Angelo Venosa

Casa Roberto Marinho inaugura “Angelo Venosa, escultor”, no dia 25 de agosto

por Redação

Instituto anuncia mostra panorâmica em torno da obra de um dos maiores expoentes da arte contemporânea brasileira

Curadoria de Paulo Venancio Filho reúne 85 esculturas de aproximadamente 50 anos de produção do artista

Um mergulho na obra de um dos nomes mais importantes da arte contemporânea brasileira é o que espera o visitante de Angelo Venosa, escultor, mostra panorâmica a ser aberta publicamente no dia 25 de agosto de 2023, na Casa Roberto Marinho. Sob a curadoria de Paulo Venancio Filho, a individual ocupará os 1.200m² de área expositiva do instituto cultural no Cosme Velho, Zona Sul do Rio de Janeiro, reunindo 85 trabalhos de um arco temporal que vai do início da década de 1970 às últimas obras realizadas em 2021.

“A mostra homenageia um dos mais relevantes escultores brasileiros, que participou de algumas exposições realizadas pela Casa Roberto Marinho, e reafirma o interesse do instituto pela arte contemporânea”, comenta o diretor Lauro Cavalcanti.

De acordo com o curador, que acompanhou a trajetória artística de Angelo Venosa (São Paulo, 1954 – Rio de Janeiro, 2022) desde os primórdios, a exposição apresenta um amplo panorama de sua produção absolutamente singular. E revela a complexidade de seu pensamento escultórico expresso em obras de grandes dimensões ou de pequeno formato, construídas a partir da diversa gama de materiais que caracteriza seu processo criativo. 

“A carreira do Angelo surge quando a pintura volta a tomar proeminência no ambiente artístico brasileiro e vários de seus amigos eram pintores da chamada ‘Geração 80’. O fato é que ele foi o único, senão o mais importante, escultor dessa geração. E teve pouca influência das experiências neoconcretas tridimensionais que privilegiavam o plano e não o volume. Ele se voltou de maneira absolutamente heterodoxa para as características clássicas da escultura; o volume, a massa, o peso. Suas primeiras obras, resultado de uma artesania própria e quase rústica, enfatizavam o volume, a presença física entre uma forma abstrata ou representação de uma entidade orgânica”, analisa Paulo Venancio.

Sem obedecer a uma cronologia linear, o curador selecionou esculturas suspensas, de parede ou de chão. Provenientes de acervos institucionais e de coleções particulares, as peças serpenteiam pelo espaço, emergem horizontalmente ou exploram a verticalidade, incorporando luz e sombra como parte do projeto, e revelando uma inusitada investigação da estrutura e da forma. 

“Fiz questão de colocar, lado a lado, trabalhos de diferentes períodos, tamanhos e volumes. Cada sala tem uma unidade que se comunica com o todo. A proposta é apresentar o conjunto com certa liberdade, sem pautá-lo por eixos temáticos, deixando que o espectador encontre suas próprias referências a partir da multiplicidade de significados e inquietações que as obras evocam”,  informa Venancio Filho.

A radicalidade experimental que marca a produção de Venosa manifesta-se em cada trabalho. Em sua poética, materiais recorrentes à prática da escultura tradicional, como o bronze, o mármore, o aço e a madeira, se fundem a ossos, dentes de boi, piche, areia, cera de abelha, bandagem, filamentos de café, galho de árvore, breu, fibra de vidro, gesso, tecido e arame.

Apesar do aspecto eminentemente artesanal de sua obra, o escultor sempre esteve atento às tecnologias digitais e, a partir de um determinado período, incorporou a impressora 3D à sua prática, sem deixar de lado os meios tradicionais. Sobre esta fase, Paulo Venancio Filho escreveu, em 2013, no texto “A metamorfose dos corpos”: 

“Ficaram para trás as reminiscências do orgânico… É como se a escultura tivesse abandonado um período, um estágio do vertebrado para o seriado, do orgânico para o sintético. Do ateliê para o laboratório, um salto ‘evolutivo’ acompanha o andamento tecnológico do mundo. O acrílico, o recorte computadorizado do material, o seu ordenamento mecânico, preciso, irretocável, dos produtos em série”.

A panorâmica apresenta os trabalhos negros do início da carreira — estruturados a partir de madeira, tecido e tinta — em diálogo com a produção recente, estabelecendo relações plásticas entre as peças. Um autorretrato em xilogravura, de 1972, é a obra mais antiga em exibição. No térreo, há um espaço dedicado aos desenhos, anotações e esboços do artista que tinha grande fluência no traço. Completa a seleção uma série de retratos em acrílica sobre papel produzida por Luiz Zerbini, grande amigo de Venosa. A mostra contempla, ainda, uma cronologia ampliada organizada por Ileana Pradilla Ceron.

