Peço desculpas pelo atraso na postagem de ontem. Normalmente eu costumo publicar às 19h nas sextas-feiras, porém, minha semana foi um verdadeiro caos de trabalho e compromissos, e acabei não conseguindo finalizar Task a tempo para escrever com a calma que a minissérie merece. Por isso, este texto só está saindo agora, na manhã de sábado. Mas garanto que valeu a pena esperar até o último episódio para poder falar com propriedade sobre Task.
Confesso que fiquei muito curiosa quando soube que Brad Ingelsby, o criador de Mare of Easttown, estava lançando uma nova produção pela HBO Max. Afinal, Mare foi um daqueles fenômenos que conquistou crítica e público, rendeu até um Emmy para Kate Winslet (Titanic) e ainda deixou todo mundo com aquele gostinho de quero mais. Mas também fiquei receosa, afinal, será que Task conseguiria repetir a fórmula de sucesso? Ou seria apenas uma tentativa de surfar na onda do sucesso anterior?
O começo difícil e a teimosia de quem não desiste (eu)
Vou ser sincera com vocês: não curti nada Task no começo. E olha que me recuso a chamar de série algo que foi vendido como minissérie desde o princípio. Para mim, se foi anunciada como minissérie e encerrada oficialmente como tal, é isso que ela é, mesmo que depois inventem de fazer novas temporadas por conta do sucesso.
Não é que eu não goste de dramas policiais lentos. Pelo contrário, adoro. Inclusive, curti muito Mare of Easttown, que muita gente criticou justamente por sua lentidão narrativa. Mas com Task eu simplesmente não conseguia ter o mesmo apego, sabe? Faltava alguma coisa que me fisgasse de verdade. Por isso, esse texto está saindo só agora, no sábado, porque eu estava teimosamente (sou taurina. Signo da teimosia, fazer o quê?) me obrigando a assistir até o final antes de opinar.
Fui assistir a minissérie porque sou completamente apaixonada pelo trabalho de Mark Ruffalo (nosso eterno Hulk) , mas nem ele conseguia prender minha atenção nos primeiros episódios. A atuação dele era e continua sendo perfeita, isso não tenho dúvidas. O problema estava no resto. O elenco de apoio que escolheram para atuar ao lado de Ruffalo me pareceu fraquíssimo. As únicas coisas que realmente me prendiam eram Mark e Martha Plimpton (Prime Target, Younger, The Good Wife, Grey’s Anatomy, Os Goonies), que fez a chefe fria do personagem dele com maestria.
O problema de “personagens demais”
A quantidade exagerada de personagens secundários me deixou muito confusa. Coisa que eu não vi em Mare of Easttown, que eu amei justamente pela forma como equilibrava seu elenco. Apesar de terem sido escritas pelo mesmo autor, senti muita diferença na estrutura de montar e contar as histórias. Meio que me decepcionei, para ser honesta.
Afinal, eu esperava mais de Brad Ingelsby, que já fez trabalhos brilhantes como o filme The Way Back (com Ben Affleck), Out of the Furnace (com Christian Bale) e Run All Night (com Liam Neeson). Ou seja, o cara não é qualquer um. Mas não sei… Até o quinto episódio de uma minissérie, de sete, eu ainda não estava fisgada de verdade. Cadê os dilemas morais? Cadê as nuances dos personagens? Cadê aqueles dramas humanos que Brad sempre soube colocar tão bem em suas obras?
A trama que Task propõe
Para quem ainda não conhece, Task acompanha Tom Brandis, interpretado por Mark Ruffalo, um ex-padre que agora é um agente do FBI e que lidera uma força-tarefa investigando uma série de assaltos violentos. Do outro lado da lei está Robbie Prendergrast, vivido por Tom Pelphrey (Ozark, Banshee, Iron Fist, A Man in Full, American Murdurer, SVU, Blue Bloods), um pai de família que se envolve nesses crimes para vingar sua família contra uma gangue de motociclistas chamada Dark Hearts.
A série se passa em Delaware County, na Pensilvânia, a mesma região que serviu de cenário para Mare of Easttown. Brad Ingelsby confirmou que as duas produções compartilham o mesmo universo, o que naturalmente levou os fãs a sonharem com um possível crossover. Mas oficialmente, Task foi anunciada como uma minissérie encerrada, assim como aconteceu com Mare.
