Silvero Pereira faz temporada gratuita de “Pequeno Monstro” no Rio de Janeiro

(12/09) Silvero Pereira faz temporada gratuita de "Pequeno Monstro" no Rio de Janeiro

Após estrear no Rio de Janeiro em maio e seguir para São Paulo e Fortaleza com apresentações lotadas, ‘Pequeno Monstro’ retorna à cidade para uma temporada totalmente gratuita no Espaço Sérgio Porto, de 12 a 22 de setembro.

A ideia inicial do espetáculo surgiu há sete anos, quando Silvero Pereira começou a acompanhar algumas histórias de crianças LGBTQIA+ e identificou semelhanças com episódios vividos na sua própria infância. Após uma longa pesquisa, ele retornou à sala de ensaio — depois de 12 anos da criação de seu último sucesso no teatro –, para iniciar o processo de criação da peça em parceria com a diretora Andreia Pires, sua colega na faculdade de Artes Cênicas, nos anos 2000, em Fortaleza.

Em cena, Silvero embaralha suas referências literárias e musicais com matérias jornalísticas e memórias pessoais e de pessoas diversas, quando passeia por lembranças da infância no interior do Ceará e por uma juventude turbulenta.

Ao resgatar vivências relacionadas à sexualidade e gênero, ele ironiza e denuncia práticas relacionadas ao machismo estrutural e à homofobia, duas condutas comportamentais normalizadas socialmente que agridem, traumatizam e condenam destinos.

‘Uso a minha história como fio condutor e ponta de um iceberg, e me coloco como escudo para outras histórias aqui relatadas. Essa fragmentação de histórias pessoais, ficcionais e de terceiros serve justamente para enfatizar que não se trata de exceção, de classe ou de um lugar, é um problema social grave e que precisa de ações efetivas’, reflete o ator e autor.

‘Pequeno Monstro’ segue a mesma estrutura dramatúrgica adotada por Silvero em seus trabalhos passados como dramaturgo, em que também observava um panorama composto por diversas referências e influências. O intérprete ressalta ainda que a intenção é justamente provocar reflexões através da potência artística da montagem:

‘Estamos fazendo uma peça de teatro, uma obra artística, não necessariamente um manifesto. Nossa função, como artistas, é trazer o tema com seriedade e a responsabilidade que ele exige, mas também atentar ao potencial estético e narrativo que servirão como alegorias para que a aproximação com o público ocorra dentro da liturgia do teatro’, conta Silvero, cuja performance em ‘Pequeno Monstro’ inclui números musicais, como a canção ‘Fera Ferida’, de Roberto e Erasmo Carlos. 

O projeto reflete sobre a realidade brasileira no que diz respeito à violência contra as populações LGBTQIA+ e todos os trágicos recordes de assassinatos que o Brasil acumula. ‘Estamos mais violentos, mas isso não se localiza somente neste tempo do agora, é mais profundo, se trata de um país historicamente violento desde sempre e que precisa de atenção, denúncia e busca por soluções’, analisa.

O espetáculo marcou ainda a volta de Silvero Pereira ao teatro desde a estreia de ‘BR Trans’, em 2012. Neste hiato de tempo, ele foi catapultado para o sucesso em projetos audiovisuais e experimentou diversas temporadas bem-sucedidas do monólogo. Recentemente, ele enfileirou hits, com suas participações em novelas (‘A Força do Querer’, ‘Pantanal’), longas-metragens (‘Bacurau’) e programas como o ‘The Masked Singer Brasil’, em que foi o vencedor da última temporada. Atualmente, ele apresenta o reality ‘Estrela da Casa’ e se prepara para a estreia do longa-metragem ‘O Maníaco do Parque’, em que protagoniza. No entanto, ele não abandonou os palcos por completo e estreou recentemente um show com a obra de Belchior.

‘Voltei ao teatro um tanto preocupado se ainda me sentia um ator de teatro. Sou formado em artes cênicas e com 25 anos de carreira dedicados aos palcos, mas por conta da demanda audiovisual me senti um tanto “enferrujado” e com a certeza de que nenhum ofício se vale pelo talento, mas sim pelo estudo e dedicação. Foi necessário recusar novos trabalhos no audiovisual para uma dedicação quase que totalmente exclusiva para o ‘Pequeno Monstro’, refazer treinos de corpo, voz e imaginação para construir um processo criativo que muito exigia de mim como ator, autor e artista’, conta Silvero.

Para a empreitada, ele se reuniu novamente com Andréia Pires, sua colega na faculdade de Artes Cênicas, com quem chegou a participar de um grupo de teatro juntos. Não à toa, eles ensaiaram todo o solo em Fortaleza, onde chegaram a fazer alguns ensaios abertos para o público. 

