No Dia do Professor, reconhecimento e gratidão enfrentam a dura realidade de salários baixos, jornada dilatada e falta de condições, enquanto políticas públicas avançam timidamente para dar mais valor à carreira.
Ser professor no Brasil é, sobretudo, lidar com paradoxos, ao mesmo tempo em que ocupa lugar central na construção de uma nação instruída e mais justa, a profissão convive com precariedade, desrespeito e invisibilidade cotidiana. No Dia do Professor, as homenagens se multiplicam, mas a pergunta que fica é se aplausos substituem políticas públicas, estrutura e valorização.
O papel do docente vai muito além da transmissão de conteúdo. Na escola pública e particular, professores orientam escolhas, amparam alunos em momentos de crise, inspiram vocações e, muitas vezes, determinam rumos de vida. É comum ouvir que um professor “salvou” um jovem da evasão, ou que um incentivo numa aula despertou o sonho de uma profissão. Atos que não cabem apenas num plano de ensino, mas na tessitura social de famílias e comunidades.
As dificuldades são crônicas: salários que frequentemente não acompanham a inflação nem o custo de vida; jornadas fragmentadas entre várias escolas; falta de infraestrutura e materiais; turmas superlotadas; e demandas sociais que extrapolam a sala de aula, saúde mental dos alunos, violência e fome. Soma-se a isso a carência de formação continuada sistemática e estímulos à pesquisa e inovação pedagógica, especialmente nas redes municipais e estaduais.
Apesar das adversidades, o dia a dia escolar registra exemplos de resiliência e criatividade. Professores que se organizam em redes para trocar práticas, que transformam cantinas em hortas pedagógicas, que adaptam aulas presenciais para ambientes digitais e que fazem da empatia ferramenta curricular. Essas iniciativas mostram que a valorização do professor não é só um gasto público, é investimento com retorno social direto em cidadania, produtividade e coesão.
No campo das políticas públicas, há avanços e propostas em andamento que buscam enfrentar parte dos problemas. A recomposição e a permanência do Fundeb como política estrutural ampliaram os recursos para a educação básica, com crescente complementação federal que possibilita maior investimento em remuneração e infraestrutura. O cumprimento da Lei do Piso Nacional (Lei 11.738/2008) segue sendo pauta nos estados e tribunais, e há iniciativas no Congresso e nas secretarias estaduais e municipais para fortalecer planos de carreira, jornada de 40 horas para a docência e mecanismos de formação continuada e aperfeiçoamento, inclusive com uso de plataformas digitais. Também estão em debate programas de apoio à saúde mental do professor, melhores condições de exercício, segurança, infraestrutura e estímulos à formação inicial por meio de políticas públicas que conectem universidades e redes de ensino.
No fim das contas, comemorar o Dia do Professor é também cobrar coerência. Reconhecimento público precisa caminhar junto com salários justos, carreiras claras e política de formação permanente. Professores não apenas ensinam matérias, eles orientam trajetórias. Valorizar a profissão é dar direção ao país. Se a sociedade realmente acredita nisso, os próximos passos precisam sair dos discursos e entrar nos orçamentos, nas leis e nas rotinas das escolas.

Graça Duarte, 57 anos, Brasileira, Jornalista, Escritora, Psicanalista e Parapsicóloga. 32 anos de atuação nas áreas de comunicação, empreendedorismo e bem-estar. Abordagem integrativa e humanizada.