Há um ano, a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), uma das mais antigas e tradicionais do Brasil, criou a Política de Acessibilidade Pedagógica (PAP) aos alunos diagnosticados com transtornos globais do desenvolvimento na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Além de pioneira, esta é a única iniciativa com esse propósito realizada na educação superior em todo o país. É neste mesmo cenário, no número 95 do Largo de São Francisco, no Centro de São Paulo, que será realizado, de 29 a 31 de março, o II Simpósio Internacional de Inclusão no Ensino Superior – O Direito à Diferença.
O Simpósio, promovido pela Associação Nacional para Inclusão das Pessoas Autistas (ANIA/BR) vai reunir especialistas de universidades de diversos países e pessoas com deficiência para um debate sincero e atual, através de mesas redondas e palestras sobre o autismo e sua relação com a sociedade brasileira.
Embora seja um direito garantido por lei, no Brasil, a inclusão de pessoas com deficiência no ensino superior ainda é alvo de muita discriminação e preconceito, o que acaba dificultando o acesso e a permanência desses estudantes. Para mudar essa prática, é preciso que, antes de mais nada, haja informação qualificada para a sociedade e, que, paralelamente, sejam criadas políticas públicas e práticas que garantam a acessibilidade e a adaptação dos espaços e recursos educacionais.
“Para incluir pessoas autistas e com deficiências na escola e na universidade é fundamental compreender e valorizar os pontos fortes de cada sujeito. É muito comum termos oferta de terapias caríssimas e predatórias e abordagens pedagógicas desconectadas da realidade que buscam corrigir nossas diferenças ao invés de potencializar nossos talentos e habilidades. Devemos nos concentrar nos pontos fortes dos alunos e não em suas fragilidades. Investir na formação continuada dos professores e no diálogo acerca do tema é o único modo de romper as barreiras do preconceito e da exclusão. Não adianta gastar fortunas em aparelhos e não investir nas pessoas.” – explica o pesquisador de Educação Inclusiva, Guilherme de Almeida, presidente da ANIA/BR, de 40 anos, que se descobriu autista aos 37.
Perguntado sobre a inserção profissionais de saúde no ambiente escolar, Guilherme é taxativo “Escola não é hospital, não é lugar de tratamento, mas de aprendizagem, de humanização, de socialização, de troca! É lugar de superação dos desafios intelectuais, afetivos e cotidianos. É para isso que as instituições de ensino devem se preparar, para cumprir seu papel pedagógico em relação à todas as pessoas, sejam autistas ou não, é o que prevê os tratados internacionais de direitos humanos que o Brasil é signatário, a Lei Brasileira de Inclusão e a Constituição Federal de 1988. Quem faz diferente trapaceia a educação!”
Durante os três dias, serão abordados temas como:
– Oferecimento de suporte e orientação: É importante que as universidades ofereçam suporte e orientação para estudantes autistas desde o processo de candidatura até a conclusão do curso. Isso pode incluir orientação sobre recursos disponíveis, como acomodações, suporte emocional e acadêmico e outras adaptações necessárias.
– Adaptações curriculares: As universidades devem ser flexíveis em relação às adaptações curriculares para estudantes autistas, como permitir que usem tecnologia assistiva e outras ferramentas que possam ajudá-los a acompanhar o conteúdo.
– Adaptações ambientais: Os ambientes universitários podem ser sensorialmente sobrecarregantes para estudantes autistas. As universidades podem fornecer adaptações ambientais, como salas de estudo silenciosas ou com baixa luminosidade e áreas designadas para descanso e relaxamento.
– Formação de professores e funcionários: Professores e funcionários das universidades devem receber formação sobre como apoiar estudantes autistas e fornecer as adaptações necessárias. Isso pode incluir treinamento em comunicação eficaz, compreensão das necessidades individuais de cada aluno e a capacidade de adaptar as estratégias de ensino.
– Comunidade de apoio: As universidades podem fornecer uma comunidade de apoio para estudantes autistas, incluindo grupos de apoio, orientação profissional e oportunidades de mentoria.
