A Universidade Federal Fluminense (UFF) vai homenagear a cirandeira pernambucana Lia de Itamaracá, 81 anos, com o título de Doutora Honoris Causa. A cerimônia acontece no dia 29 de setembro, durante a 14ª edição do Festival Interculturalidades, no Centro de Artes UFF, em Niterói. É a primeira vez que a instituição concede a honraria a uma personalidade fora da área acadêmica.
Nascida como Maria Madalena Correia do Nascimento, filha de uma empregada doméstica e de um agricultor, Lia entoa desde 1970 cirandas que se tornaram clássicos da cultura popular brasileira. Reconhecida como uma das maiores artistas da tradição afro-indígena do país, a “dama da ciranda” acumula títulos e prêmios, transformando-se em símbolo de resistência e perpetuação das tradições culturais.
“Quanto mais eu receber homenagens, melhor. O bom é receber enquanto estou viva. Se alguém tem que fazer alguma coisa por mim, que faça comigo viva. Aí, eu posso gritar independência ou morte! Viva o Brasil. Eu tô viva! E tem mais: quando a pessoa vem de baixo, e sobe, não desce mais não. Eu sou Lia!”, entoa a artista.
Além da homenagem a Lia de Itamaracá, a UFF também concederá o título de Notório Saber em Saberes, Artes e Ofícios Tradicionais a três mestres da cultura ancestral: Mestra Marilda, do Quilombo Santa Rita do Bracuí (Angra dos Reis); Mestre Ogã Kotoquinho, das Filhas de Gandhy (Baixada Fluminense); e Mestra Fatinha do Jongo do Pinheiral.
Lia de Itamaracá
O Interculturalidades chega à sua 14ª edição com o tema “Encantações do Brasil”, que celebra o país como um lugar em que cotidiano e extraordinário se entrelaçam. A proposta é consolidar a universidade como espaço aberto a diferentes formas de conhecimento, aproximando a produção acadêmica dos saberes tradicionais.
Lia de Itamaracá
“Queremos uma universidade que reconhece, valoriza e integra os saberes tradicionais como parte de sua cultura acadêmica. Ao homenagear Lia de Itamaracá e mestres da cultura popular, a UFF reafirma seu compromisso com a diversidade e com a democratização do conhecimento”, afirmou o reitor Antônio Cláudio.
Para o diretor de Artes da UFF, Leonardo Guelman, o festival cumpre uma missão estética e política ao ampliar o papel da universidade:
“O Interculturalidades é um encontro em que as artes se tornam linguagem de transformação. Ao reunir mestres da tradição popular e artistas contemporâneos, a universidade cria um território de diálogo que rompe fronteiras entre o saber acadêmico e a criação cultural do povo”, completa.
Durante o evento, também será realizada uma residência artística com 25 jovens lideranças de comunidades tradicionais do Rio de Janeiro, promovendo intercâmbio entre mestres e novas gerações, com foco em memória, ancestralidade e tecnologia social.
O Festival Interculturalidades é realizado pela Fundação Euclides da Cunha de Apoio Institucional à UFF e conta com recursos da Lei Aldir Blanc, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro (Secec-RJ).