Em tempos em que o surreal virou rotina, a arte reage com coragem, humor e irreverência. É dessa mistura explosiva que nasceu a TV Biribinha, um coletivo audiovisual carioca que transforma crítica social em entretenimento, e faz da comédia uma arma afiada contra o absurdo.
Idealizado por Rodrigo Mello, ator, filósofo e cineasta em formação, o projeto surgiu em 2024 como uma novela vertical para o Instagram, formato desafiador, quase impossível, mas que foi levado adiante na base do improviso, da criatividade e da ousadia. “Uma câmera na mão e um sonho”, como diz Rodrigo, referenciando o espírito do Cinema Novo.
A TV Biribinha é uma emissora fictícia decadente, que já teve seus dias de glória, mas agora luta para não fechar as portas. O palco dessa novela é Biribuaçu, um bairro inventado que mistura a informalidade de Madureira com o glamour do Leblon. Entre agiotas, celebridades falidas, influencers de aluguel e figuras políticas caricatas, os personagens enfrentam um mundo que parece ficção, mas é só o Brasil mesmo. Tudo é ficção. E tudo é verdade.
O diferencial da Biribinha está na metalinguagem: quando seus personagens saem às ruas entrevistando pessoas, não são repórteres, são atores vivendo seus papéis dentro e fora da tela. Tudo faz parte do mesmo universo, uma espécie de “realidade paralela carioca” onde os limites entre arte, vida e crítica política estão sempre borrados.
Ângela Molinari, atriz premiada internacionalmente e também cofundadora do projeto, explica: “Não acredito em arte dissociada da política, especialmente em tempos atuais.”
A TV Biribinha assume sem medo sua inspiração Brechtiana, recusando neutralidade e apostando em uma crítica cômica, porém afiada. Não se trata de panfletar, mas de provocar reflexão e escancarar contradições.
A estética da Biribinha é um caldeirão pop e político: das tirinhas do Zé Carioca ao espírito subversivo de “Os Aspones”, da farsa de “Sai de Baixo” ao caos criativo de “O Último Programa do Mundo”. Também carrega no DNA as influências do Cinema Novo, do Marginal, e da televisão que ousava ,tudo temperado com muito deboche.
Nas ruas, na tela e na luta, a popularidade do projeto vem crescendo com quadros que viralizam ao trazer os personagens da novela para interagir com o público nas ruas ,sempre com humor, mas sem abrir mão do incômodo necessário. Em uma dessas ações, um vídeo da TV Biribinha ultrapassou 1,7 milhão de visualizações no TikTok em menos de 24h, um feito raro para produções independentes.
Mas nem tudo são aplausos. O vídeo foi posteriormente excluído da plataforma sem explicação clara, levantando discussões sobre censura algorítmica, liberdade artística e o papel das redes sociais no debate público. A exclusão levou o coletivo a buscar amparo jurídico, com o apoio do escritório Flora, Matheus & Mangabeira, que aponta violação de diretrizes recentemente reafirmadas pelo STF.
Rodrigo Mello resume o impacto: “A exclusão do vídeo compromete nossa visibilidade e o diálogo com o público. É um ataque à liberdade artística, à crítica e à produção cultural independente.”
No Instagram, no TikTok e nas conversas que importam, sigam, compartilhem, e entrem em Biribuaçu, onde o absurdo é só o começo.
