Realidade das ‘bixas pretas’ é debatida em “ANGU”, peça inédita de Rodrigo França com Orlando Caldeira e Alexandre Paz

Foto: Charles Pereira

Expurgo toda uma cultura de morte. Porque quero ser vida”. A impactante frase que é parte do texto inédito de “Angu” dá o tom do espetáculo que estreia no dia 16 de novembro às 20h no Futuros – Arte e Tecnologia. Escrito e dirigido por Rodrigo França e com Alexandre Paz e Orlando Caldeira no elenco, o espetáculo conta seis histórias paralelas vivenciadas por pessoas negras gays – ou “bixas pretas”, buscando subverter o olhar social fetichista que as objetifica, criminaliza e hiperssexualiza. Para além das denúncias das violências que atingem esta camada da população, a montagem também celebra e agradece ícones como Madame Satã; Gilberto França; o bailarino Reinaldo Pepê; Rolando Faria e Luiz Antônio (Queer Les Étoiles) e Jorge Laffond. A peça é uma realização da Emu com produção da MS Arte e Cultura, tem patrocínio da Oi e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, e apoio cultural do Oi Futuro.

Em cena, personagens subvertem o esperado: a não-performance do homem negro com a sua masculinidade ultra, mega viril e heteronormativa. Um sargento da Polícia Militar que honra a sua farda, mas tem a sua sexualidade como alvo de piadas para seus colegas; um jovem estudante de enfermagem que se deslumbra com a classe média branca e deseja ser por ela incluído, porém, é somente hiperssexualizado; o sonhador que fica diariamente sentado no banco da rodoviária e se envolve numa tarde de amor em um banheiro público; o menino encantado com o que dizem do seu tio Gilberto, um homem negro gay que desapareceu no mundo para fazer a sua arte longe da família homofóbica; Madame Satã – transformista que teve que largar a arte para viver à margem como malandro da Lapa; e uma homenagem ao Les Étoiles, icônica dupla queer negra brasileira que abriu as portas da Europa para a MPB.

“Retratamos pessoas que só desejam ser o que realmente são. Reforço a palavra ‘pessoas’, pois algumas são tão marginalizadas que a sociedade não as identifica assim. Ainda há luta para o básico, para se ter dignidade. Mesmo ficcionais, são vidas expostas colocando as nuances e subjetividades necessárias, para buscar a humanidade. A peça é um grito. Não necessariamente de socorro, porque acima de tudo existe potência, amor, desejo e intensidade na vida. O espetáculo é um Ebó. Que saiamos do teatro limpos e reequilibrados daquilo que nos oprime, nos aliena, nos engessa de sonhar. Que o Angu nos alimente de reflexões e nos fortaleça de axé”, vibra o diretor Rodrigo França.

A ideia do espetáculo nasceu da vontade de falar sobre liberdade e sobre as pessoas que só desejam ser felizes, mas são impedidas porque a busca dessa felicidade tem a ver com liberdade de ser o que se é. “E a liberdade alheia atormenta muita gente. Sendo eu um homem preto e gay, olho pra minha própria existência e me deparo com as lutas que enfrentei buscando ser livre. Dessa auto investigação, surge o desejo de enaltecer esses corpos. Celebrar a nós, bixas pretas, homens gays pretos, que lutamos para afirmar e gozar da nossa existência nesse mundo”, pontua Alexandre Paz, idealizador do projeto ao lado de Nina da Costa Reis.

Abordando referências artísticas da negritude, a montagem realiza uma espécie de resgate da ancestralidade preta e gay. “O sonho de Madame Satã era ser artista, mas a sociedade não deixou. Nele só se enxergava a violência, porque é o esperado para as pessoas negras. Principalmente quando se é gay. Esta interseccionalidade é demais para um país racista e LGBTQIAPN+fóbico como o nosso. O público vai encontrar um espetáculo muito sincero, para rir e se emocionar, com muita dignidade em cada personagem. Vamos ver um pouco de muita gente que só gostaria de ser feliz, mas não é uma tarefa simples, pois ser bixa preta consterna muita gente. Mesmo assim, vale a pena ser o que é”, reflete o ator Orlando.

“Ser bixa preta coloca caroço no angu de muita gente, daí o nome da montagem”, revela Rodrigo França, completando: “E angu é ancestral, é aquela comida que mata a fome de quem luta pra ser livre. É alimento. Corpo vazio não fica em pé. E a gente tem fome de viver e ser! Debaixo desse angu tem carne!”, complementa Alexandre. “Existe uma provocação para o espectador olhar para si e pensar no todo. Acho um luxo a possibilidade do público sair diferente de como entrou no teatro. Tento fazer com que as pessoas saiam da zona de conforto. Eu não saberia fazer arte sem relevância social. Sou da filosofia, tenho uma necessidade de provocar reflexões. Creio que a arte deva ocupar este lugar”, ressalta Rodrigo.

