Em Rondon Menino Cândido, dois dos maiores nomes da literatura infanto-juvenil brasileira apresentam ao público jovem um herói nacional reconhecido, mas que merece ser ainda mais conhecido: o marechal Cândido Mariano Rondon (1865-1958). No livro, que o Documenta Pantanal, em parceria com o Instituto Ziraldo lança em junho, Ciça Alves Pinto, autora de 28 livros infantis, e Ziraldo (1932-2024), um dos mais premiados artistas gráficos do país, se unem para contar a infância do militar mato-grossense que, além de comandar a implantação de linhas telegráficas pelo Centro-oeste, mapear o Pantanal e parte da Amazônia e demarcar as fronteiras do país, foi pioneiro na defesa dos direitos dos povos indígenas, sobretudo às suas terras.
Conhecido pela política de não-agressão que guiava suas incursões por territórios habitados por povos como bororo e paresi – sua frase mais conhecida é “Morrer se preciso for; matar, nunca”–, Rondon foi responsável pela criação do Serviço de Proteção ao Índio, em 1910, e tornou-se uma referência para nomes como Darcy Ribeiro e os irmãos Orlando, Claudio e Leonardo Villas-Bôas, com quem lutou pela criação do Parque Nacional do Xingu, primeira terra indígena homologada pelo governo do país. Rondon Menino Cândido conta a infância pantaneira de Cândido Mariano e as aventuras que marcam o início do trajeto de realizações que lhe renderia a inscrição no livro dos heróis da pátria.
Escrito em 2016, originalmente para ser distribuído entre professores da rede pública de Rondônia, Rondon Menino Cândido ganha agora sua primeira edição comercial. A realização é do Documenta Pantanal, iniciativa que, desde 2019, fomenta e viabiliza filmes, livros, exposições e ações internacionais voltadas a construir a memória do bioma, divulgar suas riquezas e alertar sobre as ameaças que sofre. Para Mônica Guimarães, que coordena o Documenta ao lado de Teresa Bracher, a intenção é que o livro infanto-juvenil ajude a sanar uma lacuna. “É triste constatar que até nos estados pantaneiros, onde o marechal Rondon nasceu, sua figura e sua importância são tão pouco conhecidas dos jovens”, afirma.
Para Ciça, que foi uma cartunista pioneira e se dedica à literatura para crianças desde os anos 1980, a ideia do livro é ampliar o contato do público infantil e infanto-juvenil com a história “desse grande herói brasileiro” e trazer o olhar dos jovens leitores para a beleza do Pantanal, palco da história do marechal. “Para mim, Rondon e o Pantanal são parte não só da história e da geografia do país, mas principalmente do coração do Brasil”, diz. A edição foi desenvolvida em parceria com o IZ (Instituto Ziraldo), que se dedica a preservar o acervo visual e intelectual do cartunista e desenvolve projetos de valorização da leitura.
No intuito de facilitar o acesso de novos públicos à história de Rondon, a edição inclui uma série de conteúdos adicionais, que contextualizam transformações políticas relevantes para o trajeto do marechal, como a Guerra do Paraguai e o projeto de unificação territorial da República, explicam a relação entre Rondon e o estado que ganhou seu nome, e falam dos contatos que ele estabeleceu com etnias como os temidos nambiquara – e que lhe valeram uma indicação para concorrer ao Prêmio Nobel da Paz em 1957. Um glossário explica termos, personagens e eventos históricos mencionados no texto.
Rondon Menino Cândido estará à venda na bancada do Documenta Pantanal da Feira do Livro do Pacaembu, que acontece entre os dias 14 e 22 de junho na Praça Charles Muller, na zona oeste de São Paulo. Na quinta-feira, dia 19.6, Ciça fala de Rondon Menino Cândido e da importância do marechal Rondon na defesa dos direitos indígenas na mesa Histórias da mata. Além da autora, participa da conversa o escritor e podcaster Maickson Serrão, criador do podcast Pavulagem, que conta histórias dos seres encantados da Amazônia. A mesa será seguida de sessão de autógrafos com Ciça.
Após o término da Feira, o livro ficará à venda no site do Documenta Pantanal (www.documentapantanal.com.br).
Serviço
- Rondon Menino Cândido
- Autores: Ciça e Ziraldo
- Editora: Documenta Pantanal
- ISBN: 978-65-982763-9-3
- Páginas: 102
- Preço: R$ 70
Lançamento
- Mesa 19: Histórias da Mata
- Com: Ciça Pinto, Maickson Serrão
- Mediação: Rita Carelli
- Onde: Feira do Livro do Pacaembu/Espaço Rebentos
- Quando: dia 19.6, das 13h às 14h30
Os autores
Ciça, ou Cecília Alves Pinto, é ilustradora e autora de livros infantis. Nos anos 1960, trabalhou como jornalista, produzindo reportagens para a revista O Cruzeiro, e publicou contos na revista Cigarra. Entre 1967 e 1985, publicou diariamente na Folha Ilustrada a tira O Pato, uma das poucas de produção nacional a figurar nos jornais da época. Usando patos, galinhas e outros animais para representar brasileiros comuns em situações do dia a dia e formigas para retratar políticos e militares, a autora conseguia falar de questões como inflação e pobreza sem incorrer na censura da ditadura militar brasileira então vigente. As tiras também apareceram no Jornal dos Sports, na revista Realidade, em O Pasquim e no Jornal do Brasil. Foram reunidas nos livros O Pato (1978) e O Pato no Formigueiro (1979), ambos da editora Codecri, e, mais tarde, em Pagando o Pato (1986), da Circo, reeditado pela LP&M em 2006.
