“Partindo de um problema pessoal e fazendo reflexões mais amplas, acabei descobrindo um dado inédito e magnífico sobre a inveja”, diz o poliglota Eber Hernandes. “Notei que, uma vez que se pensa a inveja como construção social, todos os casos de inveja ficam harmonicamente explicados”. Sabe-se que problemas como machismo e racismo, por exemplo, são construções sociais. Mas, antes do Eber, ninguém jamais havia pensado e explicado a inveja como construção social.
Eber Hernandes já publicou livros de cálculos mentais, romance, canto lírico etc. Mas o trabalho de que mais se orgulha é justamente O Mistério da Inveja. “Trata-se de uma explicação que, além de estar totalmente afinada com a estrutura da realidade, está alinhada, também, com as rigorosas pesquisas de cientistas tais quais Pierre Bourdieu e Emile Durkheim”, afirma Eber.
O francês Pierre Bourdieu, por exemplo, nomeia pessoas mais simples de “ingressantes”; e, aos maus tratos que são dispensados a essas pessoas mais simples, Bourdieu chama de “violência simbólica”. De acordo com as teorias de Bourdieu, a violência simbólica (maus tratos aos mais simples) acontece porque a sociedade construiu parâmetros que nos fazem pensar que pessoas mais simples merecem menos conforto.
Pois bem, o brasileiro Eber percebeu que a inveja acontece justamente quando não há violência simbólica (contra os ingressantes). Ou seja, segundo Eber, a inveja acontece quando o costume, os parâmetros – aquilo que está estabelecido como “normal e correto”, sofre uma ruptura. A inveja acontece quando, por exemplo, o porteiro do hospital ao invés de sofrer os desprezos e a violência simbólica “normais”, acerta na loto e ganha mais dinheiro do que o médico diretor do hospital.
Eis, segundo O Mistério da Inveja, porque ficamos desconcertados, angustiados – ou seja, eis porque temos a desagradável sensação chamada inveja; houve um abalo no costume, no pacto social abstrato.
“Essa angústia”, segue explicando Eber, “acontece, não necessariamente porque se quer ter o brilho do outro, ou por conta de um trauma de infância, mal olhado etc; mas sim porque acorre um abalo no “normal”, nos parâmetros sociais. Minha teoria vai, portanto, um pouco mais para dentro; ela mostra o que causa a inveja e como a inveja de fato funciona. Eu mostro qual é como funciona a força social geradora da inveja”.