Conta-se nesta parábola muito conhecida, frequentemente citada como de origem judaica, que vamos começar nosso texto hoje, ela ilustra de forma muito poética a relação entre a Verdade e a Mentira no mundo. A versão mais comum se desenrola desta forma:
A Parábola da verdade e da mentira
Em um dia de sol, a Mentira e a Verdade se encontraram. A mentira, com sua habitual astúcia, cumprimentou a Verdade e a convidou para um banho em um poço ou fonte próxima, dizendo: “A água está maravilhosa, vamos tomar um banho juntas!”
A verdade, sendo cautelosa, testou a água e, ao constatar que estava realmente agradável, aceitou o convite. Ambas se despiram e entraram na água.
No entanto, a mentira, aproveitando um momento de distração da Verdade, saiu rapidamente do poço. Ela pegou as vestes da Verdade, vestiu-se e fugiu, desaparecendo no horizonte.
A Verdade, ao sair da água e perceber o que havia acontecido, recusou-se a vestir as roupas da Mentira, por serem falsas e inadequadas a sua natureza. Preferiu ficar nua e exposta.
Reza a lenda, que desde então, a Mentira viaja pelo mundo vestida com roupas da verdade, parecendo autêntica e sendo facilmente aceita pelas pessoas. Já a Verdade, nua e crua, é frequentemente rejeitada, pois sua aparência sem adornos é vista como chocante, feia ou inaceitável.
Quantas vezes nós preferimos, mentiras enfeitadas, bem embrulhadas, doces e fáceis de se engolir, ou pelo menos fingimos que são, muitas vezes em troca de um conforto aparente, ou apenas para não ter que abrir a porta para verdade, nua e crua e ter que admitir que depois de anos de negação, estamos errados.
Seria muito desconfortável, é muito desconfortável, rejeitar antigas crenças, vieses e modos de pensar, apenas para estar aparentemente do lado de uma mentira confortável, ou para fazer parte do meio que você vive.
O conceito de verdade na História da humanidade
O conceito de verdade é um dos pilares mais importantes do pensamento humano, evoluindo e mudando drasticamente no decorrer da História, em resposta a mudanças sociais, culturais e filosóficas. A busca pela verdade não é apenas uma questão de conhecimento ou saber, mas também de poder, moralidade, existência e bem comum, refletindo os anseios fundamentais de cada época.
A verdade na antiguidade clássica
Na Grécia antiga, a verdade era concebida de duas maneiras distintas, que influenciaram profundamente o pensamento ocidental. O termo grego Aletheia (ἀλήθεια) significava literalmente “o não-oculto” ou “desvelamento”, sugerindo que a verdade era algo que precisava ser revelado, tirado do esquecimento.
Platão (c. 428–348 a.C.) situou a verdade no Mundo das Ideias (ou Formas), um domínio inteligível e eterno, acessível apenas pela razão. Para ele, o mundo sensível é apenas uma cópia imperfeita, e a verdade reside na perfeição imutável das Ideias.
Aristóteles (384–322 a.C.) estabeleceu a formulação da Teoria da correspondência, que se alinha o termo latino Veritas (Exatidão).
Penso eu que a Verdade e essa que desnuda, não-oculta, que muitas vezes incomoda ao ser revelada.
A verdade na idade média e a síntese teocêntrica
Com a chegada do cristianismo, o conceito de verdade passou a estar ligado e identificado com Deus. Santo Agostinho (354–430) defendia que a verdade era alcançada pela iluminação divina da fé e na palavra de Deus. Já São Tomás de Aquino (1225-1274) buscou unir a razão aristotélica com a fé cristã.
A revolução da Filosofia moderna
O teocentrismo fez uma transição para o antropocentrismo na Idade moderna, colocando a razão humana no centro da busca pela verdade. Logo depois o racionalismo, liderado por René Descartes (1596-1630), propôs a dúvida metódica como caminho para a verdade. “Penso, logo existo” (ergo sum). A razão pura é a fonte primária do conhecimento verdadeiro.
Não se pode negar a importância da busca da verdade, afinal esses e outros pensadores, se debruçaram arduamente para acha-la de fato
A Crítica contemporânea a verdade
A partir do século XX, o conceito de verdade absoluta foi intensamente questionado, especialmente por pensadores que exploram a relação entre verdade, poder e linguagem.
Será que nós vendemos, será que perdemos a noção do que realmente e o correto, ou cada um faz a sua própria versão do que é verdade de acordo com suas convicções ou imparcialidades, mesmo se isso o leva a apoiar, pessoas desonestas, atos injustos ou apenas por naquele momento ser prazeroso de algum modo mesmo em detrimento de alguém, mesmo que você tenha como convidada a mentira bem vestida e “agradável” para ceia com você.
Assim como o Padre Antônio Vieira disse “A verdade é filha legítima da Justiça“
Precisamos acolher a Verdade mesmo que desnuda e lhe dar abrigo, pois uma sociedade sem Verdade esta fadada a ser imparcial e injusta, ligada a muitos interesses que oscilam conforme a balança do poder muda de mãos. Penso que para uma sociedade mais justa e igualitária temos que usar a verdade para tirar o véu da ignorância e lutar pelo que é certo, sem partidarismos, sem vieses, sem falsas interpretações do que e correto. Mas para o desenvolvimento de uma sociedade que não se esconde com vestes que não são suas, mas encara a sua própria nudez, enxergando como ela realmente é.
A verdade A mentira, um poço e uma escolha, que possamos então fazer a escolha correta.

Teólogo e Filósofo em formação e curioso sobre o sentido da vida. Apaixonado por aprender, ensinar e inspirar reflexão.