“Nossa missão no Futuros – Arte e Tecnologia é, por meio da arte, estimular o olhar crítico e construtivo. Com ‘Angu’, o centro cultural recebe em seu teatro um espetáculo que proporciona ao público a oportunidade de refletir sobre as desafiadoras vidas e cotidianos de pessoas historicamente invisibilizadas. Temos certeza de que as pessoas sairão do teatro transformadas após vivenciarem as marcantes histórias da peça. A realização de ‘Angu’ é um convite ao futuro, em que ninguém mais será impedido de buscar e expressar livremente suas individualidades, afetos e sonhos”, destaca Victor D’Almeida, gerente de cultura do Oi Futuro.

Futuros – Arte e Tecnologia

Inaugurado há 18 anos com a proposta de democratizar o acesso a experiências de arte, ciência e tecnologia, o centro cultural Futuros – Arte e Tecnologia tem a Oi como fundadora e principal mantenedora. Em abril de 2023, sob a chancela do Oi Futuro, o equipamento cultural se abriu a novos parceiros: EY, Eletrobras Furnas e BMA Advogados são os primeiros patrocinadores anunciados pela instituição.

Com programação diversa que aposta na convergência entre arte contemporânea, ciência e tecnologia, Futuros recebe cerca de 100 mil visitantes por ano. O espaço abriga galerias de arte, um teatro multiuso, um bistrô e o Musehum – Museu das Comunicações e Humanidades, que detém um acervo de mais de 130 mil peças históricas sobre as comunicações no Brasil. O Musehum promove experiências imersivas e interativas que convidam a refletir sobre o impacto das tecnologias nas relações humanas.

As galerias do centro cultural já foram ocupadas por expoentes internacionais de diversas vertentes, como Andy Warhol, Nam June Paik, Tony Oursler, Jean-Luc Godard, Pierre et Gilles, David Lachapelle, Chantal Akerman; e brasileiros como Luiz Zerbini, Rosângela Rennó, Daniel Senise, Lenora de Barros, Iran do Espírito Santo, Arthur Omar, Marcos Chaves e outros. Nas artes cênicas, o espaço foi palco de espetáculos inéditos e premiados de Felipe Hirsh, Gerald Thomas, Enrique Diaz, Antonio Abujamra, Denise Stoklos, Victor Garcia Peralta, Aderbal Freire, João Fonseca e outros.

Com quase duas décadas de trajetória, Futuros – Arte e Tecnologia também sediou diversos eventos de destaque na cena cultural carioca, incluindo Festival do Rio, Panorama de Dança, FIL, Multiplicidade, Novas Frequências e Tempo_Festival, sendo os três últimos especialmente concebidos para a instituição.

FICHA TÉCNICA:

Idealização: Alexandre Paz e Nina da Costa Reis
Dramaturgia e Direção: Rodrigo França
Diretor Assistente: Kennedy Lima
Elenco: Alexandre Paz e Orlando Caldeira
Stand in e Assistente de Direção: João Mabial
Direção de Movimento e Preparação Corporal: Tainara Cerqueira
Direção de Imagens e Operação de Vídeo: Carol Godinho
Cenário: Clebson Prates
Figurino: Tiago Ribeiro
Costura: Ateliê das Meninas – Maria
Visagismo: Diego Nardes
Cabelo: Lucas Tetteo
Trilha Sonora: Dani Nega
Iluminação: Pedro Carneiro
Operação de Luz: Thayssa Carvalho
Operação de Som: Igor Borges
Contrarregragem: Wil Thadeu
Fotos, Vídeo e Programação Visual: Charles Pereira
Mídias Sociais: Júlia Tavares
Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Comunicação | Bruno Morais e Gisele Machado
Administração Financeira e Prestação de Contas: eLabore.Kom | Kirce Lima
Coordenação de Produção: Alexandre Paz e Orlando Caldeira
Produção: MS Arte e Cultura
Assistentes de Produção: Igor Borges e Wil Thadeu
Produção Executiva: Anne Mohamad
Direção de Produção: Aline Mohamad
Realização: Emú Produções
Direção Executiva: Sol Miranda
Coordenação: Carolina Silva
Administrativo/Contábil: Maria Andrade

SERVIÇO:

Peça teatral “Angu”

Futuros – Arte e Tecnologia

Endereço: Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo – Rio de Janeiro

Temporada: 16 de novembro a 17 de dezembro, de quinta-feira a domingo

Horário: 20h

Classificação Indicativa: 14 anos
Duração: 80 minutos
Ingressos: R$ 60 (inteira) | R$ 30 (meia)

Link para compra de ingressos: https://bileto.sympla.com.br/event/88850/d/226702/s/1532006

*Dias 18 de novembro e 2, 9 e 16 de dezembro, sessões duplas às 17h e 20h
** Dia 25 de novembro, sessão antecipada para 17h
*** Dia 8 de dezembro não haverá sessão

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