A palavra encruzilhada significa “o lugar onde se cruzam caminhos”. E foi por meio dela que o escritor Hedjan CS tornou possível o encontro das histórias de dois grandes autores da literatura brasileira: Afonso Henriques de Lima Barreto e João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, o João do Rio. Homens negros, que escreviam sobre o cotidiano dos subúrbios e do Centro do Rio de Janeiro, que no início do século XX se modernizou expulsando os pobres da cidade. Lançada pela Editora Kitembo, a obra “Barretos, homens de livros”, terá duas datas de lançamento: dia 19/03, em São Paulo, e dia 22/04, no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB), onde haverá um bate-papo com o autor.
A história é um mistério ambientado no ano de 1907, onde Lima Barreto e João do Rio – que fora da fantasia não se gostavam – estão em busca de um menino desaparecido e um “livro maldito”. Para isso, eles irão ingressar em uma investigação perigosa pelos becos e vielas do Morro da Providência, no centro da cidade. Nesse período, o Rio de Janeiro era a capital do Brasil, e passava por uma transformação política e urbana. Com o recente fim da escravidão, o governo de Pereira Passos impôs a política do “bota-abaixo”, que modernizou a cidade às custas da gentrificação dos mais pobres, que deram início às primeiras favelas do Rio.
“Contos, crônicas, fragmentos de anotações pessoais, tudo isso serviu para que eu fosse entendendo e construindo na minha própria cabeça a maneira como os Barretos pensavam, o que os incomodava, amedrontava, os anseios, o que os encantava. Tive que pesquisar bastante sobre a configuração da cidade da época. Passei horas bem interessantes comparando mapas e plantas antigas do Rio de Janeiro. E, como uma história não pode ser contada apenas com lugares, pesquisei bastante sobre os costumes, crendices e práticas da época. E é muito interessante olhar para o passado e perceber as coisas que se modificam, as que se mantêm e as que simplesmente desaparecem!”, destaca o autor.
Por que os Barretos?
João do Rio e Lima Barreto foram pioneiros nos assuntos que abordavam, e na forma como contavam suas histórias. Ambos eram jornalistas e grandes escritores do cotidiano. João, o cronista da encruzilhada, como define o historiador Luiz Antonio Simas, é pioneiro no que hoje chamamos de reportagem de rua. Negro e gay, escreveu livros como “A alma encantadora das ruas” e “As religiões no Rio”, ambos frutos de grandes reportagens investigativas que narravam as subjetividades e a cultura das ruas e dos personagens cariocas.
Lima Barreto, escritor dos subúrbios da cidade, assim como João, não se mostrava alheio à realidade que o cercava e também o atravessava. Autor de 19 livros, um dos pseudônimos que ele utilizou ao longo de sua vida como jornalista foi o de Sherlock Holmes. Apesar da genialidade de sua obra, foi recusado três vezes pela Academia Brasileira de Letras. Com problemas associados ao uso de álcool, o escritor foi internado duas vezes no Manicômio Nacional. A internação com o argumento da loucura era uma prática comum que afetava prioritariamente pessoas negras, pobres e usuários de substâncias psicoativas.
Emblemáticos em suas obras, que refletiam as suas vivências no espaço urbano, os escritores tinham fascínio pela vida comum, que era atravessada sobretudo pelas mazelas das desigualdades sociais e do racismo.
“Acredito que é importante contar histórias que se passam em períodos relativamente mais recentes por dois motivos: para mostrar que o racismo e seus males estão conosco desde sempre; e, principalmente, para mostrar a luta daqueles que lutaram contra a criminalização da cultura negra durante a Primeira República, durante o estado novo, durante o regime militar, durante a Redemocratização. O que temos hoje foi conseguido através de muita luta. E continuaremos a lutar hoje para que no futuro tenhamos muito mais!”, afirma o autor.
Audiobook e Booktrailer
Como forma de diversificar a acessibilidade, além do livro físico, a Editora Kitembo também lançou um audiobook em forma de podcast, disponível no Spotify, com quatro capítulos. E no Youtube o público pode acessar o booktrailer, gravado no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB), onde o autor detalha elementos do livro, da obra e da vida dos Barretos. O público ainda pode adquiri o livro no site da Editora Kitembo de forma gratuita, pagando apenas o valor do frete.
Esse projeto é realizado por meio do Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
O autor
Hedjan Costa da Silva, nascido em 1978, é formado em Pedagogia pela UERJ e pós-graduado em educação especial e inclusiva. Publicou seu primeiro conto em 2016. Desde as primeiras publicações, o autor, que escreve terror e suspense, buscou ambientar suas histórias nas regiões periféricas e suburbanas de sua cidade, o Rio de Janeiro. E faz parte do coletivo de escritores Aleatórios da Baixada Fluminense.
Sobre a Kitembo
A editora Kitembo, desde 2018, vem construindo o imaginário por meio de edição, publicação e comercialização de Literatura Negra, Fantástica e Afrofuturista. Com o objetivo de ser o canal de representatividade na cultura pop e geek. Oferecendo diversidade aos leitores e leitoras na promoção de um espaço de exaltação da cultura negra e suas tradições.
SERVIÇO
Lançamento em São Paulo
Data: 19/03
Local: Petra Belas Artes
R. da Consolação, 2423 – Consolação, São Paulo
Lançamento no Rio de Janeiro + roda de conversa com o autor
Data: 22/04
Local: MUHCAB
R. Pedro Ernesto, 80 – Gamboa, Rio de Janeiro