Soprano ítalo-brasileira Carla Cottini integra elenco de ópera inédita no Festival de Música Erudita do Espírito Santo

Depois de revisitar os palcos do Theatro Municipal de São Paulo e do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a cantora celebra o reencontro com Eliane Coelho, uma de suas mestras, na montagem de A Profissão da Senhora Warren, adaptação de Mauricio De Bonis para a comédia dramática de Bernard Shaw

por Redação
Carla Cottini

A soprano ítalo-brasileira Carla Cottini, radicada em Berlim desde 2019, dá segmento a uma temporada marcada por recitais e óperas no Brasil com um marco simbólico: sua participação no Festival de Música Erudita do Espírito Santo, no qual interpreta a personagem Vivie em A Profissão da Senhora Warren, uma adaptação operística, inédita em português, para a comédia dramática de Bernard Shaw.

Destaque da abertura do festival, em 7 de novembro, às 20h, no Teatro Sesc Glória — com reapresentação no dia 9 —, o espetáculo em quatro atos com a Orquestra Sinfônica do Espírito Santo, sob a regência do maestro Gabriel Rhein-Shirato, que também assina a direção artística do evento, marca o reencontro da intérprete com Eliane Coelho, uma de suas grandes mestras e uma das vozes mais aclamadas da ópera brasileira de todos os tempos.

“Será uma honra dividir o palco com Eliane. Possivelmente criaremos novos vínculos através de minha recente experiência com a maternidade, porque viveremos mãe e filha. Tenho também uma relação especial com o maestro Gabriel e a Livia Sabag (diretora artística e cênica). Acho realmente importante a criação de espaços artísticos como o deste festival, que ocorre fora do eixo tradicional das grandes capitais. É fundamental que a arte possa ser oferecida ao público em todo o país”, defende Carla.

Com libreto assinado por Eliane, Livia e Rhein-Shirato, a montagem de A Profissão da Senhora Warren foi idealizada no Núcleo de Criação de Ópera do festival, que convidou o pianista Maurício De Bonis para compor a música inédita da ópera, vertendo em poemas e canções a peça escrita em 1893 por Bernard Shaw, dramaturgo irlandês que é também o autor de Pygmalion, comédia dramática que inspirou a criação de outro clássico interpretado por Carla, o musical My Fair Lady, adaptado por Frederick Loewe com libreto de Alan Jay Lerner.

Ao comentar o desafio artístico da nova produção Carla reflete sobre a complexidade da preparação coletiva de uma ópera: “Nesse processo, descobrimos juntos as notas, os ritmos, os tempos, o texto. Quando esse esforço de grupo envolve um clássico, uma ópera consagrada que foi cantada inúmeras vezes, frequentemente voltamos para as tradições, as referências consolidadas ao longo de séculos e os cantores e cantoras que a gente mais admira, mas, neste caso, a peça esta sendo criada por todos nós que construímos juntos a música no presente momento. É especial”, explica.

Nesse sentido, a experiência de interpretar Vivie em A Profissão da Senhora Warren amplia o repertório contemporâneo de Carla. “O estudo dessa ópera tem me trazido o prazer de descobertas”, avalia. Esse é o segundo trabalho que a artista faz nesse segmento — o primeiro foi sua participação na ópera immmermeeehr, de Gordon Kampe, apresentada entre novembro e dezembro de 2024 na Deutshe Oper Berlin.

A participação no festival capixaba coroa uma temporada expressiva de retorno aos palcos brasileiros. Em maio, Carla revisitou a personagem Zerlina, em Don Giovanni, de Mozart, no Theatro Municipal de São Paulo, 12 anos após sua estreia profissional na casa. Em setembro, a soprano protagonizou um momento inesperado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, quando subiu ao palco na abertura do show 50 anos de Poesia, de Jorge Aragão, para interpretar Ave Maria, de Bach e Gounod, acompanhada por um quarteto de cordas, além da banda do sambista.

“Anos atrás, interpretei Ave Maria em dueto com o Jorge ao cavaquinho. A Tânia Aragão (filha do artista e produtora da turnê) ficou emocionada e me contou que essa música tinha um valor especial para sua família. Sabendo que eu estaria me apresentando no Brasil, Tânia me convidou para fazer essa surpresa para a plateia do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi um momento maravilhoso.”

Em 15 de outubro, a soprano se apresentou no Auditório Olivier Toni, do Departamento de Música da Universidade de São Paulo (USP), ao lado do pianista Ricardo Ballestero, seu parceiro regular de recitais, interpretando um repertório com clássicos de Debussy, Montsalvatge, Villa-Lobos e da compositora Helza Camêu, pianista e musicóloga cuja canção Saudade, uma adaptação do poema de Vicente de Carvalho, será em breve relançada por Carla e Ballestero em formato de single.

No dia 16 de novembro o duo volta ao palco do Festival Vermelhos para um recital em Ilhabela, no litoral norte paulista. De volta a Berlim, entre 24 e 28 novembro a soprano gravará com a Orchester des Wandels as Bachianas Brasileiras no. 5, de Heitor Villa-Lobos, obra que se tornou uma de suas marcas registradas. As sessões também incluirão uma gravação de Melodia Sentimental. Com poema de Dora Vasconcellos, a canção de 1958 — que integra a obra A Floresta do Amazonas — é uma das últimas composições de Villa-Lobos e foi comissionada pela Metro-Goldwin-Meyer para o filme Green Mansions (no Brasil, A Flor que Não Morreu), dirigido por Mel Ferrer e estrelado por Audrey Hepburn e Anthony Perkins.

“Fico contente quando tenho a oportunidade de cantar no Brasil, porque gosto de trazer para o meu país um pouco do que aprendo pelo mundo. O público brasileiro é caloroso e receptivo. Gosto de reencontrar colegas, de me conectar com pessoas que não conhecia, de conhecer novos talentos brasileiros”, conclui a soprano.

Carla Cottini

Com um repertório diversificado, Carla Cottini ganhou notoriedade ao interpretar personagens como Giulietta (I Capuleti e i Montecchi, Bellini), Susanna (Le Nozze di Figaro, Mozart), Gilda (Rigoletto, Verdi) e Musetta (La Bohème, Puccini). Sua presença em renomados teatros, como o Theatro Municipal de São Paulo, Teatro Regio di Parma e Berlin Opera Academy, reafirma sua excelência artística e versatilidade vocal. Além da ópera, Carla se destaca em concertos sinfônicos e música sacra, tendo se apresentado como solista em obras como a 9ª Sinfonia, de Beethoven, Krönungsmesse, de Mozart, e Gloria, de Vivaldi. Seu talento também a levou ao mundo dos musicais, interpretando papéis marcantes em produções como West Side Story, de Leonard Bernstein, e My Fair Lady, de  Frederick Loewe. Sua formação musical inclui um Mestrado em Ópera e Bacharelado em Música pelo Conservatório Superior de Música Joaquín Rodrigo de Valência, na Espanha, além de especializações na Berlin Opera Academy, na Alemanha, e no Britten-Pears Young Program, na Inglaterra. Saiba mais em: carlacottini.com/

SERVIÇO

A Profissão da Senhora Warren
Ópera em quatro atos inspirada na obra homônima de Bernard Shaw com direção musical de Gabriel Rhein-Shirato e direção cênica de Livia Sabag
Apresentações: 7 de novembro, sexta-feira, às 20h; 9 de novembro, domingo, às 18h.

Teatro Sesc Glória
Av. Jerônimo Monteiro, 428, Centro, Vitória – Espírito Santo
Ingressos em: festivaldemusicaerudita.com.br/evento/a-profissao-da-senhora-warren/

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