Em agosto de 2024, após assistir à perfeita análise de Jurandir Gouveia no YouTube sobre a série ‘The Bear’, decidi mergulhar de cabeça nela que, segundo o storyteller, ia muito além do simples retrato de uma cozinha de restaurante. Jurandir destacava que a série abordava temas profundos como propósito, esforço e talento, além de explorar relacionamentos familiares e a busca por significado em meio a situações cotidianas. E ele estava absolutamente certo, no meio do caos, consegui me ver em várias situações do dia a dia.
Agora, com a quarta temporada já disponível na Disney+ e a quinta já confirmada, posso afirmar que ‘The Bear’ se consolidou como uma das narrativas mais ricas e envolventes da televisão contemporânea. O que começou apenas como a história para contar a vida de Carmen ‘Carmy’ Berzatto voltando a Chicago para assumir a lanchonete do irmão falecido revelou-se muito mais complexo e emocionalmente profundo.
Personagens autênticos que respiram vida na tela
Um dos grandes trunfos de ‘The Bear’ é a forma como seus personagens são retratados de maneira realista e original. Richie, interpretado por Ebon Moss-Bachrach, permanece como um dos exemplos mais tocantes da série. Um homem passando por uma crise de meia-idade, separado da esposa e da filha, sem uma profissão definida, buscando desesperadamente um propósito. Sua trajetória na série é um exemplo claro de como pequenos gestos e detalhes podem trazer significado e satisfação.
Como Jurandir mencionou em sua análise, episódios como o Jantar de Natal e principalmente “Garfos”, da segunda temporada, são verdadeiras obras-primas. “Garfos” foi descrito pelo storyteller como “o episódio perfeito da série”, que encapsula toda a essência da narrativa. Richie, que inicialmente vê seu trabalho de limpar garfos como uma humilhação, começa a encontrar propósito naquilo que faz ao observar a paixão e dedicação dos outros personagens.
A transformação através do trabalho digno
No episódio ‘Garfos’, Richie é enviado para trabalhar na cozinha do melhor restaurante dos Estados Unidos. Logo de cara eles o colocam para realizar a tarefa de limpar garfos, isso mesmo, o arrogante Richie teria que passar o dia inteiro limpando e polindo garfos. Inicialmente, ele sente que limpar garfos é uma tarefa inferior, mas com o tempo percebe que é através desses pequenos gestos que pode encontrar seu propósito. Observando a dedicação dos outros ao seu redor, Richie entende que o respeito e o valor do trabalho vêm da paixão e do esforço investidos.
A transformação de Richie é um dos pontos altos da série. Ele passa de uma pessoa amargurada e perdida para alguém que encontra significado em seu trabalho. Sua jornada de autodescoberta e esforço é um testemunho de que o propósito não é algo que se encontra, mas algo que se dá ao trabalho que se faz.
Minha experiência pessoal com a série
Confesso que no começo fiquei um pouco confusa. Não estava acostumada com séries de pensamentos tão rápidos e jogadas de imagens tão caóticas. Me lembrei das aulas de RCTV na faculdade, quando aprendia como escrever e adaptar roteiros, e fiquei analisando tudo o que Jurandir disse em seu vídeo. Respirei fundo e recomecei do zero, fui assistir The Bear desde o primeiro episódio da primeira temporada duas vezes para que tudo fizesse sentido em minha mente, que já é acelerada por conta da Ansiedade e Bipolaridade.
Com a alma mais leve e a mente mais aberta consegui entender tudo o que Jurandir falou no vídeo, não só as lições aprendidas com a trama, mas a forma como a história foi bem escrita e que realmente nada gira em torno do personagem principal, Carmy. ‘The Bear’ vai muito além do ‘herdeiro do trono do The Beef’.
Publiquei no LinkedIn minha primeira análise sobre ‘The Bear’, logo depois de começar a acompanhar o canal de Jurandir. Ao fazer isso, voltei a ter paixão por escrever, não só em meus textos, como também voltei a mergulhar no meu livro, que estava guardado em uma gaveta mental. Consegui entender porque empaquei, onde empaquei e como recomeçar do zero.
OBRIGADA JURANDIR!
A evolução temática ao longo das temporadas
Cada temporada de ‘The Bear’ trabalha com uma temática narrativa que serve de guia para o desenvolvimento. A primeira foi sobre ‘um estranho no ninho’, com Carmy tentando se encaixar no mundo caótico do irmão. A segunda temporada foi sobre restauração, transformando a lanchonete The Beef no sofisticado restaurante The Bear. A terceira mergulhou no trauma dos personagens, sendo mais rejeitada pelos fãs por sua profundidade emocional.
ATENÇÃO PARA SPOILERS DA QUARTA TEMPORADA
A revolução silenciosa de Sydney
A quarta temporada traz uma revelação que pode dividir opiniões. Sydney, interpretada pela talentosa atriz Ayo Edebiri, emerge como o verdadeiro coração do The Bear. Várias pistas foram plantadas: ela consegue finalizar pratos em menos tempo que Carmy, criou o prato mais aclamado do restaurante (a vieira) e demonstra uma lealdade que o protagonista não teve no passado.
Como o crítico de séries, Michel Arouca, do Série Maníacos, observou, “Sydney é mais talentosa que o Carmy. Ela é a escolhida. Ela é o futuro do restaurante”. E essa revelação não diminui o protagonismo de Jeremy Allen White (Carmy), que continua entregando uma performance magnética, especialmente nas cenas de reconciliação com a mãe, interpretada por Jamie Lee Curtis.
Tempo, simplicidade e a busca pelo perdão
A quarta temporada trabalha com dois temas complementares. O fantasma do tempo é apresentado através de um relógio que representa o tempo de vida do restaurante, enquanto Carmy aprende que “o simples, quando bem executado, se torna excelente”. Ele finalmente entende que todo o caos que abraçava era uma forma de autopunição.
A temporada se torna uma jornada de Carmy através do seu passado para se reconciliar com ele mesmo, tentando aprender e perdoar não só os erros dos outros, mas também seus próprios erros.
O futuro da série e as lições eternas
Com a quinta temporada confirmada, muitas perguntas ficam no ar. A promessa de que Carmy poderia se aposentar quando o restaurante vingar, abre um imenso espaço para Sydney assumir a liderança definitivamente. A disputa entre The Bear e a possível franquia do The Beef promete tensões interessantes.
‘The Bear’ é uma série que, como concluiu Jurandir Gouveia, “deve ser vista por todos”. Ela não apenas entretém, mas ensina valiosas lições sobre vida, trabalho e esforço. Em um mundo onde o sucesso é medido por grandes realizações. A série nos lembra que são os pequenos gestos e a dedicação diária que realmente fazem a diferença. Cada segundo conta, e é através do esforço e do respeito que encontramos nosso verdadeiro propósito.
Carioca com alma paulista. Jornalista Digital, Assessora de Imprensa, Escritora, Blogueira e Nerd. Viciada em séries de TV, chocolate, coxinha & Pepsi.