O interessante é que, diferente de Mare que era um mistério de “quem matou“, Task funciona mais como um thriller de perseguição. A narrativa alterna entre os dois núcleos familiares, o de Tom e o de Robbie, mostrando como ambos são marcados pelo luto e pelas escolhas difíceis. É meio que um estudo sobre culpa, perdão e os custos da vingança.
Quando Brad finalmente apareceu
Foi somente no sexto episódio que vi Ingelsby finalmente aparecer na tela de verdade. Esse sim foi um episódio digno de um autor do peso dele. A tensão no texto e nas interpretações, as dúvidas, os medos, o “ser” humano por trás dos crimes, como Brad sempre soube colocar em suas obras anteriores.
Ali eu entendi o porquê a crítica especializada estava elogiando tanto. A Screen Rant chamou Task de “deslumbrante” e “a nova obra-prima da HBO”, enquanto a série alcançou incríveis 95% de aprovação no Rotten Tomatoes. E olha que isso foi com apenas três episódios exibidos, Task já estava sendo chamada de “hit do ano” por especialistas. A produção se tornou uma das três séries que mais cresceram em audiência na história da HBO Max, considerando apenas estreias de primeira temporada.
As atuações que salvam
Mark Ruffalo entrega uma atuação sutil e carregada de peso emocional. Como Tom, ele é um homem sobrecarregado por luto e responsabilidade, e Ruffalo consegue transmitir isso sem precisar de diálogos exagerados. É aquela atuação contida que fala mais pelos olhares do que pelas palavras.
Tom Pelphrey, como Robbie, também merece todos os elogios. Ele consegue tornar seu personagem gentil e assustador ao mesmo tempo, oscilando entre desespero e violência de uma forma bastante convincente. A química entre os “dois Toms” (Ruffalo e Pelphrey) funciona mesmo quando eles estão em lados opostos da lei.
Emilia Jones (Piratas do Caribe, Utopia, Doctor Who – versão atual), que interpreta Maeve, sobrinha de Robbie, oferece uma performance comovente que ancora toda a questão familiar da trama. E também preciso destacar Jamie McShane (Sons of Anarchy, Southland, Devil in Ohio, Queen of the South, TWD, 24, CSI e muito mais) no papel de Perry Corazo, membro de alto escalão da gangue de motociclistas. Sua atuação já está sendo apontada pela crítica como digna de indicação ao Emmy.
A comparação inevitável com Mare of Easttown
É impossível falar de Task sem compará-la com Mare of Easttown. As duas compartilham muito mais do que apenas o criador e o universo narrativo. Ambas têm aquela fotografia impecável que captura a crueza dos subúrbios da Pensilvânia, aquele foco em personagens atormentados por tragédias pessoais e aquela lentidão proposital que serve para construir a tensão.
Mas enquanto Mare tinha Kate Winslet como uma força da natureza carregando a série nas costas, Task dilui seu protagonismo entre vários personagens. Isso enriquece a narrativa de certa forma, mas também tira um pouco do carisma que um protagonista forte como Mare Sheehan trazia.
Mare of Easttown foi um sucesso absoluto quando estreou em 2021, se tornando a série mais assistida da HBO Max na época. Kate Winslet ganhou o Emmy e a produção deixou todo mundo com vontade de ver mais. Tanto que até hoje rola especulação sobre uma possível segunda temporada, mesmo a atriz tendo dito recentemente que não houve conversas ativas com a HBO sobre isso há bastante tempo.
Agora, com o sucesso de Task, estamos ouvindo falar novamente de um possível retorno de Mare of Easttown. A chefe de Drama da HBO revelou em entrevista que estão em “estágios iniciais de desenvolvimento” para uma segunda temporada de Mare, explorando como a vida da personagem evoluiu anos depois dos eventos da primeira temporada. E tem até quem cogite um crossover entre as duas séries, mesmo Task tendo sido anunciada oficialmente como encerrada.
