As sobremesas deixaram de ser apenas o último item do menu e passaram a ocupar uma posição estratégica nas mesas de fim de ano. Em vez de uma escolha feita apenas pelo sabor, ganham peso fatores como aparência, composição, embalagem e coerência visual com o restante da mesa. Em jantares e ceias mais elaboradas, elas se tornaram um dos elementos mais fotografados (e postados!) da celebração.
O chef e empresário Glauber Britto, dono da Odara, boulangerie de Petrolina (PE) e formado pelo Instituto Le Cordon Bleu, observa esse movimento de perto. “Hoje o visual pesa muito, principalmente no primeiro contato. A foto bonita é o que faz a pessoa parar, clicar, salvar, mandar no grupo e decidir experimentar. O ‘instagramável’ virou quase um cartão de visita da sobremesa.”
Tendência da mesa de 2025/2026
Segundo Glauber, a tendência para 2025 e 2026 aponta para uma estética menos exagerada e mais ligada à naturalidade dos ingredientes e dos materiais. “Vejo um híbrido bem forte: artesanal sofisticado, cara de feito à mão, mas com acabamento limpo; minimalismo com propósito, menos elementos no prato, mas cada um com função clara; e cores mais naturais: tons terrosos, vermelhos mais fechados, verdes mais ‘orgânicos’, misturados aos clássicos dourados de fim de ano.”
Mesmo diante dessa valorização do visual, ele considera que há um limite claro. “Nunca sacrificar sabor e textura só para ficar bonito na foto. Se a sobremesa é fotogênica, mas não emociona ao comer, ela é um produto de marketing, não de gastronomia.” Para ele, o visual deve estar alinhado à experiência. “A estética deve contar a história do que a pessoa vai sentir na boca. Quando o visual promete uma coisa e o sabor entrega outra, há uma quebra de confiança.”
O que se vê nas mesas de 2025, portanto, é menos excesso e mais intenção. A sobremesa deixa de ser apenas o encerramento de uma refeição e passa a ocupar um lugar de linguagem estética, sem abandonar sua função principal.
Beleza não sustenta o cliente
A força da imagem, no entanto, não garante fidelidade. Segundo ele, essa decisão é momentânea e precisa ser sustentada pela experiência real. “Na prática, o que eu vejo é: o visual vende a primeira vez, o sabor vende a segunda. Se a pessoa posta, ganha like, mas na hora de comer não se surpreende, ela não volta e não indica. Então, para mim, a estética é uma ferramenta de comunicação e desejo, mas o sabor continua sendo o que sustenta o negócio a longo prazo.”
Na criação, o ponto de partida continua sendo a construção sensorial. “Eu começo sempre pelo sabor e pela experiência que quero causar: crocância, cremosidade, acidez, conforto, memória afetiva… isso vem antes.”
A preocupação estética, porém, já faz parte dessa etapa inicial. “Hoje é impossível separar completamente. Enquanto penso no sabor, já imagino formato, altura, corte, cor, como vai ficar na vitrine e na foto.”
Nem toda receita consegue cumprir bem as duas funções, estética e técnica. Há sobremesas que funcionam no paladar, mas apresentam dificuldades na apresentação.Nessas situações, ele opta pelo ajuste ou até pela retirada do cardápio principal. “Eu tento ajustar: mudo formato, finalização, louça, decoração. Se mesmo assim não ‘conversa’ com o olhar do cliente, eu prefiro segurar a ideia ou reaproveitá-la em outro formato.”
A estética das festas ganha protagonismo
No fim de ano, essa demanda cresce. Ceias, confraternizações e encontros familiares são registrados em fotos e vídeos, o que reforça a busca por apresentações mais impactantes. “É a temporada do ‘fotogênico’: mesa posta, ceia, presentes, tudo vai parar em foto e vídeo. As pessoas querem sobremesas que ‘façam bonito’ na mesa da família e nas redes sociais.”
Há também o fator simbólico das datas. “Fim de ano tem muito simbolismo: brilho, dourado, vermelho, verde, laços, fitas, algo que pareça especial. Então a expectativa visual sobe.”
Embalagens que fazem parte da experiência
A embalagem deixou de ser apenas proteção e passou a influenciar diretamente a decisão de compra. “Eu penso na embalagem junto com o produto, não depois. Avalio três pontos: proteção, identidade e custo. A sobremesa precisa chegar inteira, a embalagem tem que conversar com a marca e não pode inviabilizar o preço final.”
O cuidado inclui o cálculo preciso de custos. “O custo da embalagem entra na ficha técnica. Se eu percebo que uma embalagem está pesando demais, eu ajusto: troco material, simplifico detalhes ou deixo essa versão ‘premium’ para uma linha específica, com preço compatível. O equilíbrio é fazer o cliente sentir valor, não só pagar por algo que ele não entende de onde vem.”
Glauber Britto e Odara nas redes:
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