Pela primeira vez em solo carioca, o Coletivo CIDA (Coletivo Independente Dependente de Artistas), do Rio Grande do Norte, apresentará os premiados espetáculos de dança contemporânea “Corpos Turvos” e “Reino dos Bichos e dos Animais, Esse é o Meu Nome”, a partir de 1 de junho, de quinta a domingo, às 20h, na Arena do Sesc Copacabana, RJ. A curta temporada vai até o dia 11.
As duas obras serão encenadas em sequência e fazem parte de uma trilogia em dança-tragédia desenvolvida pelo grupo e coreografada por René Loui. “Corpos Turvos” usa a linguagem da dança para trazer reflexões sobre a invisibilização e o silenciamento de corpos pretos, pobres, periféricos, LGBTQIAPN+, de pessoas com deficiência e outros corpos fora dos padrões. Já “Reino dos Bichos e dos Animais, Esse é o Meu Nome” tem como ponto de partida a obra de Stella do Patrocínio, mulher preta que viveu por quase 30 anos, sequestrada em ambiente manicomial.
As montagens têm interlocução dramatúrgica de Jussara Belchior e elenco formado por: Ana Cláudia Viana, Jânia Santos, Marconi Araujo, Pablo Vieira e Rozeane Oliveira, além de René Loui. Todas as sessões terão audiodescrição e interpretação em LIBRAS.
A temporada no Sesc Copacabana é impulsionada pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar e os espetáculos são vencedores dos prêmios: Prêmio Funarte – Dança Acessível – Acessibilidança 2021; Prêmio Sesc de Artes Cênicas 2022; e do Prêmio Funarte de Estímulo ao Teatro 2022, que possibilitou a realização da terceira parte da trilogia, “Insanos e Beija-Flores a Dois Metros do Chão”.
“Corpos Turvos”: obra questiona a exclusão e a marginalização de corpos dissidentes na nossa sociedade
O primeiro espetáculo apresentado é “Corpos Turvos”, uma obra impactante que, por meio da dança, propõe discussões sobre a estigmatização, desumanização, invisibilização e extermínio de corpos que estão à margem. A montagem foi desenvolvida a partir de uma residência artística do coreógrafo René Loui em Odisha Biennale, na Índia, e foi inicialmente pensada como um espetáculo solo, no entanto, René entendeu que investigar apenas o seu corpo não alcançaria a mensagem que queria transmitir.
“Cada um dos intérpretes fala, dança, vive, grita, respinga suas próprias histórias e suas mais íntimas verdades. Colocam em cena suas identidades, singularidades e alteridades. Representamos, mesmo que sem a necessidade de representação, inúmeros outros corpos silenciados, violentados e exterminados. Carregamos conosco diversos e distintos universos identitários”, revela Arthur Moura, produtor do Coletivo CIDA.
“Corpos Turvos” é, assim, uma espécie de “obra-grito” que evidencia a voz de pessoas que não existem aos olhos das sociedades modernas. As coreografias foram pensadas para incluir todos os corpos, incluindo os de pessoas com deficiência.
“Transpor para a cena questões tão emergenciais é sempre desafiador, principalmente pelo fato de que a sociedade, na maioria das vezes, se nega à percepção dessas múltiplas realidades”, completa Arthur.
“Reino dos Bichos”: uma investigação cênica sobre a essência da obra de Stella do Patrocínio
Já “Reino dos Bichos e dos Animais, Esse é o Meu Nome” se aprofunda nos múltiplos universos e vivências de Stella do Patrocínio, poeta negra que foi “psiquiatrizada” por quase 30 anos. Suas poesias revelam as agruras de um corpo preto em cárcere e são essas palavras que permeiam a montagem, aliadas à singularidade de cada um dos dançarinos.
“O espetáculo apresenta – fugindo da espetacularização – a vida dessa mulher e, por meio das vivências de cada um dos artistas em cena, as reais dores e violências que nossos corpos carregam, ainda que silenciosamente”, explica René Loui.
Usando Stella como base, a avassaladora obra vem questionar o preconceito e a violência enfrentados por esses grupos sociais, historicamente marginalizados e excluídos, abordando também o ambiente manicomial. As palavras de Stella são mobilizadoras diretas das imagens coreográficas de “Reino dos Bichos”.
