A CASA BRASIL, apresentada pelo Ministério da Cultura e Petrobras, inaugura programa de residência artística, o primeiro do centro cultural fluminense, com dois artistas na primeira edição: Mayara, do Rio de Janeiro, e Rafael Pinto, de Roraima. Formada em História da Arte pela UERJ, Mayara é moradora do Salgueiro e tem suas criações influenciadas pelas vivências no lugar onde nasceu, e ainda mora, e pelas experiências familiares. Rafael Pinto (Pérola) é artista visual, curador, realizador audiovisual e professor de Arte radicado em Boa Vista, Roraima. Doutorando em Educação pela UFRR, é fundador da Embuá Produtora Cultural e desenvolve projetos interdisciplinares que articulam arte, educação e narrativas do Norte do Brasil.
“Entramos em um novo momento na CASA BRASIL, mais democrática, plural e que abrange a cultura do nosso país com afeto e privilegiando nossas raízes. A primeira residência artística é um compromisso com a nossa cultura, que dialoga com os diferentes territórios, ressalta Danielle Barros, Secretária de Estado de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro.
O equipamento, com novo nome, nova identidade visual e novo conceito, já teve outras identificações em sua história e inaugura uma etapa com o projeto Casa Brasil. A residência é parte do seu reposicionamento, com novos programas para interação com artistas e com o público. Ao trazer a brasilidade para o centro da sua vocação, a CASA BRASIL amplia o alcance de um dos mais importantes e tradicionais equipamentos culturais do estado do Rio de Janeiro.
“O reposicionamento, a ampliação da programação e a mudança para CASA BRASIL são parte de um projeto de reestruturação do centro cultural, que foi submetido ao edital Novos Eixos da Petrobras, na linha Ícones da Cultura Brasileira, tornando a empresa a sua patrocinadora oficial. O projeto colabora na afirmação da vocação da CASA BRASIL, que há anos fomenta e difunde as artes carioca, fluminense e brasileira, e cria novos programas que impulsionam artistas e movimentam a cadeia de produção das artes visuais, ancorados na diversidade, sustentabilidade e economia criativa”, destaca Tania Queiroz, diretora da CASA BRASIL. A iniciativa concorreu com mais de 8 mil propostas e foi uma das contempladas no Programa Petrobras Cultural.
Segundo Jocelino Pessoa, diretor da V ARTE, que coordena o projeto, a residência artística cria oportunidades para que, a partir do acompanhamento curatorial e institucional, os participantes possam desenvolver seus projetos artísticos na Casa em seu novo contexto. “O reposicionamento traz um discurso conceitual denso. Por meio da programação, desdobraremos o que faz da CASA BRASIL um lugar de pensamento sobre a arte contemporânea e as brasilidades. Uma primeira residência com artistas do Rio de Janeiro e de Roraima é a oportunidade de discutir e evidenciar os conceitos anunciados, gerando oportunidades para um debate público sobre o que se quer com esta nova Casa”, destaca.
O programa de residência tem como parceiro o Congá, antigo Belga Hotel, que hospeda os artistas ao longo da estadia na cidade. O meio de hospedagem vem implementando ações em prol do fortalecimento cultural da região central do Rio de Janeiro e com a CASA BRASIL inaugura uma parceria para se inserir no circuito carioca das artes. O reposicionamento dos espaços em sinergia fortalece as identidades e a relação entre as duas casas, que são vizinhas no Centro do Rio.
“Estamos empolgados com a parceria e a possibilidade de receber artistas, com diferentes projetos, em um movimento em prol do renascimento cultural do centro do Rio de Janeiro. Nossas propostas encontram muita sinergia com as da CASA BRASIL, pois temos trabalhado com dedicação em ações para a desconstrução de um pensamento colonial, posicionando o Congá como referência na cultura afro brasileira e da diversidade e como um espaço de acolhimento que remonta à brasilidade”, explica Amina Bawa, responsável pela Comunicação estratégia do Congá.
