Descoberta histórica: Fortaleza medieval do século XIV é encontrada em Odessa

por Redação
Divulgação/South Ukrainian National Pedagogical University

Uma descoberta arqueológica extraordinária transformou nossa compreensão sobre a história medieval de Odessa. Pesquisadores ucranianos desenterraram os vestígios de uma antiga fortaleza genovesa, revelando camadas históricas que remontam ao século XIV e oferecendo insights únicos sobre o passado do principal porto ucraniano no Mar Negro.

Escavações Revelam Tesouro Arqueológico Centenário

As investigações arqueológicas conduzidas no emblemático Boulevard Primorsky trouxeram à luz os remanescentes da fortaleza Ginestra, uma estrutura defensiva construída pelos comerciantes genoveses durante a expansão medieval italiana. O projeto de pesquisa, finalizado em julho de 2025, foi desenvolvido através da colaboração entre a Universidade Pedagógica Nacional do Sul da Ucrânia e o Instituto de Arqueologia da Academia Nacional de Ciências da Ucrânia.

Durante três semanas intensivas de escavação nas proximidades do monumento ao Duque de Richelieu, os arqueólogos identificaram estruturas de pedra, fragmentos cerâmicos e objetos de bronze que evidenciam a presença italiana na região entre os séculos XI e XVIII. Andriy Krasnozhen, reitor universitário e coordenador da expedição, destacou a importância da localização precisa dos achados arqueológicos.

Mistério Histórico de Dois Séculos Finalmente Solucionado

A expedição arqueológica também proporcionou a resolução de uma questão histórica debatida há quase 200 anos: a localização exata do Castelo de Hadzhibey. Esta fortaleza otomana foi destruída pelas forças russas em 1789, durante os conflitos da Guerra Russo-Turca, deixando apenas registros históricos sobre sua existência.

Os pesquisadores identificaram a muralha frontal de uma instalação de artilharia costeira e evidências da demolição estrutural, confirmando que a fortificação ocupava uma área de aproximadamente 1.600 metros quadrados. A posição estratégica da fortaleza, localizada a apenas dois metros da encosta rochosa e 32 metros acima do mar, proporcionava controle visual completo sobre as atividades portuárias.

Estratificação Histórica Revela Civilizações Antigas

As escavações demonstraram a complexidade temporal do desenvolvimento urbano de Odessa, com as muralhas fortificadas inseridas em camadas arqueológicas do século V a.C., pertencentes ao antigo povoado grego de Porto Istriano. Esta foi a primeira ocasião em que arqueólogos conseguiram mapear os estratos culturais da colônia helênica dentro de seus limites setentrionais.

Ivan Liptuga, diretor do departamento cultural do Conselho Municipal de Odessa, classificou as descobertas como “um marco histórico para a cidade, para a nação e para a historiografia”, enfatizando que os achados fortalecem a candidatura de Odessa como Patrimônio Mundial da UNESCO. O projeto arqueológico iniciado em 2021 enfrentou interrupções devido ao conflito militar, sendo retomado em junho de 2025.

Rede Comercial Genovesa no Mar Negro

A presença dos comerciantes genoveses na região transcendia a fortaleza Ginestra recém-descoberta, integrando uma extensa rede mercantil que controlava o comércio marítimo medieval. A República de Gênova desenvolveu estabelecimentos estratégicos e centros comerciais em todo o Mediterrâneo e Mar Negro, mantendo atividade comercial do século XI até o final do século XV.

A colônia genovesa de Gazária, situada na atual península da Crimeia, funcionava como centro administrativo regional. Esta rede incluía fortificações impressionantes como a estrutura defensiva de Sudak, construída entre 1371-1469 com 14 torres interconectadas, e a monumental fortaleza de Feodosia (Kafa), considerada a segunda maior da Europa após Tessalônica.

Evidências históricas indicam que estes comerciantes-administradores italianos obtinham lucros substanciais através do comércio de escravos do Mar Negro até meados do século XV, exportando sistematicamente para o Egito e Europa Ocidental. A descoberta de Ginestra completa uma lacuna fundamental na compreensão do império marítimo genovês, conectando as fortalezas crimeanas bem documentadas com a costa ocidental do Mar Negro.

Transformações da Praça Central de Odessa

O local onde ocorreram estas descobertas arqueológicas experimentou mudanças nomenclaturais que espelham a história política turbulenta da região. Inicialmente denominada Elizavetinskaya em homenagem à Imperatriz Elizabeth, o espaço posteriormente recebeu o nome Dyukovskaya para celebrar o Duque de Richelieu, passando por pelo menos sete denominações diferentes.

Durante o período soviético a partir de 1920, tornou-se conhecida como Praça Karl Marx, posteriormente Praça Potemkin desde 1965, antes de ser renomeada Praça Catarina após a independência ucraniana em 1991.

No centro da praça encontra-se o Monumento aos Fundadores de Odessa, que simboliza as disputas pela memória histórica e instabilidade política regional. O monumento original de 1900, honrando Catarina II e seus colaboradores, foi removido pelos bolcheviques em 1920, substituído inicialmente por um busto de Karl Marx destruído por uma tempestade, depois por uma estátua completa apelidada pelos residentes de “Karl o Segundo”.

O monumento atual, meticulosamente reconstruído em 2007 utilizando fragmentos originais (apenas a cabeça de Catarina necessitou refeitura), enfrentou forte resistência de patriotas ucranianos que consideraram inadequada a homenagem à imperatriz russa na Ucrânia independente.

Preservação e Valorização do Patrimônio Descoberto

Estão em desenvolvimento planos para preservar o sítio arqueológico através de uma cobertura de vidro e placas informativas em bronze, potencialmente tornando os vestígios da fortaleza acessíveis aos visitantes enquanto protege este capítulo revelado da expansão europeia medieval. Esta iniciativa representa um investimento significativo na valorização do patrimônio histórico ucraniano e no turismo cultural regional.

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