‘The Last Frontier’ acerta onde ‘Tudo É Justo’ fracassa espetacularmente

Fotos: banco de imagem, reprodução da Apple TV+ e Disney+

Nota importante: todo o texto pode conter SPOILER, umas partes menos outra mais, portanto, LEIA POR SUA CONTA E RISCO!

Sexta-feira, 5 de dezembro, marcou o fim da primeira temporada de The Last Frontier (Apple TV+), e confesso que terminei os dez episódios com aquela sensação agridoce de quem quer mais, mas que ao mesmo tempo sabe que aquilo que recebeu foi satisfatório. Por outro lado, cumpri minha promessa de assistir Tudo É Justo (Disney+), a série de Ryan Murphy com Kim Kardashian que estreou com 0% de aprovação no Rotten Tomatoes. E preciso dizer: raramente vi um contraste tão gritante entre acertos e erros no mesmo período televisivo.

Vamos aos fatos, porque tenho muito a dizer sobre essas duas produções que, cada uma à sua maneira, definiram meu fim de ano em termos de séries.

The Last Frontier: quando o elenco salva até os clichês mais absurdos

Reprodução Apple TV+

Comecemos pela boa notícia. The Last Frontier entregou exatamente o que prometi na minha análise anterior: um roteiro inteligente, diálogos afiados, interpretações impecáveis e uma Haley Bennett que roubou absolutamente todas as cenas. Jason Clarke construiu um Frank Remnick convincente, equilibrando fragilidade e firmeza. Dominic Cooper fez de Havlock um antagonista tão magnético que você torce por ele mesmo sabendo que não deveria.

O final da temporada não decepcionou. A sequência na represa de Nenana foi brutal, com o confronto entre Sidney (Bennett) e a diretora da CIA Jacqueline Bradford (Alfre Woodard) resolvendo a conspiração do Protocolo Atwater de forma visceral. Bradford cai da ponte após uma luta intensa, e Sidney quase morre nas mãos de Frank, que precisa usar um trenó puxado por cães para levá-la ao hospital. Se isso não é típico do Alasca, não sei o que é.

Os criadores Jon Bokenkamp e Richard D’Ovidio revelaram à Variety que quase guardaram a revelação de que Sidney estava por trás do acidente de avião para o final da temporada, no estilo Keyser Söze (personagem clássico do filme Os Suspeitos de 1995). Felizmente, decidiram fazer isso antes, no episódio 7, permitindo que a audiência convivesse com as consequências dessa verdade nos últimos capítulos.

O cliffhanger final funciona perfeitamente: Havlock finge sua própria morte e liga para Frank avisando que “seu canto do mundo agora é o centro de tudo“, enquanto prepara uma fuga da prisão para Sidney. A última cena mostra Sidney sorrindo dentro do carro-forte, cúmplice do plano do marido. Cooper brincou na entrevista ao Collider que uma segunda temporada poderia explorar o passado do casal, mas Clarke garantiu que Franké um homem da lei, antes de tudo” e não deixará os dois soltos por muito tempo.






ATENÇÃO: A PARTIR DAQUI CONTÉM SPOILERS
MUITOS MAIS PESADOS DE THE LAST FRONTIER





O episódio final também trouxe o acerto de contas de Frank com sua família. Ele confessa que plantou provas para incriminar o homem errado pelo assassinato da filha Ruby, e sua esposa Sarah (Simone Kessell) e o filho Luke pedem que ele enterre as evidências para que possam seguir em frente. A cena de Frank jogando a arma no rio e a família queimando os bilhetes de Ruby é poderosa, simbolizando perdão e recomeço.

Mas ainda tenho problemas com os efeitos especiais

Meu maior incômodo permanece: aquelas cenas de ação cientificamente impossíveis. A queda do avião no piloto continua me irritando. Um cara que estava ao lado de um buraco gigante na fuselagem consegue se soltar, “nadar” pelo ar até a cabine e pousar o avião com sobreviventes? Desculpem, mas não.

Anna Luiza Santiago, do O Globo, deu nota zero justamente por isso, citando “a avalanche de clichês” e “situações absurdas que subestimam a inteligência do público“. Alison Herman, da Variety, foi na mesma linha, dizendo que quando a série se aprofunda demais nas tramas genéricas de espionagem, você deseja estar de volta à planície congelada.

Continuo com minha opinião: se você busca cenas de ação inteligentes e realistas, desista logo no piloto. Mas se procura uma boa trama, roteiro bem construído e interpretações que valem cada minuto, The Last Frontier entrega. Haley Bennett sozinha justifica o play.

Minha nota para a 1ª temporada de The Last Frontier: 9,1/10

Vou assistir a segunda temporada? COM CERTEZA! Mesmo irritada com os clichês de ação dos anos 80/90, Bennett roubou meu coração e quero ver o que aquela “doida” vai fazer ao lado de seu marido mais “doido” ainda. E é óbvio que Frank vai tentar impedir essa dupla de anti-heróis.

Agora tudo que é hora de escrachar Tudo É Justo!


Ryan Murphy conseguiu o impossível

Agora vamos ao desastre anunciado. Tudo É Justo (All’s Fair) é tão ruim que chega a ser fascinante. Prometi que assistiria para entender o tsunami de críticas negativas, e gente… é pior do que imaginei.

Ben Dowell, do The Times, não deu nenhuma estrela (de cinco possíveis) e cravou: “Esta provavelmente é a pior série da história“. Ed Power, do Telegraph, chamou de “crime contra a televisão“. Lucy Mangan, do The Guardian, foi direta: “Não sabia que era possível fazer algo tão terrível assim na TV“.

A premissa até tinha potencial: advogadas de divórcio em Los Angeles rompem com escritório dominado por homens para abrir firma própria. Casos milionários, poder, vingança. Mas o resultado é um desfile de modas (e de mau gosto! Não sei para quê tanto glamour) com diálogos horríveis disfarçados de drama jurídico.

ATENÇÃO: A PARTIR DAQUI CONTÉM SPOILERS DE TUDO É JUSTO

Kim Kardashian interpreta Allura Grant, a advogada mais bem-sucedida de Los Angeles. Angie Han, da Hollywood Reporter, descreveu sua atuação como “rígida e sem emoção, incapaz de transmitir qualquer autenticidade“. Rígida é pouca. Juro que pensei que era um robô humanóide (com perucas horrorosas!) no lugar da Kim. O problema é que nem as brilhantes Glenn Close e Niecy Nash conseguiram salvar essa produção.

Glenn Close fez ATRAÇÃO FATAL! Foi indicada ao Oscar oito vezes! Como uma série com ela pode ter 0% de aprovação? A resposta está no roteiro de Murphy, que conseguiu desperdiçar talentos incríveis em diálogos que só podem ser horríveis de propósito (é só o que consigo imaginar. Ele foi capaz de fazer isso com Nash e Close).

Reprodução Disney+

A defesa improvável do elenco

Kim Kardashian, em entrevista à Rolling Stone Brasil durante passagem pelo Rio de Janeiro, fez pouco caso das críticas: “Eu acredito que os novos críticos são, na verdade, tiktokers. São novos tempos e os espectadores mostram o que eles gostam“. Niecy Nash foi ainda mais direta: “Se as pessoas estão falando sobre você, seja algo bom ou ruim, meu amor, nós simplesmente amamos que elas estejam falando“. E Glenn, foi simplesmente Glenn, debochando em grande estilo no Instagram

Naomi Watts reconheceu a divisão extrema: “É muito raro quando a crítica e o público estão em sintonia. Recebemos críticas bastante negativas e, ao mesmo tempo, um amor enorme do público“. De fato, a série bateu recorde de audiência do Hulu, com mais de 3,2 milhões de espectadores nos três primeiros dias (mas na estreia, não podemos esquecer dos 0% de aprovação no Rotten Tomatoes).

Mas números não significam qualidade. O Estadão tentou defender, dizendo que “subestimar Kim Kardashian é um erro“, mas convenhamos: ter um império de US$ 1 bilhão não te transforma automaticamente em atriz.

Minha sincera e real visão sobre Tudo É Justo

Assisti os três primeiros episódios e fiquei TRAUMATIZADA. Tempo de piada ruim, atuações constrangedoras, parece mais desfile de grife que escritório de advocacia. Ryan Murphy conseguiu detonar a carreira de Glenn Close e Niecy Nash.

Não é possível que elas estejam tão ruins assim de grana ao ponto de lerem um roteiro desse e disseram: “Sim, eu aceito!”. Ruim é pouco. É a pior série que já assisti na vida. Superou meu ódio por Lost e Friends (sim, detesto essas também, por favor, não me m@tem).

Só peço… Não, SUPLICO à Disney+: NÃO RENOVE ESTA PORCARIA PELO AMOR DE DEUS!

Minha nota para Tudo é Justo: 0/10


O abismo entre qualidade e marketing

Aqui está a grande lição de 2025: The Last Frontier prova que bom roteiro, direção competente e elenco talentoso entregam qualidade, mesmo com tropeços nos efeitos especiais. Tudo É Justo mostra que nem todo o dinheiro e marketing do mundo salvam uma produção vazia.

Uma tem Haley Bennett brilhando na neve do Alasca, construindo uma personagem complexa e fascinante. A outra tem Kim Kardashian desfilando em Los Angeles (coisa que deve ser cotidiana para ela) sem conseguir transmitir uma emoção genuína sequer.

Na minha humilde opinião, Ryan Murphy só acertou até hoje na terceira temporada de Monster com Ed Gein (finalmente!), mas conseguiu voltar ao fundo do poço no mesmo ano com Tudo É Justo. Enquanto isso, Bokenkamp e D’Ovidio entregaram um thriller que, apesar dos clichês de ação, mantém a audiência grudada do início ao fim.

Se 2026 trouxer mais séries no nível de The Last Frontier e menos desastres como Tudo É Justo, o ano promete. Por enquanto, fico com minha Sidney Scofield sorrindo dentro daquele carro-forte, pronta para a próxima temporada. E deixo Ryan Murphy no limbo criativo que ele mesmo construiu.

Reprodução Apple TV+

 

The Last Frontier está disponível na Apple TV+.
Tudo É Justo está no Disney+, mas assistam por sua conta e risco.


Confiram os trailers das séries abaixo:

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