‘No processo de criação, foi muito bonito ver o corpo do Silvero na sala de ensaio porque ele é um ator que potencializa tudo que já está ali no corpo dele. Ele já tinha uma dramaturgia erguida, organizada ali num texto escrito, mas isso foi se moldando e se modificando. Eu estou ali com o Silvero no trabalho dele. É como se eu estivesse entrando numa casa que não é minha, mas eu fui entrando e fui me sentindo em casa. Então eu fui acompanhando, fui observando, fui gerando perguntas… Acho que a gente conseguiu chegar num trabalho que conversa com a linguagem do Silvero, uma dramaturgia fragmentada, atravessada de muitas questões, e também pela minha dramaturgia cênica, onde eu observo ali composições com materialidades e com o corpo’, conta Andreia.

Este olhar amigo, confiante e extremamente responsável da diretora foi fundamental neste projeto que obrigou o ator a fazer uma busca por sua ancestralidade e ir fundo atrás de histórias familiares nem sempre muito confortáveis:

“As conversas com meus familiares me causaram uma nova percepção de mundo e renderam diversas justificativas para os caminhos que tomei hoje como adulto. Esse processo foi um resgate e uma renovação na minha formação pessoal e profissional’, reflete o ator, cuja percepção é reforçada pela diretora: “A gente viu também nascer ali na sala de ensaio um espetáculo que traz para o centro da discussão a infância, a paixão, a magia e, ao mesmo tempo, a violência. Como que o amor e a violência fazem parte do mesmo trabalho, do mesmo lugar, do mesmo jeito que a gente vê a vida. E, através do Silvero, a gente vê inúmeras outras coisas’.

A produção de ‘Pequeno Monstro’ é da Quintal Produções, de Valencia Losada e Verônica Prates, produtora que há 15 anos atua nas áreas do teatro, dança e humanidades na cidade do Rio de Janeiro, e que tem em seu portfólio espetáculos como Lady Tempestade, Nara, Teoria King Kong, Cérebro_Coração e BR-Trans.

O projeto é contemplado pelo edital Pró-Carioca, programa de fomento à cultura carioca, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Cultura.

Sinopse

Pequeno Monstro adentra o universo das violências reais e simbólicas marcadas nas existências de pessoas homossexuais. Neste solo, Silvero Pereira nos coloca diante da nossa própria inabilidade ao relatar episódios de homofobia e bullying sofridos, desde a infância, pelas pessoas com comportamentos consideradas desviantes da norma. O título da peça, inspirada num conto do escritor Caio Fernando Abreu, indica o estranhamento, as misérias cotidianas, mas também nos aponta caminhos de liberdade, superação e amor.

PEQUENO MONSTRO | Ficha Técnica

  • Direção: Andreia Pires
  • Dramaturgia e atuação: Silvero Pereira
  • Cenografia: Dina Salem Levy
  • Desenho de luz: Sarah Salgado e Ricardo Vivian
  • Desenho de som: Arthur Ferreira
  • Criação audiovisual : Alice Cruz
  • Trilha sonora original: Wallace Lopes
  • Figurinista: Kallil Nepomuceno
  • Assistência da cena: Tina Reinstrings e Juracy Oliveira
  • Assistente de operação: Gabriel Salsi
  • Operador de luz: Walace Furtado
  • Operadora de som e projeção: Luana Della Crist
  • Coordenador de palco: Iuri Wander
  • Cenotécnica: Michele Souza e Walquer Sobral | MW Serviços Cenotécnicos Ltda
  • Consultoria de acessibilidade: Cristiane Muñoz 
  • Assessoria de comunicação: Pedro Neves
  • Social media: Ricardo Oliveira
  • Designer gráfico: Karin Palhano
  • Fotos: Tainá Cavalcante 
  • Quintal Produções
  • Direção de produção: Verônica Prates
  • Coordenação de projetos: Valencia Losada
  • Produção executiva: Camila Camuso
  • Assistente de produção: Dandara Lima

Serviço

  • De 12 a 22 de setembro de 2024
  • Quintas, sextas e sábados às 20h
  • Domingos às 19h
  • Sessões extra com acessibilidade (interprete de libras) sábados e domingos (14,15, 21 e 22.09) : às 17h
  • Espaço Cultural Municipal Sergio Porto
  • Rua Humaitá 163 – Humaita
  • Lotação: 98 lugares
  • Sessões gratuitas (retirada de senha no local uma hora antes)
  • Classificação: 18 anos
  • Duração: 60 minutos
  • * O espetáculo contará com uma sala de regulação sensorial para acolher pessoas neurodivergentes.