Imagina a angústia de querer dizer uma palavra ou frase, ter a mensagem na cabeça, mas não conseguir falar? É justamente isso que acontece com uma criança diagnosticada com Apraxia de Fala na Infância (AFI). Meninos e meninas com aptidões e talentos diversos não conseguem se expressar através das palavras devido a uma condição neurológica que afeta sua habilidade em produzir e sequencializar os sons da fala. A criança sabe o que dizer, mas o seu cérebro falha ao planejar os comandos para os articuladores produzirem os sons que formam as sílabas das palavras e frases.
Mas o que precisamos saber sobre essa condição, pouco debatida no Brasil, que afeta 2 a cada mil crianças? Separamos cinco pontos para você se inteirar sobre esse tema.
1 – É preciso estar atento ao comportamento do seu bebê
Balbuciar e emitir sons são características que fazem parte do desenvolvimento do bebê. De acordo com a Dra. Elisabete Giusti, fonoaudióloga e conselheira técnica da ABRAPRAXIA (Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância), os pais devem prestar atenção se a criança é muito quietinha ou silenciosa. Ela também pode ter dificuldades em mastigar, soprar, sensibilidade para escovar os dentinhos e até mesmo seletividade alimentar.
2 – O diagnóstico precoce faz toda diferença
A percepção dos pais é muito importante e fundamental durante todo o processo de descoberta, mas o diagnóstico deve ser realizado por um fonoaudiólogo com formação e experiência em transtornos de fala e de linguagem, incluindo os transtornos motores de fala. Segundo Dra. Elisabete Giusti, a “suspeita ou o diagnóstico precoce é muito importante para o que o tratamento seja adequadamente direcionado. “A avaliação com outros profissionais, como terapeutas ocupacionais, médicos, dentre outros, pode ser necessária”, explica.
3 – Cada caso é um caso
Fonoaudiólogos são os profissionais indicados para tratar a Apraxia de Fala na Infância. A intervenção deve contemplar estratégias direcionadas aos aspectos do controle motor da fala. Existem algumas abordagens disponíveis, como o PROMPT, DTTC e ReST. O tratamento selecionado depende da idade do paciente, da gravidade do quadro e quais as metas do tratamento. Um ambiente familiar acolhedor, em que não ocorra pressão para a criança falar adequadamente, é fundamental para que ela possa se desenvolver. Determinar regras em casa e criar uma rotina de atividades complementares, ajuda muito a estimular a criança. Já insistir para que ela fale ou brigar por não conseguir se expressar, são atitudes que não devem ser consideradas.
4 – O preconceito existe
“Eu sei mais do que digo. Eu penso mais do que falo. Eu entendo mais do que você imagina”. O slogan da ABRAPRAXIA explica bem a forma como as crianças com AFI se sentem. Apesar de não conseguirem expressar com palavras o que estão sentindo, os seus pensamentos, vontades e frustrações estão presentes. Diante disso, é muito importante a mediação de um adulto para que a comunicação com outras crianças não seja um empecilho.
No ambiente escolar é comum uma criança com Apraxia de Fala na Infância se sentir excluída. Isso acontece porque os colegas, muitas vezes, não entendem o que é dito. De acordo com Dra. Elisabete é fundamental orientar professores e coordenadores para que haja compreensão e acolhimento. “O professor deve ser o intermediador da criança com os colegas, deve estar atento para que ela não seja excluída do grupo de amigos”, explica.
5 – Uma Associação foi criada por pais de crianças com AFI
Em 2016, Fabiana Collavini, Juliane Tosin, Mariana Chuy, mães de crianças diagnosticadas com AFI, criaram a ABRAPRAXIA – Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância. Devido à falta de informações sobre a condição, elas se uniram atrás de informações e deram início a esse trabalho – tendo a Dra. Elisabete Giusti como conselheira técnica.
A Associação já capacitou mais de 15 mil pessoas, entre fonoaudiólogos, pais e familiares, além de oferecer cursos regulares para esses públicos e profissionais do SUS. Nas redes sociais, a ABRAPRAXIA possui mais de 88 mil de seguidores, entre Instagram, YouTube, Facebook e LinkedIn.
De acordo com Fabiana Collavini, fundadora e presidente da Associação é importante promover informações sobre AFI para que os pais possam oferecer aos seus filhos um tratamento correto e de qualidade. “Precisamos alertar os pais e profissionais de saúde sobre a existência desse distúrbio. O quanto antes as crianças recebem o tratamento adequado, maiores as chances de elas atingirem seu melhor potencial de desenvolvimento”, conclui.