A CASA BRASIL é um centro cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado do Rio de Janeiro. O projeto, uma parceria com a produtora V ARTE, é uma realização do Ministério da Cultura e Governo Federal por meio da Lei Rouanet com patrocínio oficial da Petrobras.
Artistas
Mayara
Formada em História da Arte pela UERJ, Mayara é moradora do Salgueiro e tem suas criações influenciadas pelas vivências no lugar onde nasceu, e ainda mora, e pelas experiências familiares. A cor vermelha é uma das marcas do trabalho de Mayara. Segundo a artista, a explicação é simples: o vermelho é uma das cores da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, é também a de São Sebastião, padroeiro do morro, e a cor de Xangô, destacando a forte influência das religiões de matriz africana na comunidade da Tijuca no Rio de Janeiro.
“Salgueiro é parte de um território quilombola, uma antiga chácara de café, e isso ainda é pouco difundido. É importante pensarmos na relação da história do Salgueiro com a do Rio. Sou a primeira artista do morro a participar de uma residência artística de enorme importância para o contexto histórico do Brasil. Minha intenção é inspirar outras pessoas a seguir seus sonhos. É muito difícil nascer, crescer, ter uma família de pessoas que não têm ensino médio completo e nunca saíram do estado, pensando, falando e sonhando com arte. É muito comum crescer, trabalhar, casar e morrer. Quando a gente nasce um pouco fora da curva, a gente vai para a arte. Tem gente que escolhe música e dança. Participar dessa residência tem muita importância e representatividade pela favela que vim e pelo contexto histórico dela.”
Animada com a oportunidade de trabalhar a partir da CASA BRASIL, Mayara ficou surpresa com o convite e relatou as ideias para essa nova etapa da carreira. “Minha cabeça está borbulhando. A expectativa é fazer com que mais pessoas conheçam meu trabalho e minha pesquisa. Fiquei mais animada ao conhecer a equipe de curadores, que tem o professor Marcelo Campos, com quem tive aula na UERJ. Ainda questiono as implicações dessa experiência, se continuo meu percurso poético ou se começo algo novo. Certo é que conseguirei produzir algo em escala, deixando no passado as limitações que encontro em casa.”, explica Mayara.
Rafael Pinto
Rafael Pinto (Pérola) é artista visual, curador, realizador audiovisual e professor de Arte radicado em Boa Vista (RR). Doutorando em Educação pela UFRR, é fundador da Embuá Produtora Cultural e desenvolve projetos interdisciplinares que articulam arte, educação e narrativas do Norte do Brasil. Foi selecionado pelo Rumos Itaú Cultural (2024–2025), integra o Comitê de Indicação do Prêmio PIPA (2025) e atua em mostras, exposições e ações formativas em arte e audiovisual.
Entre seus trabalhos mais emblemáticos, “Frete Grátis para Todo Norte, Exceto para o Brasil” reúne artistas de diferentes gerações e linguagens – Eliakin Rufino, João Biase, Ykaro Amorim e o próprio Pérola – para a criação de obras que tensionam a lógica centro-periferia, evidenciando as potências criativas e as urgências políticas da Amazônia brasileira. “O projeto Frete Grátis Para Todo o Norte, Exceto Para o Brasil é uma intervenção artística, idealizada e curada por mim, um manifesto visual e poético que questiona as desigualdades históricas de acesso à cultura, informação, comunicação, mobilidade e circulação de bens simbólicos entre a região Norte e o restante do país”, explica Rafael.
Atualmente, Rafael desenvolve no doutorado uma pesquisa sobre grafitos e ranhuras, marcas deixadas nas paredes das escolas por crianças e adolescentes. As manifestações espontâneas dos alunos abordam temas como sexualidade, relações sociais, visão sobre os gestores, aspectos sociais e periferia.
