Nas deliciosas crônicas de “Cazuá: onde o encanto faz morada”, o escritor e professor Luiz Rufino nos apresenta um país para muito além do que conhecemos nos livros de história. Os textos nos convidam a reimaginar o Brasil, numa dimensão que vai além da casa e da rua: o encanto.
A tarde de autógrafos será no sábado, 26 de outubro, no Alfa Bar e Cultura (Rua do Mercado, 34, Centro do Rio). Um papo solto com Luiz Antônio Simas vai abrir o evento gratuito, às 14h, que continuará animado, com uma roda de samba das 15h às 19h.
Parceiro Simas em “Fogo no mato – A ciência encantada das macumbas”, Rufino nos lembra que, na memória ancestral lavrada nos chãos de um Brasil profundo, o cazuá é onde a vida se aconchega como espanto, festa, peleja, mistério e devoção.
Este livro abriga crianças que vadeiam com santos, malandros que se misturam com trabalhadores, flores que se encruzam com facas, plantas que conversam com gente, roças que se irmanam com matas, quintais, esquinas e terreiros – porque nesses espaços de convívio e intimidade, que são também ambientes preciosos para invenção de mundos, coabitam as histórias de cada um e de nossa gente, deste e de outros planos. Afinal, a força das coisas não está só naquilo que aparenta ser e que se reduz ao que chamam de materialidade.
A beleza acontece quando uma coisa toma a outra como morada; planta, pedra, rio, bicho, comida, tambor e gente, tudo isso pode ser morada de encanto. Por isso, este livro é um singelo altar brasileiro. E, para quem entoar suas palavras ou carregá-lo na bolsa ou debaixo do braço, pode ser também um patuá.
Rufino persegue atentamente as trilhas cotidianas, disponibiliza a escuta de forma atenta e bota o corpo para jogo andarilhando por espaços onde a vida acontece de forma miúda. Nessas tramas ordinárias saltam as invenções e sabedorias que fazem de ruas, mercados, encruzilhadas, barracões, botequins, rodas e os seus praticantes o próprio movimento de escrita do livro.
Escutador das histórias dos vários cantos do Brasil, o autor as adentra para lê-las em suas várias camadas. A escrita aqui se confunde com outros fazeres, como os de quem faz fé no jogo, na ginga, brinca e brinda o gole para espantar a miséria. Uma escrita de corpo inteiro que caminha pelos subúrbios cariocas, invoca memórias do sertão nordestino, bate cabeça nos terreiros, vadeia em quintais, pede licença a rua, dribla os aperreios da trívia e firma as poesias passadas de boca em boca.
O balaio de histórias trazido por Rufino faz valer aquilo que Antonio Bispo dos Santos chamou de “oralizar a escrita”. Um fazer que revela que os saberes correm diferentes mundos e tempos para baixar nos mais diferentes corpos e fazer da vida um inacabado rito cotidiano.
“Se a casa invoca a obra, o cazuá diz sobre o espírito das coisas, daí ele se firma na miudeza, na experiência ordinária, no repertório pé de chinelo próprio das sabedorias batedoras de perna. Nessa morada de encanto, da fresta, da porteira entreaberta, se avista a imensidão do mundo”, diz Luiz Rufino, sempre com a poesia como norte.
Quem é Luiz Rufino
Luiz Rufino é carioca, criado no subúrbio, filho de pai e mãe cearenses, neto de vaqueiros e lavradores. Tem as ruas, as rodas, os quintais e os terreiros como lugar de formação. É professor da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Rufino escreveu diversos livros, entre eles “Pedagogia das encruzilhadas” (Mórula, 2019) e “Vence-demanda: educação e descolonização” (Mórula, 2021). Cazuá é a sua estreia na Paz & Terra.
“Cazuá: onde o encanto faz morada”
Paz & Terra
De Luiz Rufino
172 páginas
R$ 59,90