Desafios da medicina em grandes cidades vs. regiões rurais no Sudeste

Falta de infraestrutura é um dos problemas que atinge tanto pacientes quanto profissionais da saúde

Desafios da medicina em grandes cidades vs. regiões rurais no Sudeste
Imagem: Freepik

A área da saúde apresenta desafios e obstáculos tanto para os pacientes e usuários quanto para os profissionais médicos. Por um lado, há queixas sobre a qualidade do atendimento, a falta de leitos e a infraestrutura de um modo geral. Por outro lado, existe a concentração de trabalho nas zonas urbanas desenvolvidas e falta de interesse em trabalhar nas regiões rurais.

Desse modo, muitos profissionais recém-formados têm interesse em exercer medicina em Minas Gerais ou em outro estado da região Sudeste, são poucos os que estão dispostos a trabalhar no interior. A concentração de profissionais nos grandes centros é um problema que não resolve as questões das áreas urbanas, além de dificultar a vida dos pacientes que residem no interior. Entenda mais sobre esses desafios no texto a seguir.

Principais desafios

Os desafios enfrentados em cada uma dessas realidades são distintos, apesar de haver similaridades. Pelo lado dos pacientes, é perceptível um descontentamento com a qualidade do atendimento médico prestado nas unidades de atendimento. Uma pesquisa feita pelo Instituto Datafolha em 2018 apontou que 89% dos brasileiros consideravam a saúde do país como regular, ruim ou péssima — considerando tanto o âmbito privado quanto o público.

Já 73% dos entrevistados opinaram que não acreditavam que o atendimento era igual para todos. Um fator revelado pela pesquisa, que vale para ambas as realidades, são as dificuldades de acesso presentes na rede pública, liderado pela dificuldade em consultas com médicos especialistas (para 74% dos entrevistados), marcação de cirurgias (68%), internação de leitos de UTI (64%) e realização de exames de imagem (63%). Também há um forte descontentamento com o atendimento de profissionais não médicos, como nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos, além de procedimentos específicos, como quimioterapia, radioterapia e diálises.

Essa opinião negativa pode ser atrelada a diferentes motivos em cada um nos casos. Nos grandes centros, pesa muito a demora do atendimento em razão da alta demanda, sobretudo por quem é atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Já nas regiões rurais, o que pesa é a falta de infraestrutura, de médicos e de especialistas, de modo que a cobertura dos serviços de saúde acaba sendo mais precária.

Por que existe desigualdade entre a distribuição de médicos nas grandes cidades e nas regiões rurais?

Inclusive, a falta de médicos no interior é uma questão muito importante na área médica brasileira, sendo um problema que não se resume à Região Sudeste. Muitos dos profissionais formados acabam optando por trabalhar em áreas urbanas desenvolvidas e maiores, o que reduz o contingente que atua em áreas rurais e mais remotas.

Essa é uma questão multifacetada, com diversos fatores influenciando para que o quadro atual seja dessa maneira. Por exemplo, nas zonas urbanas estão o maior número de cooperativas médicas, o que acaba atraindo mais profissionais para trabalhar nos grandes centros. São nessas regiões que também estão boa parte das escolas médicas, fator que influencia a decisão por fazer uma especialização e, futuramente, na escolha de um local de trabalho após formado.

Por outro lado, a infraestrutura limitada das regiões mais remotas colabora para não atrair os médicos para o interior. E isso não se resume exclusivamente a infraestrutura de um hospital ou de um posto de saúde: é levado em conta a infraestrutura da região como um todo, como a qualidade das estradas, a disponibilidade do transporte público e o acesso a serviços de lazer, saúde e educação.

Assim, o médico procura otimizar o seu tempo e procura por um vínculo empregatício que possa oferecer mais qualidade de vida para ele. É verdade que nas zonas rurais há redução de problemas comuns dos grandes centros, como trânsito e violência. No entanto, a infraestrutura mais limitada, aliada à falta de oportunidade de continuar o seu aprendizado em alguma instituição de ensino, acaba pesando para a preferência do médico em se estabelecer nos grandes centros.

Até mesmo a ausência de incentivos e políticas públicas que levem o médico para a área rural pesa. Incentivos financeiros por parte do governo federal, que são escassos, seriam uma forma de tornar a carreira na zona rural mais atrativa, o que poderia ajudar a corrigir esse desequilíbrio.