“‘Reino’ não é uma obra sobre Stella, mas sim, para Stella. Não buscamos representar as dores e as violências impetradas sobre o seu corpo, ao contrário, nos apegamos às nossas árduas existências, para desenvolver – paralelamente – aproximações e distanciamentos para com os universos de Stella. O espetáculo é um contínuo grito no escuro, na expectativa que nossas existências não sejam mais invisibilizadas”, conclui o coreógrafo, idealizador e diretor artístico, René Loui.
SINOPSES
REINO DOS BICHOS E DOS ANIMAIS, ESSE É O MEU NOME não é uma obra sobre Stella, mas sim, para Stella. Livremente inspirada na poesia e na vivência de Stella do Patrocínio, mulher preta que viveu por quase 30 anos em ambiente manicomial. A peça coreográfica questiona de maneira sutil e avassaladora as duras realidades enfrentadas pelos grupos sociais historicamente marginalizados ou excluídos. Os distintos marcadores sociais apresentados na obra ressaltam – por meio das alteridades – as complexidades do existir. O espetáculo tem como proposta cênica uma pesquisa coreográfica e dramatúrgica que parte da problematização autobiográfica de corpos não-hegemônicos e pluriétnicos, investigando os estereótipos e estranhamentos associados a estes formatos de corpos na sociedade. O espetáculo apresenta as árduas e dolorosas existências de cada um dos intérpretes-criadores. Essa é sem dúvida a dança-tragédia mais sincera que você assistirá em toda sua vida.
CORPOS TURVOS é uma urgência da sobrevivência, é um pedido por empatia, é um grito de socorro para que nossos corpos deixem de ser números. O espetáculo propõe uma discussão, através da dança, de temáticas acerca da estigmatização, desumanização, extermínio e invisibilidade das pessoas pretas, de toda comunidade LGBTQIAPN+, de pessoas com deficiência, das mulheres, dos povos originários, das pessoas que vivem e/ou convivem com o HIV ou AIDS, ou seja, traz para a cena – e coloca em discussão – corpos que, muitas vezes, são vistos exclusivamente através de marcadores sociais.
FICHA TÉCNICA:
Concepção, Direção Coreográfica e Direção Artística: René Loui
Interlocução Coreográfica e Dramatúrgica: Jussara Belchior
Intérpretes Convidados: Ana Cláudia Viana, Jânia Santos, Marconi Araujo, Pablo Vieira e Rozeane Oliveira
Trilha Sonora Original: René Loui e Fabián Avilla Elizalde
Participação Sonora: Katharina Vogt
Captação de Áudio e Sonorização: De Oliveira Produções Musicais
Técnica de Sonorização: Consuelo Barros
Acessibilidade: Coletivo CIDA
Roteiro e Tradução para Língua Brasileira de Sinais: Brígida Paiva
Interpretação para Língua Brasileira de Sinais: Edécio Karam
Roteiro Audiodescrição: Arthur Moura e René Loui
Locução Audiodescrição: Nara Kelly
Web Designer e Peças Gráficas: René Loui
Identidade Visual: Casulo Cria
Imagens de divulgação: Brunno Martins
Registro Fotográfico Temporada: Renato Mangolin, Bianca Oliveira e Luiza Rose
Registro Audiovisual: Lucas Bueno
Captação Mobile: Arthur Moura e René Loui
Designer e Operação de Iluminação: Leila Bezerra
Técnico de Iluminação: João Gaspary
Produção Geral: René Loui
Produção Executiva e Coordenação Financeira: Arthur Moura
Produção Local: Daniel Scarcello
Assessoria de Comunicação: Cecília Oliveira – Comunica Ceci
Assessoria de Comunicação Local: Mariana Pache e Mario Camelo
Figurino: René Loui
Elaboração de Projeto: Arthur Moura e René Loui
Apoio Local: Cantina Donanna, Stambul Comida Árabe
Patrocínio de Criação da Trilogia: Sesc – Departamento Nacional, Funarte – Fundação Nacional de Artes, Ministério da Cultura e Governo Federal
SERVIÇO:
Dias: De 1 a 11 de junho, de quinta a domingo
Horário: 20h
Local: Arena do Sesc Copacabana
Ingressos: R$ 7,50 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30 (inteira)
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ
Informações: (21) 2547-0156
Bilheteria – Horário de funcionamento: Terça a sexta – de 9h às 20h | Sábados, domingos e feriados – das 14h às 20h.
Classificação indicativa: 18 anos
Duração: 80 minutos
Lotação: 246 ingressos por apresentação – Sujeito à lotação.