‘Talamasca: The Secret Order’ expande o Universo Imortal de Anne Rice com sociedade secreta em foco

Reprodução AMC+ / Montagem Ana Magal

Depois de Entrevista com o Vampiro conquistar crítica e público com 99% de aprovação no Rotten Tomatoes e As Bruxas de Mayfair dividir opiniões em 2023, o Universo Imortal de Anne Rice ganha sua terceira adaptação. Talamasca: The Secret Order estreou no dia 26 de outubro na AMC com dois episódios seguidos, trazendo para o centro da narrativa a misteriosa organização que já apareceu nas séries anteriores como elemento de conexão entre as tramas sobrenaturais.

A sociedade secreta que dá nome à nova produção é responsável por investigar, documentar e, quando necessário, neutralizar seres imortais como vampiros, bruxas, espíritos e outras criaturas que habitam o mundo dos mortais. 

Com estreia no Brasil prevista para ser na Prime Video, seguindo o mesmo caminho das outras adaptações, a série chega em um momento interessante para a franquia da AMC, que aposta na expansão desse universo compartilhado criado pela escritora estadunidense, que faleceu em 2021, com 80 anos devido a um AVC.

Confesso que tenho uma relação peculiar com o universo de Anne Rice. Por mais que eu seja apaixonada por terror e suspense, vampiros nunca me chamaram muito atenção. Por esse motivo, tanto o livro quanto a série (filmes, docs etc) Entrevista com o Vampiro não me conquistaram de cara. Tentei assistir à primeira temporada, mas desisti totalmente. Não adianta, não curto vampiros.

As Bruxas de Mayfair: quando Anne Rice falou comigo

Tudo mudou em 2023, quando decidiram lançar uma espécie de spin-off (não sei se posso de spin-off se ela não tem conexão uma com a outra, a não ser a mesma autora – digamos então ‘mesmo universo’) focada em bruxas. Aí sim, falou diretamente comigo! Sou completamente apaixonada por bruxarias e histórias em torno delas. Claro que não poderia ficar de fora e caí dentro de Mayfair Witches, e simplesmente AMEI.

Fiquei completamente viciada na trama, nos atores, na escolha da locação (tinha que ser New Orleans, não tinha como não ser, terra onde Rice nasceu). Porém, não me parecia muito Anne Rice, a não ser pelo pêndulo em comum entre as produções: a Ordem Secreta de Talamasca, que também aparece em Entrevista com Vampiro.

Muitos nem sabiam que Mayfair Witches tinha ligação direta com Entrevista com o Vampiro. A maioria foi descobrir isso só agora, com o lançamento da nova série. E sim, vale esclarecer: Entrevista com o Vampiro não foi cancelada. A série apenas vai mudar de nome para O Vampiro Lestat na terceira temporada, com previsão de retorno para 2026.

Talamasca: o elo que une tudo

Ainda estávamos embriagados com As Bruxas de Mayfair quando nos jogaram no colo Talamasca: The Secret Order. E é óbvio que as críticas vieram, assim como vieram com as Bruxas. Sei que tem aqueles que só gostam de Vampiros, e a percepção geral é clara: Mayfair levou muita crítica negativa, enquanto Entrevista com o Vampiro continua sendo a queridinha do público. 

Para mim seria o contrário, mas gostos são gostos, não se discute. Tem séries que me conquistam só depois de muitos episódios, como foi com Dexter e Task. Outras não me conquistam de jeito nenhum, mesmo sendo as mais amadas do mundo, como Friends, Lost e The Big Bang Theory, que eu ODEIO com todas as forças (antes que me ataquem: eu assisti todas as temporadas das três só para ter certeza de que odiava mesmo).

Voltando ao foco central do texto de hoje, a nova série da AMC acompanha a Talamasca, uma sociedade secreta dedicada a vigiar e, quando necessário, neutralizar seres sobrenaturais que povoam o Universo Imortal

O elenco da novata reúne nomes de peso: Jason Schwartzman (Três é Demais) interpreta um vampiro recluso, Celine Buckens (The Ex-Wife) vive uma bruxa, e completam o time Nicholas Denton (Glitch) como Guy, o protagonista da série; Elizabeth McGovern (Downton Abbey) como a líder da Casa Mãe de New York e recrutadora de Guy; William Fichtner (Prison Break) como o misterioso líder da Casa Mãe de Londres e Maisie Richardson-Sellers (Legends of Tomorrow) como uma agente sênior da Ordem.

Nicholas Denton foi escalado para o papel principal descrito como um personagem “brilhante, bonito e inteligente na superfície, mas que sempre soube que sua mente funciona de maneira um pouco diferente“. Guy, prestes a se formar em direito, é abordado por um representante da Talamasca e descobre que a organização o rastreia desde a infância.




 ATENÇÃO: A PARTIR DAQUI COMEÇAM OS SPOILERS DA SÉRIE




A recepção da crítica especializada

As críticas estão sendo majoritariamente negativas. Veículos especializados como Variety e Comenta Tech classificaram Talamasca como “decepcionante“, mais próxima em qualidade de Mayfair do que de Entrevista com Vampiro. A temporada de seis episódios é descrita como uma tentativa desconexa e confusa de transformar a sociedade secreta centenária em um thriller de espionagem sem entusiasmo.

Os pontos positivos ficam por conta das participações especiais de Eric Bogosian (o jornalista de Entrevista com Vampiro) que revisita seu personagem original, e Jason Schwartzman como um vampiro que vive na cobertura do de um famoso prédio em New York chamado Dakota, embora sua aparição seja limitada a apenas um episódio.

