“Tudo sobre o amor”, de Bell Hooks, inspira peça de teatro

Espetáculo “Tear”, dirigido por Ravínia Sobrinho, estreia em curta temporada na UNIRIO

Tudo sobre o amor

Um dos grandes sucessos da pensadora e ativista bell hooks, “Tudo sobre o amor: novas perspectivas” é a linha que tece a dramaturgia do espetáculo “Tear”, dirigido por Ravínia Sobrinho, que estreia em curta temporada na UNIRIO. Na obra, a autora estadunidense investiga as dinâmicas do amor nas esferas familiares, românticas, sociais e religiosas, por meio de histórias pessoais e argumentos filosóficos. Tocada pela leitura, Ravínia decide explorar o tema no teatro, através de múltiplas linguagens artísticas. A partir da encenação, da dança e da música, a peça busca elaborar o que é (e o que não é) o amor, para além das palavras.

Ao se confrontar com a dificuldade de se relacionar na vida adulta, Luiza é convidada a fazer uma viagem para o passado, revisitando sua infância e olhando para a própria família sob outra perspectiva. Para a diretora, a forma como bell hooks analisa as relações familiares foi o ponto de partida: “me levou a questionar a possibilidade de estabelecer uma relação sincera e honesta, principalmente entre pais e filhos, quando a omissão e a mentira costumam ser a regra do jogo”, comenta. “Tear” representa esta trama de memórias e crenças costuradas em comportamentos da infância até a vida adulta.

A dramaturgia surge a partir de provocações do livro exploradas em sala de ensaio. Os atores responderam à proposta da diretora compartilhando memórias pessoais, textos de livre associação, partituras corporais e imagens. “Meu trabalho foi reunir o que o grupo tinha vontade de dizer e colocar numa estrutura”, revela. A história é vivida por cinco atores que interpretam mãe (Clara Roza), pai (Caio César), Luiza na infância (Isis Gadelha), Luiza adulta (Beatriz Blois) e um último personagem-chave (Daniel Neves) que faz a protagonista refletir sobre a própria forma de se relacionar.  

Bell hooks defende que para desmistificar o significado do amor, da arte e da prática de amar, deve-se usar definições claras de amor ao conversar com as crianças, enaltecendo a importância da infância no firmamento desta estrutura, além de assegurar que ações amorosas nunca sejam contaminadas pelo abuso. Da mesma forma, a peça traz à tona o princípio das relações abusivas. Segundo Ravínia Sobrinho, retratar uma possibilidade de família amorosa não era suficiente: “a realidade social que vivemos não é essa e não me interessa apresentar uma utopia. Tear parte de uma situação real, de pessoas machucadas, traumatizadas, que vêm de uma construção familiar disfuncional para dizer que há possibilidade de mudança apesar do que foi vivido”, comenta.

RAVÍNIA SOBRINHO

Antes mesmo de ser alfabetizada, Ravínia já escrevia. Em 2019, aos 16 anos, reuniu alguns de seus textos que partiam de uma mesma temática (fins e partidas de relações) e publicou seu primeiro livro “Trago de Nós”, que ganhou o Prêmio Olho Vivo em 2020. “Assim como a Luiza, personagem principal da peça, eu também sou uma contadora de histórias. A escrita sempre foi um refúgio, um espaço em que a minha cabeça encontrava uma organização extra-cotidiana do que eu sentia e observava do mundo”, revela.

Nascida em Volta Redonda, Ravínia iniciou no teatro aos oito anos pela Cia. Arte em Cena sob direção de Stael de Oliveira, mas já dançava desde os três, o que a levou a competir em festivais nacionais e internacionais durante sete anos, nas modalidades Ballet clássico, Dança contemporânea e Jazz pelo Centro de Dança Elo sob direção de Péricles de Araújo, ganhando 2º lugar como coreógrafa com o solo contemporâneo “Fuga” nos festivais Expressão e Arte e CBDD-RJ, ambos em 2021. Hoje cursa licenciatura na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e pedagogia na Estácio de Sá desde 2020 e integra o Núcleo de Dança Para Atores sob direção de Roberto Lima. No ano de 2024 atuou como diretora de movimento, preparadora corporal e coreógrafa no espetáculo “A Guerra dos Bichos” sob direção de Christina Streva.

Classificação: 16 anos

Duração: 70 minutos

SERVIÇO

Local: Sala Pascoal Carlos Magno – Palcão Unirio. Avenida Pasteur, 436 – Urca, Rio de Janeiro

Datas: 30/10; 31/10; 1/11; 2/11

Horário: Quarta, quinta e sexta às 20h; sábado às 19h.

Ingressos: Gratuito. Distribuição de senhas 1h antes do espetáculo (sujeito a lotação)

FICHA TÉCNICA

  • Elenco: Beatriz Blois; Caio César; Clara Roza; Daniel Neves; Isis Gadelha
  • Direção e Dramaturgia: Ravínia Sobrinho
  • Cenografia: Eduarda Brandão
  • Indumentária: Rian Oak
  • Assistência de Cenografia e Indumentária: Gisele Lyra; Haru Vieira; Lia Pisetta; Samir Alves
  • Caracterização: Beatriz Blois
  • Design de luz: Lara Aline
  • Operação de Luz: Lara Aline; Samir Alves
  • Direção Musical: Nigga 
  • Operação de Som: Xandão Viana
  • Direção de produção: Jota Fontenele
  • Produção executiva: Caio César
  • Assistentes de produção :Mateus Maldonado; Laura Beatriz
  • Mídias Sociais: Caio César
  • Design: Beatriz Lago; Daniel Neves
  • Assessoria de Imprensa: Mar Comunicação
  • Fotografia: Nigga