Atores, diretores, produtores, figurinistas, dançarinos e toda uma gama de profissionais inseridos no que diz respeito ao setor cultural têm motivos de sobra para comemorar. É que nesta quinta feira (24), às 19h, o ‘Terreiro Contemporâneo’, agora sob o comando da ‘Confraria do Impossível’, nova gestora do espaço, será reaberto após dois anos de portas fechadas em razão da pandemia de Covid-19, e com novidade: a inauguração do Teatro Chica Xavier, o primeiro teatro negro do Rio de Janeiro.
A programação de inauguração, inicia todos os dias às 19h, sendo totalmente gratuita até sábado, contando somente com um espetáculo pago que será no domingo, Na quinta-feira (24) a mostra artistica conta com Slam das Minas, Wj, Tati Villela, Livia Prado, exibição de filmes negros. Na sexta-feira (25) temos stand Up com Carlos Maia, cenas de Nadia Bittencourt e programação musical com Janamô, Luellem de Castro, Dani Câmara e Kalebe. Já sábado (26) terá Leitura Dramatizada de “O Castigo de Oxalá” dirigido por Wilson Rabelo. Encerrando a mostra, no Domingo (27) programação infantil com Atelierê e Verônica Costa, e o espetáculo “Negra Palavra de Solano Trindade”, que tem entradas a R$30 inteira e R$15 meia.
Localizado no polo da Cruz Vermelha, na área central da cidade, o espaço, que acolhe e lapida talentos negros por meio da arte, foi fundado na década de 90 pelo bailarino e coreógrafo Rubens Barbot, criador da ‘Cia Rubens Barbot’, primeiro grupo de dança negra do Brasil. “O Terreiro Contemporâneo, agora, passa a ser um novo Centro Cultural Preto, ligado a novas percepções artisticas tecnológicas, com a inauguração do Teatro Chica Xavier, estudio de gravação de audiovisual e podcasts para dialogar com produções audiovisuais, galeria de artes, além de um espaço de convivência com objetivo de fortalecer as relações artististicas, trazendo novas possibilidades de trabalho e lazer para artistas negros”, afirma André Lemos, gestor do Terreiro Contemporâneo e Diretor da Confrarida do Impossível.
Segundo o ator e empresário Reinaldo Junior, também gestor do espaço, o Teatro Chica Xavier nasceu da necessidade da existência e resistência de um ambiente negro cultural no Rio de Janeiro. Para ele, essa construção é uma forma de garantir o funcionamento do quilombo cultural, que já foi gerido pelo coreógrafo, professor e pesquisador de Danças Negras Contemporâneas, Luiz Monteiro, que passou para o ator Gatto Larsen, e que precisou deixar a direção para cuidar do Rubens Barbot, seu companheiro há mais de 40 anos, hoje, debilitado por conta de problemas de saúde. “O Teatro Chica Xavier é a realização do sonho e das lutas dos nossos mais velhos, um espaço construído por mentes e mãos pretas e muito importante para a manutenção do nosso fazer artístico, da nossa cultura, e do nosso aquilombamento na cidade, um teatro independente e um espaço de troca para melhor acolhimento do público, coletivos e artistas”, Reinaldo, também conhecido como Rei Black,
Sem recursos públicos, o centro cultural, que já vinha carecendo de uma rede de solidariedade há alguns anos, passou a sofrer ainda mais os reflexos negativos com a paralisação temporária de suas atividades, quase encerrando os trabalhos. Para manutenção e manter o legado da companhia – apesar das dificuldades – uma campanha de assinatura online foi lançada no ano passado pela empresa para angariar investimentos.
Espaço de captação e produção de potências negras, também no ano passado foi homenageado com o Prêmio Shell na categoria Inovação, mostrando sua referência no estado no segmento da cultura do país. E, agora, é o Terreiro Contemporâneo que presta uma homenagem a grande atriz Chica Xavier, levando seu nome e sua história para as novas gerações. “O teatro representa tudo o que ela representou não só no teatro, como na TV e no cinema, sobretudo, para nós, atores e atrizes negros”, pontua Jeff Fagundes- ator e articulador cultural, embaixador cultural do Internacional Theater Institute/Unesco.
E prosseguiu dizendo: “Todo esse lugar de visibilidade, colaboração e conquistas do povo negro na arte, tudo isso é o mais importante para nós neste momento. Ter pessoas que fazem parte desse movimento que é o teatro negro carioca, estando a frente deste projeto, é único. Eu, que tenho essa relação internacional e de articulação entre o Rio de Janeiro de políticas públicas e institucionais muito fortes, o André Lemos; primeiro diretor negro a ganhar um prêmio Shell como melhor diretor na história da premiação no estado, o Reinaldo Júnior; que já circulou internacionalmente com os espetáculos dele, ou seja, ter um bonde de pessoas super relevantes para o teatro negro abrindo espaços para novas gerações e para que outros também os ocupem é um dos objetivos”.
O Terreiro Contemporâneo e o Teatro Chica Xavier ficam localizados na Rua Carlos de Carvalho, 53, Centro, Rio de Janeiro, próximo à Cruz Vermelha.
Chica Xavier – O nome dado ao novo teatro é uma homenagem a Francisca Xavier Queiroz de Jesus, conhecida como Chica Xavier, que foi uma grande e consagrada atriz de teatro, cinema e da televisão brasileira. Mesmo sendo mais conhecida pelo grande público por seus trabalhos nas telenovelas, com mais de 50 personagens, ela também atuou no teatro nacional há mais de 60 anos e é uma grande personalidade da representatividade negra na arte do Brasil. Chica Xavier lançou um livro, em 1999, reunindo as cantigas e rezas que compôs ao longo de 30 anos para louvar seus santos de fé. Em 2011 ganhou o Centro Cultural Atriz Chica Xavier no Projeto Social No Palco da Vida, coordenado pelo ator Wal Schneider, onde guarda o acervo contando sua carreira no Teatro, TV e Cinema. Em 2013 a escritora Teresa Montero escreveu a biografia “Chica Xavier: Mãe do Brasil” que registrou a trajetória da atriz na TV, no cinema e no teatro. Chica Xavier faleceu em 2020 aos 88 anos.