Trilogia teatral inspirada em ‘Grande Sertão: Veredas’ estreia no Futuros – Arte e Tecnologia

O Julgamento do Zé Bebelo - Foto: Renato Mangolin

Inspirada em um dos maiores clássicos da literatura brasileira, a trilogia ‘Grande Sertão: Veredas’ chega aos palcos do Futuros – Arte e Tecnologia, no Flamengo, em 24 de janeiro de 2025. Com direção de Amir Haddad e protagonizados por Gilson de Barros, ‘O Diabo na Rua, No Meio do Redemunho’, ‘Riobaldo’ e o inédito ‘O Julgamento de Zé Bebelo’ apresentam ao público provocantes encenações da obra de João Guimarães Rosa.

Os espetáculos trazem à tona a complexidade da justiça e da moral no sertão brasileiro, com uma encenação que reflete os estudos intensivos da obra do escritor. Em cartaz até 22 de fevereiro, de sexta à domingo, às 19h, as três peças apresentam tramas independentes e podem ser conferidas na ordem em que o espectador preferir. Inédita no Rio, “O Julgamento de Zé Bebelo” terá sessões nas primeiras três semanas: de 24 de janeiro a 9 de fevereiro, e ainda nos dias 16 e 23 de fevereiro. Já “Riobaldo” será apresentada nos dias 14 e 21 de fevereiro, e “Diabo na rua, no meio do Redemunho”, em 15 e 22 de fevereiro.

“A montagem preserva a especificidade da linguagem poética de Guimarães Rosa, utilizando técnicas de interpretação narrativa que permitem uma imersão profunda na história, respeitando a riqueza linguística do autor”, afirma o protagonista Gilson de Barros.

“O espaço cênico minimalista, com poucos elementos visuais e sonoros, foi concebido para não sobrecarregar a narrativa, criando um ambiente propício para que o espectador se entregue à força da história e às questões universais que permeiam a obra”, acrescenta o diretor Amir Haddad.

O projeto teve início em 2020, com a estreia de “Riobaldo”, que conquistou reconhecimento ao ser indicado ao Prêmio Shell 2022 nas categorias de Melhor Ator e Dramaturgia. Em 2022, “Diabo na Rua, No Meio do Redemunho” deu continuidade a iniciativa de verter a obra de Guimarães Rosa para o teatro. Desde então, os espetáculos têm percorrido cidades brasileiras, além de se apresentar em Portugal e Bogotá, levando a rica cultura nacional para plateias diversas.

“O Futuros – Arte e Tecnologia é também espaço para importantes reflexões sobre a história do nosso país, seja nas comunicações, na arte e na literatura. ‘Grande Sertão Veredas’ leva para o palco do nosso teatro uma história rica e relevante sobre o Brasil, em total convergência com o que buscamos promover no centro cultural”, aponta Victor D’Almeida, gerente de cultura do instituto Oi Futuro.

Palestras sobre o universo de Grande Sertão: Veredas

Como parte da programação cultural, todas as quintas-feiras, às 19h, o público contará com um ciclo de palestras com entrada gratuita, dedicado ao universo do livro ‘Grande Sertão: Veredas’. Sob a curadoria de Gilson de Barros, participam professores renomados das universidades UFRJ, UERJ, PUC e UFF, trazendo diferentes perspectivas e reflexões sobre a obra de Guimarães Rosa.

Programação das palestras:

23 de janeiro: A professora Ana Bernardes, do Colégio Pedro II, com vasta experiência em ensino e pesquisa, apresentará a palestra “A importância e os desafios da transmissão do legado de Guimarães Rosa para as gerações futuras”. Ela discutirá estratégias para levar o universo roseano às salas de aula, compartilhando sua vivência como professora e coordenadora pedagógica.

30 de janeiro: Danielle Corpas, doutora em Teoria Literária pela UFRJ, ministrará a palestra “Os jagunços somos nós: visões do Brasil na crítica de Grande Sertão: Veredas”. Autora de livros sobre o tema e integrante do GT Anpoll Literatura e Sociedade, Corpas abordará como a obra de Guimarães Rosa reflete visões sobre o Brasil e as complexidades da identidade nacional.