O que Task acerta
A série brilha quando explora as consequências psicológicas dos crimes, focando nos seres humanos por trás das ações. Há uma crítica social interessante sobre comunidades marginalizadas e pessoas comuns levadas ao desespero por circunstâncias que fogem do seu controle.
A ambientação é outro ponto forte. Assim como fez em Mare, Ingelsby filma em locações reais de Delaware County, mantendo a autenticidade cultural do ambiente. Você realmente sente que está naquele lugar, com aquelas pessoas, vivendo aqueles dramas.
A direção de Jeremiah Zagar (Hustle e The Fix) equilibra bem ação e drama, com cenas de assalto que chegam a evocar a intensidade de filmes como Atração Perigosa. A trilha sonora minimalista intensifica os momentos de tensão sem ser invasiva.
ATENÇÃO: A PARTIR DAQUI COMEÇAM OS SPOILERS!
Onde Task tropeça
O ritmo desigual é o maior problema da série. O primeiro episódio parece que tudo acontece e, ao mesmo tempo, nada acontece. É confuso e não estabelece bem os conflitos principais. A narrativa só acelera de verdade na segunda metade, mas aí algumas reviravoltas parecem um pouco forçadas.
Para quem busca ação constante, Task pode parecer contemplativa demais, então é melhor nem começar a assistir. É preciso ter paciência com os primeiros episódios e confiar que a história vai se desenrolar de forma satisfatória. O problema é que nem todo mundo tem essa paciência nos dias de hoje, com tantas opções de streaming disputando nossa atenção.
Também senti falta de uma conexão emocional mais forte com alguns personagens secundários. Há muita gente na tela e nem todos recebem o desenvolvimento que merecem. Isso cria uma sensação de que algumas subtramas ficaram pelo caminho.
O futuro de Task e Mare
Oficialmente, Task foi vendida e encerrada como minissérie. Mas o criador Brad Ingelsby já deixou claro que adoraria fazer uma segunda temporada. Em entrevista à Esquire, ele disse: “Eu adoraria fazer outra temporada de Task. Se as pessoas continuarem respondendo à série, tenho mais histórias para contar. Adoro escrever sobre esse lugar e mergulhar nesses personagens“.
A HBO ainda não confirmou oficialmente a renovação, mas o sucesso de Task e a possibilidade de um retorno de Mare of Easttown mostram que o universo criado por Ingelsby tem muito potencial para ser explorado. Será que a HBO Max vai deixar passar esses dois sucessos ficarem esquecidos no limbo? Talvez sim, talvez não. Só o futuro dirá.
Mas uma coisa é certa: se Mare pode voltar após anos sendo considerada definitivamente encerrada, quem sabe Tom Brandis também não volta para investigar novos crimes em Delaware County? E quem sabe não teremos o tão sonhado crossover entre as duas séries?
Vale a pena assistir Task?
Task é uma adição sólida ao catálogo da HBO Max, com atuações marcantes e uma narrativa que combina suspense e drama familiar. Se você é fã de Mare of Easttown ou de séries como Your Honor e True Detective, provavelmente vai encontrar elementos para gostar aqui.
Mas preciso ser honesta: é necessário paciência. Os primeiros cinco episódios testam sua vontade de continuar assistindo. Se você aguentar firme, será recompensado com um sexto e sétimo episódios realmente dignos do nome de Brad Ingelsby. É ali que a série finalmente entrega o que prometeu desde o começo.
Para quem prefere ação ininterrupta e reviravoltas constantes, Task pode decepcionar. Mas se você gosta de thrillers psicológicos com foco em personagens complexos e está disposto a investir tempo em uma história que se constrói lentamente, vale muito a pena embarcar nessa jornada.
Eu diria que Task é uma série que cresce com você. Quanto mais você assiste, mais entende as escolhas narrativas e mais se conecta com aquele universo. Não é perfeita, longe disso. Mas quando acerta, acerta com maestria. E no final das contas, isso já é mais do que a maioria das séries por aí consegue fazer.
Task está disponível na HBO Max
Minha nota: 9.5/10
Carioca com alma paulista. Jornalista Digital, Assessora de Imprensa, Escritora, Blogueira e Nerd. Viciada em séries de TV, chocolate, coxinha & Pepsi. Segue no Insta: @poltronatv.ofc