Sete mulheres de povos, culturas e tempos diferentes se encontram no teatro. Maria Padilha de Castela, Maria Quitéria, Maria Felipa de Oliveira, Maria Doze Homens, Maria Bonita, Maria Navalha e Maria Mulambo entrelaçam suas histórias de luta e liberdade no musical “Outras Marias”, que volta ao cartaz, dia 03 de março, no Teatro Glauce Rocha, no Centro. A peça, além de ser escolhida para a programação de reabertura do espaço, será apresentada no mês da mulher, para celebrar a força dessas personagens históricas. O espetáculo nasceu de pesquisa da atriz e cantora Clara Santhana, que vive Clara Nunes no palco há 10 anos e dá continuidade ao seu trabalho sobre a trajetória de mulheres fortes.
Com texto de Márcia Zanelatto e direção de Patrícia Selonk, a peça, que estreou com sucesso e elogios no ano passado, ganhou o Selo de qualidade, criado por Gilberto Bartholo em 2022, e foi indicada em duas categorias no prêmio do site Musical Rio 2022 (Melhor atriz – Clara Santhana e Selo Musical.Rio – Outras Marias). As sessões serão de sexta a domingo, às 19h. No dia 4 de março, o espetáculo vai receber espectadoras atendidas por dois centros de apoio a mulheres em situação vulnerável: Redeh (Centro de Desenvolvimento Humano) e o Centro Cultural Tupiara, na Cidade de Deus. Além disso, estarão presentes alunos do Norte Teatral, projeto de ensino de Teatro para jovens de comunidade e estudantes de rede pública, com aulas no Teatro Miguel Falabella, sob a coordenação do professor Leandro Castilho, ator da Cia Atores de Laura. Após a sessão, haverá uma roda de conversas entre a equipe de criação, as mulheres e os jovens.
O espetáculo foi construído a partir de uma pesquisa extensa, quando a atriz Clara Santhana notou a escassez de material de mulheres que tiveram a coragem de romper com padrões normativos, como Maria Bonita e Maria Felipa de Oliveira (que lutou pela independência da Bahia em 1823), Maria 12 Homens e as Marias que se tornaram divindades em cultos de origem brasileira e matriz africana, como as Marias Mulambo, Navalha, a portuguesa Quitéria e a mais conhecida delas, Maria Padilha – amante de um monarca no antigo reino de Castela e foi coroada depois de morta.
“Essas sete mulheres têm em comum, além do nome, o fato de serem mulheres transgressoras. Elas são de povos diferentes, culturas diferentes, viveram em tempos diferentes, mas representam a mulher livre. São arquétipos de mulheres livres, que vão numa trajetória oposta à de Maria de Nazaré, que representa o arquétipo da grande mãe e da mulher casta, que é mais aceita na sociedade. As nossas Marias rompem com os padrões normativos”, explica Clara Santhana.
Patricia Selonk, uma das mais respeitadas atrizes da sua geração, fez sua estreia como diretora nesta montagem. A dramaturgia é assinada por Marcia Zanelatto, com quem Clara volta a trabalhar, e a direção musical é de Claudia Elizeu e a direção de movimento fica a cargo de Cátia Costa.
“Além das personagens femininas, o projeto tem muitas mulheres na sua equipe de criação. Foi bom demais ter essa mulherada junta na sala de ensaio. Como diretora, optei por levantar algumas questões fundamentais e buscar possibilidades de resposta. Como fazer fluir essas histórias? Como juntar em uma peça tantos saberes compartilhados em nossas conversas nos ensaios? Várias das histórias escolhidas por Clara vêm da tradição oral, não têm fontes de pesquisa formal abrangente. Falamos de mulheres que, a seu modo, chacoalharam as coisas. Elas se apropriaram tanto de si que fizeram feitos fabulosos. Todas inventaram formas de existir com o que tinham no agora. Acho que foram elas, as personagens, que me ensinaram por onde ir, a ouvir, ouvir, abrir a percepção e trabalhar com o que tinha no agora da sala de ensaio, a não esperar as condições ideais, a maturidade de diretora, o saber exatamente o que fazer”, descreve Patricia.
As histórias de vidas dessas Marias sustentam a narrativa que, por sua vez, resulta da costura entre textos falados e cantados. Alguns deles são célebres como “Olha, Maria”, música de Tom Jobim letrada por Vinicius de Moraes e Chico Buarque, e “Saias e cor”, parceria de Ana Costa e Zélia Duncan. Essas canções misturam-se a ladainhas e a pontos e louvores às entidades religiosas, como “Arreda homem” e “Pra ser rainha”, ambos de domínio público. Um dos temas é a inédita “Brinca, Maria”, composta pelo professor Luiz Antônio Simas, um dos mais respeitados estudiosos do samba e da africanidade no país.
Ficha técnica:
- Atuação, idealização e pesquisa: Clara Santhana
- Texto: Márcia Zanelatto
- Direção: Patrícia Selonk
- Direção Musical: Cláudia Elizeu
- Direção de Movimento: Cátia Costa
- Percussão: Beà Ayòóla / Geiza Caldas
- Acordeom: Verónica Fernandes / Marcela Coelho
- Atriz convidada (voz em off): Ilea Ferraz
- Cenografia: Dóris Rollemberg
- Iluminação: Daniela Sanchez
- Figurino: Wanderley Gomes
- Visagismo: Diego Nardes
- Arte gráfica: Raquel Alvarenga
- Fotos arte: João Saidler
- Fotos cena: Ariel Cavotti
- Bordadeira: Angela Santtana
- Assessoria de imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)
- Produção Executiva: Márcio Netto
- Direção de Produção: Diga Sim! Produções (Sandro Rabello)
- Realização: Naine Produções Artísticas
Serviço:
- Outras Marias
- Temporada: de 03 a 26 de março
- Teatro Glauce Rocha: Av. Rio Branco, 179 – Centro, Rio de Janeiro – RJ
- Telefone: (21) 2220-0259
- Dias e horários: sexta a domingo, às 19h
- Lotação: 202 lugares
- Duração: 1h10
- Classificação: 12 anos
- Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada).