o trabalho, feche processos com listas realistas, priorize o que exige conclusão e delegue o resto, programe resposta automática gentil e assume uma janela curta de disponibilidade em caso de emergência. A prática de escrever uma nota de fim de ano, duas linhas sobre aprendizados e um desejo para o próximo ciclo, funciona como ritual de passagem. Delimita o que fica e o que se quer levar adiante.

No campo financeiro e doméstico, estabelecer um orçamento que permita celebração sem culpa, pequenas escolhas conscientes (trocar um presente caro por uma experiência, preparar com antecedência sobremesas simples) aliviam a pressão consumista. Organize o espaço com antecedência para que a casa seja acolhedora, luzes suaves, objetos que lembram afetos, uma área para contemplação, e planeja opções de lazer factíveis, um livro para a tarde, um filme que me acalme, uma rota curta para redescobrir a cidade. A psicanálise convida a vigiar o elo entre consumo e desejo, perguntar-se “o que realmente desejo celebrar?” reduz compras impulsivas.

Por fim, cuide da dimensão emocional profunda, reconheça perdas que podem emergir nesta época e permita rituais de luto, acender uma vela, escrever para quem partiu, conversar com alguém de confiança. Ao mesmo tempo, cultive gratidão concreta (listar três coisas vivas que me sustentaram no ano) e estabeleça intenções modestas para o próximo ciclo. Metas que respeitem limites e alimentem o desejo criativo. Se a solidão aperta, planejar encontros ou momentos de voluntariado, se as emoções ficam difíceis, procurar apoio profissional é coragem e não fraqueza. Fecha o dia com uma pequena celebração íntima, uma taça, uma música querida e a consciência de que preparar-se para o fim de ano é, sobretudo, um ato de cuidado consigo e com os outros,  alegre, possível e profundamente humano.

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