O projeto Raízes Daqui encerrou o mês de novembro celebrando uma das manifestações culturais mais emblemáticas do folclore brasileiro: o Bumba-meu-boi. Durante todo o mês, as oficinas levaram estudantes de escolas públicas do entorno da Feira de São Cristóvão a uma imersão na tradição nordestina, com aulas ministradas pelos mestres Josué Américo da Silva Junior e Romeu Paula da Silva. A culminância do mês aconteceu no dia 28 de novembro e contou com a presença da deputada federal Jandira Feghali.
Para a coordenadora geral do projeto Whytna Cavalcante, o balanço dos quatro primeiros meses não poderia ser mais positivo. “Estou muito satisfeita com o impacto do projeto nas escolas, o resultado da troca dos mestres com os alunos tem sido muito enriquecedor. O projeto é uma política de base comunitária aplicada na prática, sendo executada com eficiência e colhendo resultados mensuráveis. São mais de 2 mil alunos impactados diretamente”, comemora.
A força do Bumba-meu-boi nas escolas
Mestre Josué chegou às escolas com uma missão clara: apresentar o Bumba-meu-boi de forma didática e envolvente. “A interação tem que ser a mais didática possível. Logo, vem as curiosidades dos alunos num modo racional e divertido feito pela imaginação deles”, explica o educador. Sua abordagem conquistou os estudantes desde o primeiro contato, especialmente pela liberdade de exploração dos instrumentos e pela narrativa lúdica que envolve a manifestação.
Durante as oficinas, Mestre Josué trouxe diferentes sotaques e influências do Bumba-meu-boi para o Rio de Janeiro. “Levar a história de Katirina, a dança do boi da maneira mais brincante, falar do Boi de Pernambuco, boi de arrasta… Os toques dos pandeiros do boi do Maranhão”, conta sobre a diversidade apresentada aos alunos.
Aprendizado na teoria e na prática
O impacto das oficinas foi visível tanto nos momentos teóricos quanto práticos. “Já na teoria dá para perceber o lado positivo. Tudo que foi passado oralmente no final todos sabiam responder às questões baseadas nos informativos no áudio visual”, relata Mestre Josué. Na parte prática, o encantamento foi ainda maior: “a vocação em querer brincar com os instrumentos foi incrível. A maioria nunca teve contato com eles”.
A metodologia aplicada pelo mestre privilegiou a vivência corporal e musical, permitindo que as crianças experimentassem os instrumentos, aprendessem as canções e compreendessem a história por trás da brincadeira. Esse contato direto com a tradição transformou o aprendizado em experiência marcante para os estudantes.
Nordeste vivo no Rio de Janeiro
Para Mestre Josué, a presença do Bumba-meu-boi em território carioca vai muito além da preservação cultural. “É fundamental! Trazer o folclore para outras regiões é mostrar um valoroso Brasil. Ter nossa cultura viva e educativa nas bases fundamentais”, defende. O educador reforça ainda a urgência dessa missão: “Não podemos perder nosso ‘forrobodó’, e sim resgatar mais disciplina cultural nordestina”.
O projeto ganha ainda mais significado ao coincidir com os 80 anos da Feira de São Cristóvão, território que se consolidou como espaço de resistência e pertencimento para a cultura nordestina no Rio de Janeiro. Gilberto Teixeira ressalta essa conexão: “É um evento muito significativo e coincidiu da gente estar efetivando o projeto Raízes Daqui com essas quatro representações tão significativas da cultura nordestina”. Para o curador, levar essas manifestações às escolas é mostrar “um Brasil que o Brasil não conhece”, como diria o saudoso Naná Vasconcelos.
Presença política reforça importância do projeto
A culminância das oficinas de novembro teve um peso especial com a presença da deputada federal Jandira Feghali, que acompanhou de perto o resultado do trabalho desenvolvido ao longo do mês. Ao observar o envolvimento das crianças com o Bumba-meu-boi, a parlamentar não poupou elogios: “Parabéns. Vi brilho no olhar daquelas crianças”.
Para Gilberto Teixeira, diretor do Instituto Cultural Feira e curador do projeto Raízes Daqui, a receptividade nas escolas superou todas as expectativas desde o início. “É uma coisa muito necessária nas escolas da rede pública. As representações da cultura nordestina, através dessas manifestações, Maracatu, Coco de Roda, Frevo e Bumba-meu-boi, preenchem essa lacuna, esse vácuo existente no ensino público brasileiro”, avalia o curador, que destaca ainda a importância do Rio de Janeiro como “tambor de ressonância” para a difusão dessas manifestações culturais.
Educação patrimonial como ferramenta transformadora
Rachel Carvalho, coordenadora pedagógica da Escola Municipal Floriano Peixoto, celebrou os resultados do projeto. Ela destacou como a proposta se integrou perfeitamente ao planejamento pedagógico: “Recebemos a proposta com muito entusiasmo! Os alunos se mostraram participativos e interessados na música, nos instrumentos, na dança, no cortejo. Foi uma experiência marcante e de muita ludicidade”.
O interesse despertado pelo projeto ultrapassou as turmas participantes. “As outras turmas ao virem o movimento na escola perguntaram se eles também teriam aula de cultura! Até no Instagram da escola uma responsável quis saber sobre o projeto”, conta Rachel, revelando o alcance da iniciativa dentro da comunidade escolar.
Sobre o legado do Raízes Daqui, a visão é de transformação profunda. “A educação patrimonial é importantíssima na escola para que se desenvolva identidade e pertencimento cultural, valorização do patrimônio material e imaterial, sua preservação e o não esquecimento”, reforça a coordenadora pedagógica, lembrando que se trata de “um letramento cultural que garante, sobretudo, a preservação da memória e a diversidade”.
Ciclo completo de cultura nordestina
O projeto Raízes Daqui, que começou em agosto com oficinas de Maracatu, passou por Coco de Roda em setembro e Frevo em outubro, finalizou sua programação de 2025 com o Bumba-meu-boi, consolidando um ciclo completo de educação patrimonial nas escolas públicas cariocas.
A iniciativa é uma realização do Instituto Cultural da Feira e Ministério da Cultura/Governo Federal, com apoio da Prefeitura do Rio, e representa um modelo de turismo patrimonial baseado na experiência viva da cultura popular nordestina. O projeto atendeu aproximadamente 2 mil estudantes entre agosto e novembro, funcionando de terça a quinta-feira nas escolas da região.
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