
Faltando apenas um episódio para o final da primeira temporada de The Last Frontier, que vai ao ar no dia 5 de dezembro (sexta-feira), já dá para tirar algumas conclusões sobre a produção mais comentada da Apple TV+ neste fim de ano. Vi gente elogiando aos montes, críticos detonando sem dó e portais fazendo malabarismos entre os dois extremos. Confesso que fiquei confusa com tanta divergência e resolvi maratonar para formar minha própria opinião.
Antes de qualquer coisa, peço desculpas pela semana sem texto. A vida ficou tão corrida que não sobrou tempo para assistir e analisar as séries direito. Mas hoje estou de volta, e com assunto quente. Bora para mais uma série!
Haley Bennett rouba a cena (mesmo sem eu conhecê-la antes, sorry!)

A primeira coisa que notei foi a quantidade absurda de sites e portais especializados falando de Haley Bennett. Sim, confesso sem vergonha: fui procurar a filmografia dela porque, dos filmes que assisti onde ela aparece, simplesmente não lembro da atriz em cena. Aí vieram as pessoas me cobrar: “Mas ela fez Cyrano!”. Tudo bem, não assisti Cyrano, então não posso opinar. E olha que assisti A Garota do Trem (2016) e continuo sem conseguir lembrar dela (me perdoem).
Dito isso, para mim foi como se estivesse vendo o trabalho dela pela primeira vez. E concordo plenamente com a maioria: ela brilhou. E não estamos falando de um elenco qualquer, não. A série conta com nomes de peso como Jason Clarke (Brotherhood, Oppenheimer), Dominic Cooper (Preacher), a fabulosa Alfre Woodard (Desperate Housewives, 12 Anos de Escravidão, Clemência) e a atriz neozelandesa Simone Kessell (Yellowjackets, Obi-Wan Kenobi).
Mesmo Clarke sendo o protagonista oficial, foi Bennett quem se sobressaiu em cada cena. Desde o minuto que pisou no Alasca, ela assumiu o controle. A crítica internacional concorda: o crítico Vikas Yadav, do Midgard Times, definiu perfeitamente quando disse que o rosto de Bennett é “a face da série“. Ela tem uma expressão de “menina frágil” que vira uma máscara e arma ao mesmo tempo.
Um elenco que entrega tudo (quando o roteiro deixa)

Jason Clarke constrói um Frank Remnick convincente, equilibrando fragilidade e firmeza como delegado federal que carrega o fardo da culpa. Dominic Cooper surge como Levi Hartman (codinome: Havlock), um ex-agente da CIA que faz um perfeito antagonista, tão magnético e imprevisível que mantém o espectador sempre desconfiado.
Em entrevista exclusiva ao F5 da Folha de São Paulo, Clarke revelou que o frio extremo moldou a gravação: “Muita coisa era basicamente sobrevivência e resistência. Você precisava se preparar e acertar a cena em uma ou duas tomadas, devido à escuridão e ao frio“.
Bennett complementou falando sobre a tensão entre os personagens: “A resistência entre Frank e Sidney é interessante. É aí que percebemos o drama. O Alasca revela a natureza dessas pessoas, mas também há os aspectos da espionagem e a relação deles, sempre marcada pelo conflito“.
O showrunner Jon Bokenkamp, criador também de The Blacklist, destacou que The Last Frontier se diferencia de outras séries policiais justamente pelos personagens únicos e complexos: “Eles até ocupam os papéis clássicos de policial ou agente da CIA, mas são muito mais complexos. Ter dez episódios dá tempo de revelar quem são de verdade, com segredos e contradições“.
Roteiro, trama e ambientação impecáveis
Gostei (e muito) do roteiro criado por Bokenkamp e Richard D’Ovidio. A escolha do Alasca não foi apenas estética, como bem apontou o site Miscelânea: a paisagem gelada funciona como personagem, aprisionando tanto quanto liberta todos à sua volta. Aquele falso senso de comunidade que os moradores precisam ter por conta de viverem em um lugar inóspito e perigoso está muito bem construído.
Os diálogos são afiados, a interpretação dos atores é impecável, e a trama de conspiração envolvendo a CIA, arquivos secretos e a caçada aos fugitivos funciona bem. A direção de Sam Hargrave (conhecido por Resgate da Netflix) dá um tom físico e realista, com sequências de ação bem coreografadas (mas nem sempre tão realistas).
A crítica de Diego Almeida do jornal O Tempo elogiou a produção técnica: cenários realistas, montagem precisa e uso inteligente do som. Já o portal português Magazine HD destacou que a série rapidamente se tornou uma das mais vistas da plataforma, com elenco talentoso e produção cuidada.

