O que é preciso para que uma peça se torne um grande filme?
A resposta para essa pergunta é um grande desafio. Não é uma receita de bolo e disso os chefões do cinema sabem bem, pois, quando se trata de dar o salto para a tela de cinema, há tantos fracassos quanto sucessos.
Porém, ocasionalmente, aparece uma peça que parece estar destinada para o mundo do cinema. Basta perguntar aos fãs de Marlon Brando, que desempenhou o famoso papel principal em Um Bonde Chamado Desejo, mas que também apareceu em uma produção teatral do filme clássico.
Aqui estão mais seis peças de teatro que viraram grandes sucessos do cinema.
Hamlet (1948)
Apesar de ser a peça mais longa de Shakespeare, com quase 30.000 palavras, os dramaturgos nunca tiveram medo de enfrentar Hamlet, a tragédia do século XVI sobre um príncipe dinamarquês.
Sir Laurence Olivier foi o ousado pioneiro que a levou para a indústria cinematográfica. Filmado em 1940, o épico de duas horas e meia foi um monstro para seu tempo, mas ainda assim conseguiu cortar o roteiro original pela metade.
O filme de Olivier ganhou o Oscar de melhor filme e ator principal, assegurando-lhe uma posição lendária na história de Hollywood. Isto se deve em parte a como ele captou a sensação de tristeza que séculos de peças tinham feito de forma tão eficaz, marcando-o como um clássico shakespeariano.
Um Estranho Casal (1968)
Às vezes assistimos uma peça de teatro ou um filme e nos perguntamos se ela seria escrita nos dias de hoje.
Um exemplo disso é Um Estranho Casal, uma produção dos anos 60 que gira em torno de um par de personagens principais que se unem no jogo de pôquer. Aconteceria isso no mundo atual dos casinos online e do jogo à distância? Provavelmente de um jeito diferente.
Na versão de Broadway deste sucesso, Walter Matthau desempenhou o papel de Oscar, que logo passaria a reproduzir em um sucesso de Hollywood com Jack Lemmon. Tal foi seu sucesso, que eles produziram uma sequência de filmes que não foram bem sucedidos e a franquia morreu silenciosamente alguns anos depois.
Amadeus (1984)
Esta é uma das poucas adaptações que não apenas fez o salto através das fronteiras, mas também das línguas.
A peça original foi escrita em russo em 1830, mas acabou indo para Londres no final dos anos 70. A Broadway a pegou logo em seguida e foi tão bem sucedida que virou o filme de 1984 que ganharia vários prêmios em seis países diferentes, incluindo o melhor filme vencedor do Oscar dos anos 80.
Por quê? Bem, tanto a peça quanto o filme são construídos em torno de personagens fortes e envolventes, e é isso que impulsiona as duas versões. São versões do século XX de uma velha história sobre um dos maiores compositores que já viveu.
Frost/Nixon (2008)
Vencedor do Prêmio Tony de Melhor Ator Principal (interpretado pelo magnífico Frank Langella), a peça Frost/Nixon foi um sucesso tanto em Londres quanto em Broadway em 2006.
Alguns anos depois, Peter Morgan, o dramaturgo por trás do sucesso, também havia conquistado o mundo do cinema. Sua descrição da série de entrevistas televisionadas entre David Frost (Michael Sheen) e o presidente Nixon (Langella) mostrou sua história de fundo, incluindo como Frost teve que financiar as gravações ele mesmo após sua companhia de TV havia cancelado tudo.
O filme foi recebido com críticas geralmente positivas, com Roger Ebert dizendo que os atores ‘encarnaram’ seus personagens da vida real. Ele foi indicado para cinco Oscars, mas para surpresa de alguns críticos, terminou a noite de mãos vazias.
Dúvida (2008)
Falamos sobre Viola Davis e seu desempenho dominante na tela, mas que tal um filme em que ela recebeu uma indicação ao Oscar por sua pequena aparição de oito minutos?
Dúvida foi esse filme: uma adaptação de 2008 sobre um pároco suspeito de ter abusado de um acólito. O tema inquietante, que prendeu o público tanto do filme como do teatro e que contou com excelentes atuações de Phillip Seymour-Hoffman e Amy Adams.
A peça foi ainda melhor, em termos de prêmios, com quatro Tony (das oito indicações) e o Prêmio Pulitzer de Teatro. A versão cênica acrescenta um poderoso senso de intimidade difícil para a tela prateada recriar, mas de alguma forma isso acontece.
A Voz Suprema do Blues (2020)
A interpretação impressionante de Viola Davis como a virtuosa, porém problemática cantora de soul, bem como um impressionante final de Chadwick Boseman, ganhou muitos prêmios para o filme. Mas o sucesso do cinema foi fruto de muitos anos de adaptações de palco.
Os limites da gravação de um único local adicionam à sensação claustrofóbica tanto da peça quanto do filme, culminando naquele final dramático que poucos espectadores antecipam.
A peça é perfeita para a tela grande, e o elenco de estrelas ajudou a torná-la um sucesso de bilheteria de Hollywood. A única questão é por que levou 28 anos para chegar no cinema
Então, se você não está muito familiarizado com as peças do teatro, por que não começar com aquelas que deram o salto para o mundo do cinema? Cada uma tem aquele “algo” extra que convenceu os diretores de cinema a transformá-las em filmes, e podem ser interessantes opções para passar seu tempo em um domingo à tarde.