No alto do Morro da Formiga, na Tijuca, Rio de Janeiro, Marco Aurélio, então com 17 anos, via os limites do mundo ao seu redor. As vielas e as ladeiras da comunidade eram o cenário de sua rotina, marcadas pela monotonia e pela violência, realidades que encurtavam seus horizontes. Mas algo extraordinário estava por vir: um encontro que mudaria sua percepção da vida, conduzindo-o ao universo do Circo Escola, onde encontrou não apenas uma profissão, mas um propósito.
“A mesmice me incomodava. Sempre ouvia falar da grande cidade lá embaixo, mas não tinha acesso a ela. As ruas não eram para mim, desde pequeno aprendi isso. Mas quando vi aqueles jovens no circo, algo me chamou. Aquilo parecia surreal. Era liberdade,” relembra Marco.
O primeiro contato, no entanto, foi confuso. Sem saber exatamente o que buscava, ele se jogou na novidade. Entre teatro, percussão e as técnicas circenses, começou a desenvolver não apenas habilidades, mas também a entender que aquele espaço era mais do que treino. “Cada salto, cada movimento me libertava. O circo não era só técnico, era social. Me ensinou a me conectar comigo mesmo e com outras pessoas.”
Um Processo de Descoberta
A transformação foi gradual. Aos poucos, Marco começou a perceber que a vivência no circo lhe oferecia algo que sua realidade até então não proporcionava: direção e segurança. Ele aprendeu a andar pelas ruas com mais confiança, a lidar com os medos, e, acima de tudo, a enxergar possibilidades.
Dois anos depois de entrar no projeto, ele foi convidado para integrar um grupo de jovens que não apenas treinavam, mas se apresentavam profissionalmente. “Foi ali que percebi meu potencial. Eles viram em mim algo que eu mesmo não via. E, juntos, construímos um caminho.”
O Circo como Ferramenta de Transformação Social
Hoje, Marco é mais do que um artista circense; é um multiplicador, alguém que encontrou no circo uma forma de transformar vidas. Ao longo de sua trajetória, ele participou da implementação da metodologia do circo social em diversas comunidades do Rio de Janeiro, impactando diretamente centenas de jovens. “A transformação acontece sem que o outro perceba. É um processo coletivo, baseado na vivência e no diálogo.”
Como facilitador, Marco ajudou a construir espaços de convivência onde jovens podem sonhar e se redescobrir. Ele acredita que o maior impacto do circo social é permitir que as pessoas questionem suas realidades e compreendam que têm potencial para muito mais. “O circo ensina que o mundo é maior do que seu território. Ele provoca inquietações e dá voz a quem nunca teve.”
Missão e Sonho
Atualmente, Marco lidera a implantação do circo social no programa Cultura na Faixa. Sua missão é expandir o alcance desse trabalho, levando a magia e o impacto do circo a mais comunidades periféricas. Mas os desafios são muitos: a captação de recursos e as limitações institucionais são barreiras constantes. Ainda assim, Marco se mantém otimista.
“Meu maior sonho é ver mais jovens vivenciando essa experiência libertadora. O circo social não é apenas sobre técnicas, mas sobre dar voz, construir consciência crítica e empoderar. Trabalhamos duro para que isso chegue mais longe, porque acreditamos no poder transformador da arte.”
Uma Inspiração Viva
A história de Marco Aurélio é uma prova de que a arte tem o poder de mudar vidas. Do garoto que via a cidade à distância ao homem que hoje ajuda a construir futuros, ele encontrou no circo mais do que um palco: encontrou um espaço de pertencimento, liberdade e transformação.
“Minha missão é mostrar que podemos nos libertar das nossas dificuldades. No circo, descobri que sou capaz de ser o que quiser. E é isso que quero levar a outros jovens: a certeza de que eles também podem.”