ATENÇÃO: A PARTIR DAQUI CONTÉM SPOILERS
Os “efeitos especiais” exagerados me tiraram do sério

Aqui vem meu maior problema com a série: odeio efeitos especiais forçados demais, aqueles que sabemos ser fisicamente impossíveis de acontecer. E The Last Frontier comete esse pecado logo no piloto.
A cena da queda do avião me deixou irritada. Vamos lá: abre-se uma cratera gigantesca na lateral da aeronave. Todos são sugados violentamente pela descompressão (coisa absolutamente normal de acontecer). Mas o bandidão (Havlock) que estava exatamente ao lado do buraco consegue se soltar, “navegar” como se estivesse em gravidade zero até a cabine do piloto, assumir o comando e ainda pousar a droga do avião com um monte de gente sobrevivendo. Peraí, foi demais, né? Pelo menos para mim foi. Quase desisti da série nas primeiras cenas.
Vamos aos fatos científicos: no caso de uma descompressão explosiva (um buraco na fuselagem do avião), a diferença de pressão faz com que o ar escape violentamente em questão de milissegundos.
Esse fluxo extremamente rápido cria uma força de sucção tremenda. Qualquer pessoa ou objeto próximo à área de ruptura será ejetado imediatamente se não estiver firmemente preso. Havlock além de estar “preso”, se solta, vai “nadando” pelo ar até chegar à cabine do piloto, isso tudo do lado da porcaria do buraco (foi demais para mim, desculpe!).
[Se bem que para mim, o cara que está encapuzado no fundo do avião, não é o Havlock. Pois quando ele tira o negócio da cabeça, está de barba e estranho, e esse mesmo cara é pego depois na caçada e a Sidney deixa claro que não é ele. Só me pergunto: onde diabos estava o cara dentro do avião então?]

Mesmo quem não for ejetado pode sofrer lesões graves devido à movimentação violenta de objetos e pessoas, além do impacto da própria descompressão. E tem mais: aqueles que permanecem dentro do avião sofrerão consequências gravíssimas devido à mudança drástica de pressão.
Hipóxia (falta de oxigênio) é a primeira das consequências. Depois vem a doença da descompressão (comum em astronautas e mergulhadores), pois a mudança de pressão rápida faz com que gases dissolvidos no sangue formem bolhas. Sem falar na queda extrema de temperatura: em altas altitudes, a temperatura externa pode chegar a -50ºC. Ao abrir um buraco imenso, tudo congela dentro do avião rapidamente.
Alguém pode sobreviver a uma queda de avião com ruptura de fuselagem? Tecnicamente sim, mas a chance é de praticamente zero. Se não forem ejetadas e morrerem instantaneamente, as que ficarem a bordo podem ter danos cerebrais irreversíveis devido à hipóxia.
Historicamente, é muito mais fácil sobreviver a uma queda causada por falha de motor do que por descompressão explosiva. Em 1989, um voo da United Airlines sofreu ruptura em uma das portas de carga em pleno voo. Foram ejetados instantaneamente nove passageiros, que morreram na hora. Os sobreviventes estavam bem longe da área do buraco, e muitos têm problemas de saúde até hoje.
Então me mostrar um avião que abre uma cratera quase do tamanho da metade da aeronave, o cara que estava ao lado do buraco consegue se soltar, “voar” por todo o avião, pilotar e pousar com um monte de gente sobrevivendo? Sorry, efeito especial demais para mim.

O mesmo aconteceu na briga dentro do “ônibus/trem” de turismo içado pelo helicóptero, assim como no acidente de carro. Essas cenas em câmera lenta me dão nos nervos. Um cara que saiu ileso daquela queda impossível de avião, cai de dentro de um troço içado por um helicóptero no meio da floresta gelada e sofre um acidente sendo capotado várias vezes na rodovia e sobrevive de novo? Ok, é ficção, eu sei. Mas para mim não dá.
A crítica está dividida (e com razão)
A recepção mista reflete exatamente essa divisão. No IMDb, a série tem 7,1, e no Rotten Tomatoes apenas 44% de aprovação da crítica (mas a popularidade com o público geral é inegável).
Anna Luiza Santiago, colunista de O Globo, foi direto ao ponto e deu nota zero: “Para a avalanche de clichês na série ‘A última fronteira’, da Apple TV: agente da CIA, arquivo secreto, policial com traumas cuja família corre risco, inimigo imbatível e hábil em qualquer área etc. Sem falar nas mil situações absurdas que subestimam a inteligência do público“.
Já Alison Herman, da Variety, elogiou quando a série abraça suas raízes de TV aberta, mas criticou quando se perde em tramas genéricas de espionagem: “Quanto mais The Last Frontier se aprofunda nos corredores do poder ou no passado de Sidney, mais você desejará estar de volta à planície congelada, caçando psicopatas assassinos“.
O Cinema Metropolis destacou o lado positivo: “A série constrói a tensão de forma progressiva, equilibrando momentos de ação intensa com passagens mais lentas e introspectivas que aprofundam personagens e motivações“.
Vale a pena assistir?

Sim, mas com ressalvas. Se você procura uma boa trama, roteiro inteligente, diálogos afiados e interpretações impecáveis, The Last Frontier entrega. Haley Bennett sozinha já vale o play. A ambientação no Alasca é brutal, a conspiração envolvendo a CIA mantém o interesse, e os dilemas morais dos personagens são bem construídos.
Agora, se você busca cenas de ação inteligentes e realistas, desista logo no piloto. A queda do avião é apenas o começo de uma sequência de cenas cada vez mais absurdas fisicamente. Para mim, que já tive minha cota de impossibilidades físicas com Duro de Matar nos anos 1980 e 1990, esse tipo de exagero me tira completamente da imersão.
Mas reconheço: tem público para tudo. E The Last Frontier consegue equilibrar suficientemente bem seus acertos e erros para manter a audiência grudada até o episódio final, que vai ao ar dia 5 de dezembro.
Só não me peçam para acreditar que alguém sobrevive àquela queda de avião.
Minha nota: 8.7/10

Carioca com alma paulista. Jornalista Digital, Assessora de Imprensa, Escritora, Blogueira e Nerd. Viciada em séries de TV, chocolate, coxinha & Pepsi.
