Para quem nunca assistiu nenhum episódio da franquia The Walking Dead, saiba que o texto pode conter SPOILERS!
Lembro perfeitamente da empolgação quando anunciaram The Walking Dead. Suspense e terror sempre foram meu gênero favorito, e a promessa de uma trama sobre sobrevivência em meio ao apocalipse zumbi parecia irresistível. Comecei a assistir meio incrédula, mas fui fisgada. Durante anos, segui religiosamente cada episódio da série-mãe, até que algo mudou. A morte de Glenn me tirou completamente da imersão. Não vi sentido naquilo, e a série perdeu o brilho. Teimosa, continuei até o final das 11 temporadas, mas o encanto já tinha acabado há muito tempo.
O que começou como uma promessa de revolução no gênero de terror televisivo se transformou em uma sucessão de decisões criativas questionáveis. A AMC apostou alto em chocar o público, mas esqueceu que existe uma linha tênue entre impacto narrativo e pura manipulação emocional. Quando essa linha foi cruzada, a audiência simplesmente virou as costas. Os dados de audiência contam uma história brutal de abandono em massa, e as razões vão muito além do simples ‘cansaço de série’.
Eu fui uma dessas pessoas. Mas não apenas eu, milhões de fãs ao redor do mundo sentiram exatamente a mesma coisa.
O ponto de virada que ninguém pediu
Os números não mentem. A quinta temporada de The Walking Dead mantinha uma média de 14 milhões de espectadores por episódio. Na sexta temporada, quando Negan apareceu pela primeira vez, o número caiu para 13 milhões. A sétima temporada, marcada pela brutal execução de Glenn e Abraham, despencou para 11 milhões de espectadores. A queda foi tão significativa que Sarah Barnett, presidente da AMC, admitiu em entrevista ao site Cinema Blend que a série perdeu audiência após a introdução do vilão, declarando que Negan se tornou ‘irremediável’ aos olhos dos fãs.
A decisão de matar Glenn da forma como foi feita gerou uma revolta coletiva. Como bem observou Karen Caires, ex-espectadora que abandonou a série naquele momento, no fórum Quora: “O roteiro deixou de fazer sentido desde os tempos do Governador. Não se tratava mais de seguir uma história ou desenvolver personagens. Era tudo sobre chocar as pessoas, ganhar audiência e entrar para os trending topics. A sensação de traição era palpável.”
Quando o choque vira estratégia
O problema não foi apenas matar um personagem querido. Foi a forma como a produção usou a morte como ferramenta de marketing. Chandler Riggs, o ator que interpretava Carl, mal foi avisado que seria morto na série até o dia das filmagens, segundo relatos de espectadores que pesquisaram sobre o caso. Karem Schartz, outra ex-espectadora, encontrou artigos afirmando que o produtor disse que matar Carl era estritamente para chocar e gerar audiência, contou ela no Quora. Ali, muitos fãs perderam todo o respeito pelas pessoas que comandavam a série.
Edie Enriquez compartilhou no Quora o quanto a morte de Carl o afetou: parou de assistir porque a morte do personagem o incomodou por tempo demais. As lutas intermináveis, os padrões repetitivos de encontrar um grupo ruim, derrotar o grupo ruim e encontrar um pior ainda. A única maneira de a história continuar era se tornar mais sombria, os personagens mais amargos e com menos esperança. Ele simplesmente não precisava mais daquela negatividade na vida.
As spin-offs que ninguém pediu
Quando a série-mãe já mostrava sinais claros de desgaste, a AMC decidiu investir em spin-offs. A lógica parecia questionável desde o início: se os fãs já estavam descontentes com a trama original, por que criar derivações? Fear The Walking Dead até conseguiu prender minha atenção no começo, mas depois ficou arrastada e repetitiva. A explosão nuclear tirou qualquer sentido da narrativa. Abandonei na penúltima temporada e, sinceramente, nem quero saber como terminou.
World Beyond me perdeu ainda na primeira temporada. Uma série infantil e completamente sem nexo, nada a ver com a trama original. Amanda Guerra, do site Horrorizadas, foi generosa ao dar apenas 1 zumbi de nota para a produção, destacando que, apesar de explorar temas importantes sobre o universo, a aposta em adolescentes sobrevivendo aos zumbis ficou clichê e arriscada.
