A coletânea “1964: O que ainda nos resta dizer?”, organizada pela historiadora Luciene Carris, acaba de ser lançada pela Editora Metanoia (Selo Estudos Americanos) e traz uma reflexão profunda sobre um dos períodos mais sombrios da história do Brasil: a ditadura militar. Com 11 autores, o livro propõe uma análise abrangente sobre o legado do golpe de 1964 e seus impactos na sociedade brasileira, abordando temas como a repressão, a resistência e as consequências para diversos segmentos da população. O lançamento acontece no dia 26 de abril, às 13h, na Livraria e Edições Folha Seca, no Centro, no Rio de Janeiro.
Dividido em oito capítulos, o livro apresenta uma gama de temas centrais, como a destruição e a reconstrução de patrimônios, a resistência artística e comunitária, a repressão aos trabalhadores rurais e a luta por moradia. A coletânea também examina as diversas formas de opressão enfrentadas pelo povo brasileiro, especialmente nos momentos mais difíceis da ditadura.
“A ideia da coletânea surgiu da inquietação que possuo com essa efeméride, com essa data, tanto como historiadora quanto como cidadã, ao perceber o quanto ainda precisamos falar — e, sobretudo, rememorar a ditadura militar. Sessenta e um anos após o golpe de 1964, acredito que ainda há muito a ser dito. A minha intenção era propor um outro olhar que escapasse do lugar-comum, que buscasse outras histórias, outros personagens, outras formas de escrever e contar sobre esse tenebroso período história do Brasil”, explica Luciene Carris, organizadora do livro.
“1964: O que ainda nos resta dizer?” busca não apenas revisitar o passado, mas também instigar um debate sobre o presente. Ao completar 60 anos do golpe em 2024, o livro aponta para os desafios que ainda enfrentamos para garantir uma sociedade democrática e livre de repressões, com foco em temas ainda atuais, como a liberdade de expressão, a resistência política e a luta por direitos fundamentais.
Em tempos em que o passado é frequentemente revisitado, a coletânea traz uma contribuição importante para o entendimento da história recente do Brasil, estimulando a reflexão crítica sobre o legado da ditadura militar e suas reverberações até os dias de hoje.
Jorge Ferreira, professor de História Popular da Universidade Federal Fluminense, e responsável pelo prefácio, diz que o livro demonstra que ainda temos muito a dizer sobre a ditadura militar.
“O livro aborda a demolição do prédio da Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, destruindo, junto aos escombros, memórias e identidades; um curta-metragem que, em 1968, abordava o tema do homossexualismo no contexto da contracultura, algo inovador até então; a investigação no campo das artes plásticas em eventos ocorridos em Salvador e Belo Horizonte, em 1966 e 1968, respectivamente; canções de vozes femininas na resistência ao autoritarismo, recorrendo a discos de vinil, o Long Play (LP), como fonte documental; o genocídio dos povos originários, em particular os Kinia e os Krenak; a luta dos trabalhadores pela posse da terra, que não começou com o MST; as remoções de moradores das favelas da Zona Sul do Rio de Janeiro para lugares longínquos, violência perpetrada durante a ditadura dos militares com a conivência da sociedade; e, por fim, a luta da comunidade do Horto, também na Zona Sul da cidade, para garantir seu lugar de moradia”, afirma.
Historiador e professor do Programa de Pós-Graduação em História da UERJ, Antônio Edmilson completa que a organizadora e historiadora Luciene Carris, teve a criatividade de propor temáticas que ainda não haviam conquistado lugar nos debates, colocando em questão o movimento de produção de filmes de curta-metragem, as memórias de contestações que não aparecem com frequência, a produção discográficas que possui pouco espaço nos debates, a violência e a repressão aos indígenas através da própria FUNAI, os reflexos do ano de 1964 na experiência de vida dos anódinos trabalhadores rurais, as remoções das favelas e as lutas por política de habitação na cidade do Rio de Janeiro.
Como aponta a historiadora Miliandre Garcia, autora do texto da contracapa, “diante da complexidade desse evento que completou 60 anos em 2024, referências nos estudos de ditadura militar assumiram o compromisso de refletir sobre temas constantemente ressignificados no tempo presente no intuito de que os residuais da ditadura sejam enfim rejeitados pela maioria dos brasileiros que luta por um país mais justo, independente, plural e democrático”.
“Sempre acreditei que o trabalho do historiador é também provocar, questionar, propor. E, para isso, é preciso ter imaginação. É necessária uma certa imaginação na prática historiográfica, que nos permita enxergar as fontes sob novas perspectivas, trazer à tona os sujeitos historicamente silenciados, transformar o que antes era considerado periférico, ignorado, em elemento central. Todos os capítulos desta coletânea refletem esse movimento: são trabalhos que não apenas revisam, mas refletem sobre novas formas de pensar sobre a ditadura. Enquanto houver perguntas no presente, haverá novos modos de olhar para o passado”, conclui a historiadora Luciene Carris.
Participam da coletânea os seguintes autores: Andréa Cristina de Barros Queiroz (Memórias monumentais do massacre e dos escombros da Faculdade Nacional de Medicina durante a ditadura civil-militar); Carlos Eduardo Pinto de Pinto e Rodolfo Rodrigues de Souza (Um curta-metragem queer e existencialista: “Um clássico, dois em casa, nenhum jogo fora”/Djalma Limongi Batista, 1968); Andréa Casa Nova Maia, Adriana Camargo Pereira e Rita Lages Rodrigues (Artes plásticas e ditadura: Memórias relevantes e resistências, repressão e censura em Minas e na Bahia); Vicente Saul Moreira dos Santos (Algumas possibilidades de redescobrir um país através de discos); Silene Orlando Ribeiro (Algumas reflexões sobre a política indigenista da FUNAI durante a ditadura militar: violência, resistência e legado. A gestão do General Oscar Jerônimo Bandeira de Mello e o genocídio Kinja); Luzimar Soares Bernardo (1964: Os reflexos na vida dos trabalhadores da terra); Mário Brum (Direito à cidade e mobilização comunitária: a ditadura militar em quatro casos de remoção de favelas) e Luciene Carris e Maria Nilda Bizzo (A luta pela moradia e a preservação da memória na Zona Sul carioca).
Serviço
1964 – O que ainda nos resta dizer?
Organização: Luciene Carris
Lançamento: 26 de abril de 2025, às 13h
Local: Livraria e Edições Folha Seca, Rua do Ouvidor, 37, Centro – Rio de Janeiro
Editora Metanoia – Selo Estudos Americanos
Páginas: 264
Preço: R$60
Resumo: Análise abrangente sobre o legado de “1964”, promovendo uma reflexão sobre a história do Brasil através de uma abordagem que prioriza uma gama de temas como a destruição e a reconstrução de patrimônios, a resistência artística e comunitária, a repressão aos trabalhadores rurais e a luta por moradia, além de examinar a opressão enfrentada pelo povo brasileiro.