A BYD consolidou nesta semana uma quebra de paradigma na indústria automotiva global ao demonstrar a viabilidade prática de seu sistema de recarga ultrarrápida. Em testes recentes realizados com o sedã Han L e o SUV Tang L, a montadora registrou picos de 746 quilowatts (kW), permitindo que os veículos recuperem 400 quilômetros de autonomia em um intervalo de apenas cinco minutos. A marca supera com folga os atuais padrões de mercado, incluindo a rede Supercharger da Tesla, e posiciona a infraestrutura elétrica em um patamar de conveniência comparável ao reabastecimento de veículos a combustão interna.
O avanço técnico sustenta-se na nova arquitetura “Super e-Platform”, a primeira do mundo produzida em massa com domínio total de 1.000 volts. Diferente das plataformas convencionais de 400V ou 800V, a engenharia da BYD permite a manipulação de correntes que chegam a 1.000 amperes. Segundo o CEO da companhia, Wang Chuanfu, o objetivo estratégico é eliminar definitivamente a “ansiedade de carregamento”, fator que ainda atua como a principal barreira psicológica para a migração em massa de consumidores para a mobilidade eletrificada.
No cenário nacional, o Brasil foi confirmado como o primeiro país das Américas a receber essa infraestrutura de ponta. A BYD anunciou em novembro de 2025 o plano de instalar 800 unidades do chamado “Flash Charging” em território brasileiro nos próximos 12 meses. A medida visa não apenas suportar a frota crescente da marca no país, mas estabelecer um novo padrão de serviço em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, onde a demanda por soluções de carregamento rápido em ambientes urbanos e rodoviários tem crescido de forma exponencial.
Engenharia de mil volts e a revolução do carbeto de silício
A base tecnológica para atingir 746 kW de potência real reside na integração de chips de potência de carbeto de silício (SiC) de próxima geração, capazes de operar com níveis de tensão de até 1.500V. Esses semicondutores permitem uma eficiência térmica superior, reduzindo as perdas de energia durante a transferência de alta potência. O resultado é um sistema que entrega aproximadamente dois quilômetros de autonomia por segundo de conexão, superando as limitações físicas que anteriormente causavam o superaquecimento das células de bateria em recargas extremas.
Complementando o hardware de potência, a fabricante introduziu a “Flash Charging Battery”, uma evolução da célebre Blade Battery. Através da construção de canais de íons ultrarrápidos e uma reengenharia química que reduziu a resistência interna das células em 50%, a bateria suporta taxas de carga de até 10C. Na prática, essa densidade técnica significa que o veículo pode carregar de 10% a 70% de sua capacidade total em menos de cinco minutos, sem comprometer a integridade estrutural ou a vida útil dos componentes a longo prazo.
Além da velocidade, a BYD apresentou o primeiro motor elétrico de produção em massa capaz de atingir 30.000 RPM. Este componente, integrado à Super e-Platform, trabalha em harmonia com o sistema de alta voltagem para oferecer não apenas recarga rápida, mas uma eficiência energética global superior. A redução de peso e tamanho do motor, aliada ao gerenciamento térmico por resfriamento líquido nos terminais de carga, garante que o pico de 746 kW seja mantido por períodos mais longos durante a curva de carregamento, otimizando o tempo total de permanência na estação.
Impacto econômico e a expansão da infraestrutura no Brasil
O anúncio da instalação de 800 supercarregadores no Brasil representa um investimento direto na infraestrutura energética nacional e sinaliza uma mudança de patamar para o mercado local. Atualmente, a rede de recarga brasileira é composta majoritariamente por carregadores AC de baixa potência ou carregadores rápidos DC que variam entre 50 kW e 150 kW. A introdução de terminais de 1 megawatt (1.000 kW) coloca o país na vanguarda da mobilidade elétrica nas Américas, antecipando-se inclusive ao mercado dos Estados Unidos na implementação desta tecnologia específica da BYD.
A viabilidade econômica deste sistema está atrelada à estratégia de “estocagem de energia” (Energy Storage Systems). Como a demanda de 1 MW coloca uma pressão significativa sobre a rede elétrica local, as novas estações da BYD são projetadas para integrar baterias de escala industrial (como as de íon-sódio) que armazenam energia nos horários de menor consumo para liberá-la durante as sessões de recarga ultrarrápida. Esse modelo mitiga a necessidade de reformas estruturais massivas na rede de distribuição urbana, permitindo uma expansão mais ágil da rede Flash Charging.
Para o consumidor brasileiro, a chegada desta tecnologia impacta diretamente o valor de revenda e a utilidade dos veículos elétricos para viagens de longa distância. A possibilidade de adicionar 400 km de alcance no tempo de uma parada para café altera a lógica logística de transporte no país. Especialistas do setor indicam que a movimentação da BYD pressionará outras fabricantes, como GWM e montadoras tradicionais europeias, a acelerarem seus cronogramas de lançamento de modelos de alta voltagem e infraestrutura compatível para manterem a competitividade no crescente mercado nacional.
Raio-X
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Potência de pico demonstrada: 746 kW.
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Potência máxima nominal: 1 Megawatt (1.000 kW).
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Taxa de recarga: Até 2 km de autonomia por segundo.
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Arquitetura elétrica: Super e-Platform 1.000V de alta tensão.
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Tempo de carga (10-70%): Aproximadamente 4 minutos e 40 segundos.
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Previsão para o Brasil: 800 supercarregadores em 12 meses (início em nov/2025).
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Modelos compatíveis iniciais: BYD Han L e BYD Tang L.
Serviço
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Empresa: BYD Brasil.
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Tecnologia: Megawatt Flash Charging / Super e-Platform.
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Disponibilidade: Em implementação nas principais capitais e eixos rodoviários.
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Localização de carregadores: Disponível via aplicativo BYD Recharge.
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Investimento global: Meta de 6.000 estações ultrarrápidas nos próximos anos.