Desde antes de mudar-se com o marido, o também desenhista e cartunista Zélio Alves Pinto, irmão de Ziraldo, para Nova York, onde viveu sete anos, Ciça se dedica sobretudo a escrever livros infantis e infanto-juvenis. Publicou 28 títulos, por editoras como Melhoramentos, FTD, Nova Fronteira, Global, Globo e Batel. Teve três livros publicados no exterior, como Passeio (Nova Fronteira, 2015), traduzido para o espanhol, e dois da série Mamãe me levou… (Batel, 2011), traduzidos para o inglês. A maioria de seus livros foi ilustrada por Zélio Alves Pinto, e alguns deles, como Travatrovas e Quebralíngua (Nova Fronteira, 1993 e 2012), Bichos, bicho! (FTD, 2018) e A turma do Bixuxujo (Globo, 2011), por Ziraldo.
Ziraldo Alves Pinto, nascido em 1932 em Caratinga (MG), foi um jornalista, escritor, pensador, cartunista, caricaturista, artista gráfico, ilustrador, humorista e ambientalista de primeira hora. Publicou seu primeiro desenho aos 6 anos de idade, no jornal A Folha de Minas. Aos 12, começou a desenhar histórias em quadrinhos. Em 1948, mudou-se para o Rio de Janeiro levando seu caderno de desenho. Levaria doze anos para realizar o sonho de tornar-se autor de quadrinhos: em 1960, lançou a revista Pererê, com temáticas socioambientais relevantes até hoje. Por quatro anos, ela circulou em todo o Brasil, chegando a tiragens mensais de 120 mil exemplares. Nos anos 1970, seria relançada como A Turma do Pererê.
Durante a ditadura militar brasileira, entre os anos 1960 e 1970, Ziraldo teve forte atuação política e foi um dos fundadores do irreverente periódico O Pasquim. Suas caricaturas e charges, que refletiram a indignação de inúmeros brasileiros, espalharam-se por vários jornais brasileiros. Em 1969, lançou seu primeiro livro para crianças, Flicts, a história poética de uma cor sem lugar no mundo. O livro foi presenteado ao primeiro astronauta a pisar a Lua, o estadunidense Neil Armstrong, ganhou edições em vários países e vendeu mais de 500 mil exemplares.
Foi o começo da rica contribuição de Ziraldo à literatura e à ilustração para crianças. Publicou quase 200 títulos, parte dos quais se transformaram em peças de teatro e filmes. O Menino Maluquinho, de 1980, teve 4 milhões de exemplares vendidos só no Brasil. Foi adaptado para teatro, cinema, ópera, série de televisão, desenho animado e relançado em livro e quadrinhos. Com O Bichinho da Maçã, de 1982, Ziraldo recebe o prêmio Jabuti de Melhor Livro de Arte.
Em setenta anos de trabalho, Ziraldo consagrou-se como artista atemporal e universal e exemplo na defesa da liberdade de expressão. Em 2008, recebeu a mais importante distinção do humor gráfico internacional, o Prêmio Iberoamericano de Humor Gráfico Quevedos. Faleceu em 2024, em casa, no Rio de Janeiro, durante a temporada carioca da exposição Mundo Zira, que levou mais de 137 mil visitantes ao Centro Cultural Banco do Brasil. Pouco depois, foi homenageado in memoriam no 46º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.
Os realizadores
Documenta Pantanal é uma iniciativa que se dedica a dar visibilidade à riqueza singular desse importante bioma brasileiro e às ameaças crescentes a sua integridade. Desde 2019, concebe, incentiva e realiza ações que revelam o Pantanal em toda a sua diversidade e chamam atenção para a urgência de protegê-lo. Suas produções, que tomam a forma de livros, filmes, documentários, exposições de longa permanência, iniciativas internacionais, campanhas, reportagens e conteúdos digitais, entre outras, ajudam a construir a memória do bioma e reafirmam o poder das manifestações culturais de alertar, sensibilizar e mobilizar públicos amplos e diversos no Brasil e no mundo.
Patrimônio natural e reserva de vida e de água doce, com áreas úmidas de importância internacional e forte influência sobre o clima brasileiro e sul-americano, o Pantanal vem sofrendo queimadas incontroláveis e estiagens prolongadas. É hoje um hotspot da mudança climática, um exemplo flagrante dos efeitos devastadores que a elevação da temperatura do planeta já está produzindo. Ao denunciar os efeitos da ação humana e da mudança do clima sobre o Pantanal, buscamos criar um conhecimento ativo, capaz de gerar ação reflexiva e fomentar reações.
Compondo um mosaico de visões que expõem a complexa realidade do Pantanal, nosso trabalho convoca públicos do mundo inteiro a tomar consciência da gravidade da crise climática que ameaça nossos ecossistemas e a pensar no que é preciso fazer para contê-la.
O Instituto Ziraldo, ou simplesmente IZ, é uma instituição cultural sem fins lucrativos que se dedica à valorização da leitura, da liberdade e do pensamento crítico-criativo. E, por acreditar que conhecimento e solidariedade juntos geram ações que animam a sociedade a desenhar um mundo mais justo e interdisciplinar, preserva o acervo visual e intelectual do multiartista Ziraldo (1932-2024) e contribui para a democratização do acesso à cultura.
Desenvolve, desde 2019, projetos artísticos, literários, educativos e sociais que revelam, a partir desse acervo vivo, décadas da memória nacional e inspiram a reflexões e novas leituras de mundo.
Algumas imagens do acervo, ideias e ideais de Ziraldo estão digitalmente disponíveis – para dialogar com públicos de todas as idades – na plataforma www.institutoziraldo.art.br.
Ler para ir além da leitura é a missão do Instituto Ziraldo.