– Inclusão em atividades extracurriculares: As universidades devem incentivar a participação de estudantes autistas em atividades extracurriculares, como clubes e organizações estudantis, para que possam se integrar à comunidade acadêmica. Ao implementar essas sugestões, as universidades podem ajudar a garantir que estudantes autistas possam acessar e permanecer no ensino superior e ter sucesso acadêmico.
O simpósio acontecerá em formato híbrido, com certificação de 36h emitida pela Faculdade de Direito da USP em conjunto com Associação Nacional para Inclusão das Pessoas Autistas e terá transmissão simultânea pelas redes sociais da associação. As inscrições serão feitas pelo Sympla através do link https://www.sympla.com.br/evento/ii-simposio-internacional-de-inclusao-no-ensino-superior-o-direito-a-diferenca/1878204
Sala de Acomodação Sensorial
A sensibilidade aos estímulos e sentidos aguçados são uma característica forte do autismo. Estar em um ambiente harmonicamente projetado para acalmar esses estímulos é uma importante válvula de escape para momentos de cansaço e estresse.
Pensando nisso, foi planejada uma Sala de Acomodação Sensorial, oferecida pela Clínica Ludens e pela Spider, que ficará disponível para o uso de todos os presentes durante o simpósio.
Selo Todos Nós
No último dia do evento, será lançado o selo de certificação “Todos Nós”. O selo tem o objetivo de atestar que uma organização ou instituição se compromete com determinados requisitos e critérios relacionados à promoção da inclusão de pessoas com deficiência e condições como o autismo. Esse selo pode ser utilizado para demonstrar publicamente o compromisso da organização com a inclusão e para diferenciá-la das demais organizações.
Ao conquistar o selo de certificação, a organização pode ser reconhecida como uma referência em práticas inclusivas, o que pode impactar positivamente a sua imagem e reputação.
Sobre a ANIA
Idealizada em 2022, a ANIA/BR busca informar, conscientizar e mobilizar a sociedade para a importância da inclusão das pessoas autistas em todos os aspectos da vida, como a educação, o trabalho, a saúde, a cultura e o lazer.
A associação trabalha em parceria com outras organizações, tanto no Brasil quanto no exterior, para promover a inclusão das pessoas com autismo e influenciar políticas públicas que levem em conta as necessidades específicas dessa população. A entidade oferece suporte e orientação para pessoas autistas, além de desenvolver projetos e programas de conscientização e formação para profissionais da área.
A Associação Nacional também promove eventos e campanhas de conscientização sobre o autismo, buscando desmistificar preconceitos e estereótipos em relação às pessoas com essa condição. A entidade é composta por pessoas com autismo, suas famílias e profissionais da área, todos engajados na luta por uma sociedade mais inclusiva e acolhedora.
Programação do evento:
Guilherme de Almeida – (Presidente da Associação para Inclusão de Pessoas Autistas)
Educação como Direito e o Direito à Educação: a pedagogia humanizadora como instrumento de inclusão
Professor Dr. Cesar Nunes (PAIDEIA/FE/UNICAMP)
O Sentimento de Inadequação de Jovens e Adultos na Contemporaneidade
Prof. Me. André Torres (PAIDEIA/FE/UNICAMP)
Intersecções: mulher, mãe, preta e autista
Palestrante: Gabriela Guedes (Jornalista)
O Direito à Saúde e ao Bem-estar: o potencial da Cannabis Medicinal para tratamento de pessoas autistas e com síndromes raras
Palestrante: Dr. Vinícius Barbosa (Hospital Sírio-Libanês)
Educação Inclusiva no Ensino Superior: a Experiência na União Européia
Palestrante: Profª. Drª. Anabel Moriña (Universidade de Sevilha)
A Filosofia da Diferença e o Identitarismo: contradições e aproximações possíveis
Palestrante: Prof. Dr. Silvio Gallo (Universidade de Sevilha)
Educação Inclusiva como Direito Humano e Fundamental
Palestrante: Prof. Dr. André de Carvalho Ramos (USP)
Seminário XIV: 120 Anos de Portinari: a Emancipação pela Arte
Palestrante: Prof. Dr. João Candido Portinari (MIT)
O Desafio da Construção de Políticas Públicas Inclusivas em Âmbito Federal
Palestrante: Naira Rodrigues Gaspar (Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania)