Há algo de profundamente emocionante e ecumênico na combinação de um bom livro, um vinho escolhido com cuidado ou um café aromático especial com aquela companhia, fictícia ou não. Sim fique atento, pois não são apenas hábitos, e sim rituais de resistência contra a nossa pressa desumanizada e apática, mas permita-se tais celebrações daquilo que nos torna verdadeiramente humanos que são a capacidade de saborear, de contemplar, de estar presente.
Cada um desses prazeres exige tempo e de se estar presente verdadeiramente nesta entrega. Um livro não se lê correndo ou com telas; este ato da leitura pede que nos sintamos e percebamos a atmosfera em nossa volta, quer seja na sua cafeteira predileta ou na sua livraria do coração, mas o mais importante e que mergulhemos em suas páginas, no seu cheiro, em suas texturas e que deixemos suas palavras ressoarem em nós. Um bom vinho não se bebe, se degusta, sinta-se envolto em seu aroma, observe sua cor, deixe que cada gole revele suas nuances de sua história, gota por gota, nota por nota e viva. Com um café especial não e diferente, preparado com cuidado é meditação líquida desde a moagem dos grãos e de toda via sacra para sua produção dedicada e com qualidade chegando a sua xicara até os primeiros goles, tudo nos leva para um convite à pausa, ao silêncio atento e ao pensamento profundo Juntos, formam uma trindade de pequenos prazeres e rituais cotidianos.
O livro alimenta a alma e desperta razão e a mente.
O vinho aquece o coração e o corpo nos libertando das amarras da razão abrindo outras portas da percepção, permitindo que outras formas de compreensão emerjam de dentro de você
O café desperta os sentidos e aguça a percepção. Entre páginas, entre pensamentos e sensações, construímos um tempo sagrado no meio da vida cotidiana apressada, um abrigo onde ainda é possível ser lento, atencioso, ser profundo e ser verdadeiramente inteiro.
Em tempos corridos onde tudo é de urgência permanente, escolher ler em vez de rolar o feed das telas, saborear em vez de engolir, questionar em vez de consumir, é quase um manifesto antropocentrista. É dizer: eu existo como individuo além da pressa, eu mereço viver e não só sobreviver, eu me permito os pequenos luxos da vida como um teatro, cinema ou museu, porque é nesses momentos com o livro nas mãos, vinho na taça ou um café fumegando ao lado, que o véu da vida se revela não como corrida a ser vencida a todo custo e muitas vezes do custo de se negar ou de não se permitir enxergar o outro que está na mesma estrada que você, muitas vezes clamando silenciosamente que você desacelere, pois vocês vão na mesma direção e não precisa ser solitário a experiência a ser vivida. E descobrir que os melhores prazeres não são os mais caros ou sofisticados, mas os mais atentos, os mais presentes, os mais nossos. E talvez se você tiver “sorte” estar de mãos dada a quem está lá presente de corpo e alma a seu lado.
Um livro, um vinho, um café. Três formas de dizer sim à vida. Três maneiras de lembrar que somos mais que máquinas numeradas de produtividade. Três pequenos atos de liberdade e que seja so o inicio ou recomeço da nossa grande jornada de volta para casa.
Teólogo e Filósofo em formação e curioso sobre o sentido da vida. Apaixonado por aprender, ensinar e inspirar reflexão.