Abril azul: Especialistas esclarecem questionamentos, mitos e verdades sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas crianças

por Márcia Dornelles
Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas crianças

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um tema que ainda gera muitas dúvidas e é cercado de mitos e preconceitos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o TEA afeta cerca de 1 em cada 160 crianças no mundo.

Conversamos com Dr Rafael Engel, Neuropediatra, especialista em neurociências e a Psicóloga, l Luisa Araruna Engel, especialista em psicanálise e Saúde mental e mestre em Diversidade em Inclusão e Analista Didata em New English Institute Of Psychoanalysis para esclarecer mitos e verdades sobre o Transtorno do Espectro Autismo (TEA) .

Segundo a psicóloga Luísa Araruna Engel “Existem muitos comportamentos que nos chamam atenção dependendo de cada faixa etária, afinal de contas, para cada etapa de desenvolvimento temos alguns marcos e comportamentos esperados. Um exemplo seria, é de se esperar que um bebê de colo olhe pra sua mãe enquanto é amamentado, é comum que ele chore ao acordar e perceba-se sozinho no berço. Mas é bem comum as pessoas dizerem; “Nossa, meu filho é tão quietinho. Ele nem chora, ele acorda e fica tranquilo sozinho no berço por horas.”

Luísa Araruna

Luísa Araruna

Luísa Araruna Engel reforça que: “Nós entendemos que em geral isso parece ótimo, pois não dá trabalho. Mas a verdade é que não olhar de forma curiosa e afetuosa para a mãe ou para quem o acolhe, e não chorar buscando pela relação social, são sinais de alerta.

Dr Rafael Engel

Dr Rafael Engel

Dr Rafael Engel, Neuropediatra, especialista em neurociências afirma que, “por volta de 2 anos de idade, esperamos que a criança já esteja falando muitas palavras e tendo conversas funcionais. Ou seja, não apenas repetindo palavras ou repetindo frases de desenhos. Mas sim, usando a fala para diálogos, pedidos, perguntas e para expressar suas necessidades. Então são sinais de alerta, crianças que por volta dessa idade ainda não falem, ou apenas repitam palavras sem funcionalidade, ou que tenham uma fala muito avançada, com vocabulário muito rico, destoando até do ambiente onde vivem. Alguns outros sinais de alerta são comportamentos estereotipados como, por exemplo, sacudir as mãos (flapping), andar nas pontas dos pés, balançar o corpo como um pêndulo, tapar os ouvidos com frequência, pular ou correr em momentos inadequados… é importante lembrar que a criança não precisa apresentar todos esses comportamentos ao mesmo tempo, citei alguns exemplos possíveis dentro de um espectro tão vasto’.

Mitos e verdades sobre TEA segundo Neuropediatra e especialista em Neurociências Rafael Engel

Perguntamos para o Dr Rafael sobre qual tipo de especialista os pais devem procurar caso percebam comportamento semelhante ao TEA em seus filhos e se é necessário uma uma equipe multidisciplinar para acompanhar o tratamento da criança.

“É importante que o diagnóstico seja feito por um neuropediatra ou por um psiquiatra infantil, se a suspeita for ainda na infância. Vale ressaltar que, em se tratando de criança, o ideal é buscar um neuropediatra e não um neurologista de adulto.Depois do diagnóstico feito, muitas são as possibilidades de terapia que trazem benefícios. Em geral, buscamos pela tríade Psicologia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional. Mas costumamos indicar também hidroterapia, equoterapia, musicoterapia, psicomotricidade e tantas outras quanto puderem ajudar.

Como é feito o diagnóstico?

Existem muitos mitos sobre como o diagnóstico é feito, se tratando de TEA é clínico. Ou seja, não será confirmado através de exames, mas sim de muita conversa, observação e coleta da história do indivíduo desde sua gestação.Os exames podem ser pedidos para afastar a suspeita de outros diagnósticos, mas não para “encontrar” o autismo.
Muitas vezes o olhar de profissionais das áreas terapêuticas e educacionais podem ajudar a perceber comportamentos que serão relatados ao médico. Mas é muito importante frisar que apenas o médico pode fechar o diagnóstico e fazer o laudo.

Qual a melhor idade para levar ao especialista? Descobrir o TEA tardiamente pode ter complicações no indivíduo?

Tão logo se percebem os sinais de alerta. Em alguns casos, neuropediatras experientes conseguem diagnosticar o autismo ainda antes dos 2 anos de idade, o que é fundamental até mesmo para que a criança receba os estímulos adequados aproveitando a neuroplasticidade. Quanto antes iniciarmos as terapias, melhor tende a ser a evolução da criança.