Angelo Venosa

Angelo Augusto Venosa nasceu em São Paulo, em 1954, filho de Giuseppe e Maria Venosa, imigrantes italianos chegados à capital paulista poucos anos antes. Na infância, suas primeiras referências sobre questões relativas à forma e ao fazer provêm das construções em madeira que seu pai projeta e realiza para os cenários no Clube Paulistano, e das modelagens e costuras elaboradas por sua mãe. 

Em 1973 Angelo frequentou a Escola Brasil, espaço experimental de ensino de arte. No ano seguinte, transferiu-se para o Rio de Janeiro, cidade que elegeu para morar até o fim da vida, para estudar na Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI-UERJ). Gradua-se bacharel em desenho industrial em 1977, ano em que se casa com Sara Grosseman, sua colega de faculdade, com quem teve dois filhos.

Na década de 1980, assiste a cursos livres na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, epicentro da cultuada “Geração 80”, marcada pela retomada da pintura.  Venosa se distingue de seus contemporâneos por ter se dedicado à escultura. Em 2007, defende a dissertação de mestrado “Da Opacidade”, na Pós Graduação da Escola de Belas Artes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). 

Desenvolvidos em seu ateliê no bairro do Jardim Botânico, seus trabalhos em madeira, envoltos por tecido, resina e fibra de vidro, ou compostos por cera de abelha e dentes, evocam volumes incomuns, fundando uma temporalidade ambígua e emanando referências a eras ancestrais. Essa sensação se amplia pela tensão entre as formas e os materiais empregados.

Desde então, lançou as bases de uma trajetória que inclui passagens pela Bienal de São Paulo (1987), Arte Brasileira do Século XX (1987, Musée d’Art Moderne de La Ville de Paris), Bienal de Veneza (1993) e Bienal do Mercosul (2005). 

Em 2012, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro consagrou-lhe uma exposição individual em comemoração aos 30 anos de carreira, que seguiu em itinerância para a Pinacoteca de São Paulo, o Palácio das Artes em Belo Horizonte e Mamam, em Recife. 

Algumas de suas esculturas em escala monumental estão instaladas em espaços públicos como os jardins do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e do Museu de Arte Moderna de São Paulo. A Pinacoteca do Estado de São Paulo (Jardim da Luz), a Praia do Leme e o Museu do Açude, ambos no Rio de Janeiro, também exibem obras permanentes. Bem como a cidade de Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, e o Parque José Ermírio de Moraes, em Curitiba.

Casa Roberto Marinho

A Casa Roberto Marinho foi aberta ao público como instituto cultural sem fins lucrativos em 28 de abril de 2018, no Cosme Velho, Zona Sul do Rio de Janeiro. A instituição foi integralmente criada com recursos próprios da família, de forma independente, sem qualquer incentivo ou uso de lei de isenção fiscal. Concebida para promover o conhecimento através da arte e da educação, tornou-se um centro ativo de referência em arte brasileira, sob a direção do arquiteto, antropólogo e curador Lauro Cavalcanti.

O acervo reunido ao longo de seis décadas pelo jornalista Roberto Marinho (1904-2003) é especializado em modernismo brasileiro dos anos 1930 e 1940, e abstração informal da década de 1950. O belo conjunto de cerca de 1.400 peças cadastradas – entre pinturas, esculturas, gravuras, objetos e desenhos – também recebeu trabalhos de estrangeiros, como Marc Chagall (1887-1985) e Salvador Dali (1904-1989). 

Com mais de 1.200m² de área expositiva, o projeto conta com sala de cinema, além de cafeteria e livraria especializada em publicações de arte. O jardim, originalmente projetado por Burle Marx com espécies da flora tropical, é um prolongamento da Floresta da Tijuca.

SERVIÇO:

ANGELO VENOSA, ESCULTOR

Abertura pública: 25 de agosto de 2023, das 12h às 18h

Encerramento: 12 de novembro de 2023

Instituto Casa Roberto Marinho

Rua Cosme Velho, nº 1105 – Rio de Janeiro | RJ

Tel: (21) 3298-9449

Visitação: terça a domingo, das 12h às 18h

(Aos sábados, domingos e feriados, a Casa Roberto Marinho abre a área verde e a cafeteria a partir das 9h.)

Ingressos à venda exclusivamente na bilheteria:

R$ 10 (inteira) / R$ 5 (meia entrada)

Às quartas-feiras, a entrada é franca para todos os públicos.

Aos domingos, “ingresso família” a R$ 10 para grupos de quatro pessoas.

A Casa Roberto Marinho respeita todas as gratuidades previstas por lei e é acessível a pessoas com deficiência física.

Estacionamento gratuito para visitantes, em frente ao local, com capacidade para 30 carros.

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