Uma das principais críticas recai sobre a falta de clareza: o que é exatamente a Talamasca e o que fazem seus membros? A série deixa os espectadores praticamente no escuro. Guy é posicionado como um representante clássico do público, mas a origem de suas habilidades telepáticas e como elas se encaixam na cosmologia desse mundo nunca são totalmente explicadas.

O próprio Guy se mostra um “herói” tão genérico quanto seu nome. Nicholas Denton, australiano, luta com o sotaque estadunidense mesmo depois que seu personagem é enviado a Londres. Seu treinamento deveria durar um ano, mas é comprimido em uma semana porque o tempo é essencial, uma compressão que soa como metáfora para esta temporada sobrecarregada e apressada.

O MacGuffin* 752 e a trama confusa

O fio condutor da série é a busca por um MacGuffin* conhecido como 752, nomeado em homenagem ao ano de fundação da Talamasca. É o backup de um arquivo que queimou há 50 anos em um incêndio no posto avançado da organização em Amsterdam. Helen está em seu encalço ao mesmo tempo que Jasper, um vampiro com uma rixa antiga com a Talamasca.

William Fichtner é apontado como o único no elenco a dar uma atuação com o talento que a escrita de Rice merece, talvez seja porque Jasper fale apenas frases sem sentido, porém hilariantes, como “You are a flea bouncing off the hard dick of our immortal history!” (em tradução literal seria algo como: “Você é uma pulga quicando no pau duro da nossa história imortal!”).

Entrevista com o Vampiro: a queridinha que funciona

Olha, pra vocês entenderem a expectativa em cima de Talamasca, é preciso falar do estrondo que foi Entrevista com o Vampiro. A série simplesmente arrasou na crítica. Elogiaram tudo: escrita, direção, figurinos, trilha sonora, atuações. A química entre Jacob Anderson (Louis) e Sam Reid (Lestat) foi especialmente destacada.

A principal diferença para o livro original está no contexto e no personagem de Louis: no livro, ele é um proprietário de terras branco no século XVIII; na série, foi atualizado para um empresário negro em Nova Orleans no início do século XX. Essa mudança adiciona complexidade ao personagem, explorando sua vida como um homem rico, mas marginalizado pela segregação racial.

A relação entre Lestat e Louis na série é abertamente romântica, explorando de forma direta a paixão e a toxicidade do relacionamento dos dois. No livro, a conexão é mais implícita, embora os subtextos homossexuais sejam evidentes.

A Talamasca como ponte entre mundos

A principal ligação entre Entrevista com o Vampiro e As Bruxas de Mayfair é justamente a Talamasca, uma ordem secreta e antiga de estudiosos que documentam e observam o sobrenatural sem se envolver diretamente. Em Entrevista, a organização é introduzida na segunda temporada com Raglan James fornecendo arquivos para o jornalista Daniel Molloy. Em Mayfair, o agente Ciprien Grieve investiga constantemente a família de bruxas.

Então é óbvio que o único link entre as três séries baseadas nos romances de Anne Rice, a Talamasca, tinha que ganhar um espaço só dela. As críticas continuam sendo muito negativas, achando a trama fraca. Não posso opinar 100% ainda, pois preciso assistir mais episódios para ter uma dimensão completa do que será.

Minha expectativa: paciência e paixão por ordens secretas

Gostos à parte, é melhor cada um tomar sua própria decisão. Por isso, esse texto é mais uma introdução do que virá do que uma análise definitiva do que achei, afinal, a série acabou de começar (OMG, que pleonasmo terrível!). Veremos como será o andamento. Se vão amar, como amam os Vampiros, ou se vão odiar, como odeiam as Bruxas.

Eu, pessoalmente, prefiro histórias de bruxas e ordens secretas do que vampiros. Então vou esperar a temporada acabar para dar minha nota final sobre essa nova adaptação de Anne Rice e seu Universo Imortal. Quem sabe Talamasca não me surpreenda positivamente, assim como Mayfair Witches surpreendeu quando menos esperava?

Com Talamasca, as produções decepcionantes do Universo Imortal agora superam em número as empolgantes, segundo a crítica especializada. Mas estou torcendo para que a série prove que essa primeira impressão pode mudar. Afinal, o universo de Anne Rice é vasto, complexo e merece ser explorado com o mesmo cuidado que Entrevista com o Vampiro demonstrou.

Essa primeira temporada tem seis episódios e termina com várias pontas soltas que indicam uma possível segunda temporada. Resta saber se o público vai embarcar nessa jornada ou se a série vai se perder em meio às próprias tentativas de estabelecer sua identidade dentro desse universo expandido.

Talamasca: The Secret Order está disponível na AMC nos Estados Unidos, com estreia prevista no Brasil pelo Prime Video, ainda sem data definida.

 

*  “MacGuffin é um nome que o cinema/TV (o roteirista) dá para aquele objeto ou objetivo que move toda a história, mas que, no fim das contas, não é o mais importante. O que realmente importa é o que acontece por causa dele: as ações, conflitos e mudanças dos personagens.

Um exemplo:

Em Titanic, o colar ‘Coração do Oceano’ é um MacGuffin. Todo mundo fala dele, muita coisa acontece por causa dele, mas o colar mesmo não tem importância real. A verdadeira história, o verdadeiro foco da trama é o romance e o drama entre Jack e Rose.”

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