O TEA pode ser confundido com outro tipo de transtorno?

Sim, alguns sintomas, vistos de forma isolada, podem levar a confusões diagnósticas. Por isso é importante um bom conhecimento sobre desenvolvimento infantil e sobre como investigar o conjunto dos sintomas que levam ao diagnóstico correto.

A que se deve números alarmantes de pessoas com diagnóstico?

Não sabemos. Apesar das mudanças conceituais, uma melhor percepção do diagnóstico e uma melhor oferta de serviços médicos serem fatores que sempre levam a aumento do número de casos, seja qual for o diagnóstico, no Autismo isso não explica porque a prevalência continua aumentando, como vimos na última publicação (março de 2023) da rede de monitoramento do Autismo americana (ADDM) referente ao ano de 2020 que indicou, como média geral do país, a presença de pelo menos 1 criança com diagnóstico de Autismo em cada 36 crianças de 8 anos de idade (a anterior, de 2018, era de 1 em cada 44). Ou seja, realmente estão nascendo mais autistas, o porquê ninguém sabe.

Mito ou verdade que o TEA é agressivo?

Mito. Quando falamos de Espectro, estamos pensando em inúmeras possibilidades e combinações de características. Não existe um único tipo de autista. Então, alguns podem apresentar um comportamento mais agressivo por diversos fatores, como por exemplo, alguma sobrecarga sensorial ou pela dificuldade de expressar algo quando se apresenta de forma não verbal.

Mas dizer que o TEA é agressivo seria como dizer que o brasileiro é agressivo.

Não existe “o” brasileiro. Existem inúmeras pessoas, com inúmeras personalidades e culturas diferentes.

Mito ou verdade que o paciente TEA são mais inteligentes?

Mais uma vez, não podemos generalizar. Mas é fundamental entendermos que o TEA nunca deve ser confundido com Deficiência Intelectual. Alguns autistas podem ter deficiência intelectual? Podem! Assim como podem ser altos, baixos, brancos, negros…

Por mais comprometimento que se possa notar no comportamento e no processamento sensorial, não podemos relacionar esses fatores ao intelectual.

E sim… existem autistas com capacidades extraordinárias, muitas vezes atreladas aos seus hiperfocos ou por exemplo, a possibilidade de memória fotográfica.

Mito ou verdade que a expectativa de vida é menor para o paciente TEA?

Mito

Mito ou verdade que a criança TEA não sorri?

Mito

É comum encontrarmos autistas que não se sentem à vontade em fazer contato visual com pessoas com quem não tem intimidade. Mas sorrir… isso não tem qualquer ligação com o TEA. Autistas sorriem sim, quando acham graça e para quem quer sorrir.

Verdade ou mito que o TEA é mais comum em Meninos?

Verdade.

Segundo os dados estatísticos apresentados até o momento, a incidência ainda é maior em meninos.

Um dos grandes mitos sobre o TEA é que ele é causado por vacinas. No entanto, estudos científicos já comprovaram que não há relação entre a aplicação de vacinas e o desenvolvimento do transtorno. Outro mito é que todas as pessoas com TEA têm habilidades especiais ou são superdotadas em áreas como matemática ou música. Na verdade, cada pessoa com TEA têm suas próprias características e habilidades.

Já uma verdade importante sobre o TEA é que o diagnóstico precoce e o início do tratamento adequado pode fazer toda a diferença no desenvolvimento da criança. É importante estar atento a sinais como atraso na fala, dificuldade de interação social, comportamentos repetitivos e sensibilidade a estímulos sensoriais.


Neuropediatra Rafael Engel é autor do livro Convivendo com o Autismo: Tudo o que um leigo precisa saber sobre Transtorno do Processamento Sensorial, que também tem autoria de Luisa Araruna Engel Psicóloga UFF, Mestre em Diversidade e Inclusão pela Universidade Federal Fluminense Equoterapeuta pela Associação Nacional de Equoterapia – ANDE

Analista Didata no Instituto de Estudos do Psiquismo-IEP Psicanalista pelo Instituto de Estudos do Psiquismo
Analista Didata em New English Institute Of Psychoanalysis Pós graduação em Psicanálise e Saúde Mental

Em abril deste ano foi lançado o livro , Convivendo com o Autismo: a Evolução Histórica do Diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista.

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