O desastre chamado Dead City e The Ones Who Live
Dead City tinha tudo para funcionar. Negan, interpretado por Jeffrey Dean Morgan (um dos meus atores preferidos), ao lado de Maggie seguindo para uma Nova York destruída. Odiei desde as primeiras cenas. Parei no terceiro episódio e não voltei mais. Já The Ones Who Live, com Rick e Michonne, foi simplesmente uma porcaria multiplicada por 10 mil. Não consegui sair nem do segundo episódio. Trama chata, arrastada, sem sentido, ficava indo e voltando em assuntos que não tinham nada a ver com a série-mãe e os quadrinhos.
Mesmo Amanda Guerra, que avaliou positivamente Dead City com 4 zumbis, foi crítica em relação a The Ones Who Live, dando apenas 2 zumbis e questionando decisões narrativas como Michonne deixar seus filhos para trás por tanto tempo para buscar alguém que tinha grande probabilidade de estar morto.
Daryl perdido em Paris
E então resolveram dar uma série só para Daryl, personagem que nem existe nos quadrinhos originais. Daryl foi criado especificamente para a série-mãe e, confesso, muitas vezes foi ele quem segurou muitos capítulos até o final. Mas jogaram o cara para Paris. Até agora não consigo entender como ele foi parar lá e por que foi parar lá. Quando chegou na parte da Carol ir atrás dele (do continente americano para o europeu em plena pandemia zumbi!), para mim deu. Sem nexo, sem sentido, sem história.
Curiosamente, essa foi a única spin-off que recebeu nota máxima de Amanda Guerra, com 5 zumbis, justamente pela mudança de cenário e pela introdução de novas variantes de zumbis. Talvez eu tenha abandonado cedo demais, mas a premissa inicial simplesmente não me convenceu.
O fim que ninguém esperava (mas todos mereciam)
Quando anunciaram o fim de The Walking Dead na 11ª temporada, a surpresa foi geral. A AMC sempre prometeu que a série duraria 15, talvez 20 anos. Segundo reportagem da Rolling Stone Brasil, o material-fonte de Robert Kirkman simplesmente acabou. A HQ terminou abruptamente em 2019, e apesar da série tomar várias liberdades criativas, o arco principal estava finalizado.
Mas a verdade é mais complexa. Como apontou o site Observatório do Cinema, a saída de atores centrais como Andrew Lincoln (Rick) e Danai Gurira (Michone), tanto por falta de interesse quanto por demandas salariais crescentes, tornou insustentável manter a produção. O alto custo de produção e os salários do elenco se tornaram um desafio financeiro para a AMC, especialmente com a queda na audiência.
Quando é hora de deixar morrer
Peter, outro ex-espectador do Quora, resumiu bem o sentimento geral: os escritores perderam contato com qualquer tipo de realidade. As três primeiras temporadas foram boas, mas depois a série alcançou um status cult e seu público parecia estar no comando. Até criaram um talk show para discutir os episódios (sem comentários). Para ele, o programa se tornou uma paródia do estilo de vida americano, onde jogos de soma zero são a regra.
Agora, em 2025, as séries de Daryl e Dead City retornaram com novas temporadas. Nem consegui iniciá-las. Para mim, chega de The Walking Dead. A série-mãe já começou a perder seu brilho há muito tempo. Fear The Walking Dead tentou capturar a magia com novos personagens marcantes, mas falhou gigantescamente. As outras nem valem a pena comentar.
Desculpe quem ainda é fã das séries, mas para mim chega de assistir uma trama zumbi arrastada que fica enchendo linguiça para manter os fãs presos em histórias desconexas e ruins. Quem ainda ama e acompanha, meus parabéns, vocês são guerreiros. Mas tenho certeza de que existe muita gente como eu que decidiu de vez ‘apagar a pastinha’ de TWD e procurar outra franquia para se apaixonar.
Eu me foquei na franquia NCIS e pretendo ficar nela até cansar. E vocês, quando largaram TWD, mudaram seu foco de amor e atenção para que série ou franquia?
Carioca com alma paulista. Jornalista Digital, Assessora de Imprensa, Escritora, Blogueira e Nerd. Viciada em séries de TV, chocolate, coxinha & Pepsi. Segue no Insta: @poltronatv.ofc