6 de fevereiro: Cristiane Brasileiro, professora da UERJ com mais de 20 anos de experiência no ensino superior, discutirá na palestra “Reflexões sobre literatura brasileira” a importância da formação continuada de educadores. Sua abordagem conectará as práticas pedagógicas contemporâneas ao legado de Guimarães Rosa.

13 e 20 de fevereiro: André Dias, professor da UFF e especialista em literatura e dramaturgia, apresenta “Eu queria decifrar as coisas que são importantes: o amor no Grande Sertão: Veredas”, explorando as nuances do amor na obra de Rosa. O ciclo será encerrado por Lívia Baia, doutora pela PUC-RJ, com a palestra “Do ‘desejo de escrever’ à ‘escritura‘: o percurso de Guimarães Rosa”, analisando os processos criativos do autor em diálogo com Walter Benjamin e James Joyce.

Guimarães Rosa pelo olhar de Amir Haddad e Gilson de Barros

Amir Haddad – @amirhaddadreal

“Li as duas primeiras páginas do ‘Grande Sertão’ várias vezes até perceber que aquela ‘língua’ tinha tudo a ver comigo. O resto da narrativa devorei em segundos, segundo minhas sensações. Aprendi a ler, aprendi a língua, lendo este romance portentoso no original. Entendi! Não era uma tradução, era um livro brasileiro, escrito na ‘língua’ brasileira.

Até hoje me orgulho de ser conterrâneo e contemporâneo de Guimarães Rosa. E tenho certeza de que qualquer leitor estrangeiro que ler o livro traduzido jamais lerá o que eu li. Assim como jamais saberei o que lê um inglês quando lê Shakespeare. Os realmente grandes são intraduzíveis.”

Gilson de Barros – @gilsondebarrosator

“Há alguns anos venho estudando a obra de Guimarães Rosa, com ênfase no livro Grande Sertão: Veredas. Interpretar Riobaldo tem sido meu trabalho e minha dedicação. A cada releitura do livro, cada temporada da peça, a cada curso que participo, vou aumentando a compreensão da obra.

O objetivo é traduzir a prosa Roseana para a linguagem do teatro. Pretensioso, eu sei. Mas, não imagino outra forma de enfrentar essa obra-prima, repleta de brasilidade. Por fim, registro a honra de estar no palco com o suporte de João Guimarães Rosa, Amir Haddad, Aurélio de Simoni e todos os colegas envolvidos nessa montagem. Evoé!”

Trecho da crítica de Furio Lonza

“…Riobaldo é teatro na veia, um Guimarães pocket, algo de novo na dramaturgia nacional; sem adereços, sem cenografia e sem figurinos, mas com uma luz abrasiva pilotada pelo experiente Aurélio de Simoni. Em cena, Gilson de Barros administra o tempo e o espaço como se fosse um demiurgo regendo o sol do sertão, uma espécie de deus onisciente que acompanha com ternura passo a passo as andanças de suas criaturas lá embaixo, nas veredas de um mundo lancinante e despreparado para conceber uma lógica formal do cotidiano…”

Sinopse:

O Julgamento de Zé Bebelo

“O Julgamento de Zé Bebelo” transporta o público para o contexto da transição entre a República Velha e o início do governo de Getúlio Vargas, traçando um panorama detalhado do sistema jagunço e do poder dos coronéis. Zé Bebelo, um chefe jagunço rival, é derrotado na guerra e, ao invés de ser executado como de costume, exige um julgamento “correto e legal”. Essa passagem, além de ilustrar um pluralismo jurídico no sertão, apresenta uma teoria da justiça única, onde Joca Ramiro, o chefe dos chefes, assume o papel de juiz, garantindo a Zé Bebelo o direito à defesa com todas as garantias de um processo civilizado.

Riobaldo

Personagem central do romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, o ex-jagunço Riobaldo relembra seus três grandes amores: Diadorim, Nhorinhá e Otacília. O incompreendido amor por Diadorim, o amigo que lhe apresentou a vida de jagunço e lhe abriu as portas do conhecimento da natureza e do humano, levando-o ao pacto fáustico; o amor carnal e sem julgamentos pela prostituta Nhorinhá; e o amor purificador por Otacília, a esposa, que o resgatou do pacto fáustico e o converteu em ‘homem de bem’.

Diabo na rua, no meio do Redemunho

Riobaldo, um ex-jagunço, hoje um velho fazendeiro, conversa com um interlocutor (o público). Nesse encontro, cheio de filosofia, ele conta passagens de sua vida e reflete sobre a dialética: bem e mal, Deus/diabo.  Na juventude, por amor a Diadorim, e para conseguir coragem e força, fez o que julga ser um pacto fáustico. Durante a narrativa, o personagem se vale de várias histórias populares, para questionar: “o diabo existe?”.

 

Ficha Técnica

Riobaldo

A partir do livro Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa

Recorte e atuação: Gilson de Barros

Direção: Amir Haddad

Cenário e figurinos: Karlla de Luca

Iluminação: Aurélio de Simoni

Programação visual: Guilherme Rocha e Pedro Azamor

Fotos e vídeos: Renato Mangolin

O Diabo na rua, no meio do Redemunho

A partir do livro Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa

Recorte e atuação: Gilson de Barros

Direção: Amir Haddad

Cenário e direção de arte: José Dias

Iluminação: Aurélio de Simoni

Programação visual: Guilherme Rocha e Pedro Azamor

Fotos e vídeos: Renato Mangolin

O Julgamento de Zé Bebelo

A partir do livro Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa

Recorte e atuação: Gilson de Barros

Direção: Amir Haddad

Cenário e direção de arte: José Dias

Figurinos: Karlla de Luca

Iluminação: Aurélio de Simoni

Programação visual: Guilherme Rocha e Pedro Azamor

Fotos e vídeos: Renato mangolin

Realização: Barros Produções Artísticas Ltda.

Serviço

Futuros – Arte e Tecnologia

  1. Dois de Dezembro, 63 – Flamengo,

Ingressos: R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia).

Duração: 70 minutos

Classificação etária: 16 anos

Capacidade: 63 lugares

Datas:24 de janeiro a 23 de fevereiro

De sexta a domingo, às 19h.

O Julgamento de Zé Bebelo – 24/01 a 09/02 e 16 e 23 de fevereiro de 2025.

Riobaldo – 14 e 21 de fevereiro de 2025

Diabo na rua, no meio do Redemunho – 15 e 22 de fevereiro de 2025.

Sobre o Futuros – Arte e Tecnologia

Inaugurado há 19 anos com a proposta de democratizar o acesso a experiências de arte, ciência e tecnologia, o centro cultural Futuros – Arte e Tecnologia convida o público a refletir sobre grandes temas deste século que norteiam a sua linha curatorial: meio ambiente, ancestralidade, infância, diversidade, educação e as inúmeras questões que envolvem a tecnologia e o seu impacto no desenvolvimento da humanidade. O espaço investe de forma recorrente na produção e inovação artística, com experimentação de novas linguagens, busca revelar novos talentos e valorizar e desenvolver o setor cultural do país, além de expandir a colaboração com a cena artística internacional, consolidando o Brasil na rota mundial da economia criativa.

Nomes como Andy Warhol, Nam June Paik, Jean-Luc Godard, Luiz Zerbini e Lenora de Barros são alguns dos expoentes que já ocuparam suas galerias ao longo dos últimos anos. Seu espaço já foi palco da cena cultural carioca e nacional com eventos como Festival do Rio, Panorama de Dança, Multiplicidade, Novas Frequências e Tempo_Festival, sendo os três últimos especialmente concebidos para a instituição.

Com programação diversa e voltada para toda a família, o centro cultural abriga galerias de arte, um teatro multiuso e o Musehum – Museu das Comunicações e Humanidades. Com acervo de mais de 130 mil peças históricas sobre as comunicações no Brasil, promove ainda experiências imersivas e interativas que divertem e estimulam a reflexão sobre o impacto das tecnologias nas relações humanas. Em 2023, mais de 127 mil pessoas visitaram suas dependências.

Fundado pela Oi, sua principal mantenedora, e com gestão do Oi Futuro, em 2024 o Futuros – Arte e Tecnologia conta com patrocínio de BNY e EY, com apoio do Governo Federal através da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro – Lei do ISS, o projeto Vem, Futuro! Ano 2 é realizado pela Zucca Produções, em parceria com o Oi Futuro, no centro cultural, com patrocínio da Serede, Oi, Tahto e Prefeitura do Rio de Janeiro/SMC, oferecendo programação cultural, ações educativas e abrangendo infraestrutura de apoio nas galerias, no teatro e no Musehum.

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