Dora de Assis estreia “Na Quinta Dor” em 4 de julho no teatro do Centro Cultural da Justiça Federal

Com direção de Joana Dória e Lara Coutinho, peça nasceu há um ano, quando a atriz estava no hospital, entre a vida e a morte - Com leveza e humor, espetáculo utiliza a doença para discutir questões mais amplas sobre a condição humana

por Jorge Rodrigues
Na Quinta Dor -Foto: Hugo Moura

A experiência de quase morte é o ponto de partida de “Na Quinta Dor”, espetáculo que estreia em 4 de julho no Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF), no Centro do Rio, para curta temporada, com apresentações sextas e sábados, às 19h, até o dia 26 do mesmo mês.

Sob a direção de Joana Dória e Lara Coutinho, a atriz Dora de Assis, que também assina a dramaturgia, visita as memórias de uma vivência dolorosa numa tentativa de reelaborar o que viveu. Em menos de dois meses, no último ano, Dora passou por três internações e duas cirurgias, que deixaram cicatrizes em sua pele e em sua história, que a fizeram repensar a vida e revisitar também suas lembranças escolares, na infância de adolescência, e como professora de artes para turmas de crianças pequenas.

Mas que ninguém espere um espetáculo pesado. Apesar de tratar de um assunto trágico – uma sucessão de situações hospitalares em um curto período de tempo, que teve início com uma amigdalite que se transformou em um abscesso retrofaríngeo, seguida de uma sutura no pé e logo depois, uma apendicite que revelou um câncer no órgão — “Na Quinta Dor” trata desses e outros temas com humor e leveza. A dramaturgia usa a internação, a doença e a quase morte como metáforas para discutir questões mais amplas sobre a condição humana.

Por meio de relatos pessoais, que envolvem a vivência como artista e educadora de arte, e da influência que os acontecimentos hospitalares tiveram diante de sua vida e trabalho, Dora se desdobra em relatos a fim de estabelecer uma relação mais íntima entre o existir, o fazer artístico e o trabalho educacional através do risco, no sentido do ímpeto, como possibilidade única de ação.

Dora sofreu negligência e violência médica. A situação, que já era delicada, se agravou ainda mais. Mas o foco do espetáculo não é esse, mas passa por esse lugar. ‘Na Quinta Dor’ fala, com leveza e humor, sobre os impactos que o corpo sofre e o que permanece nele.

“A cena permite que eu entre em contato com tudo o que eu sofri de uma maneira diferente, não apenas o que aconteceu comigo, mas através de mim e o que estou fazendo com tudo isso. Quis fazer do riso uma arma. O humor pode ser uma estratégia de sobrevivência e de combate à violência, de não querer admitir a derrota. Isso tem a ver com meu trabalho e como minha conduta de vida. A peça fala sobre isso também”, adianta Dora de Assis. “O espetáculo faz um paralelo com a educação, sistema que tem um papel fundamental na formação do indivíduo. Mas que também pode trazer danos que carregamos conosco a longo prazo”, completa.

“Na Quinta Dor” está associada ao Trabalho de Conclusão de Curso de Dora de Assis em Licenciatura em Artes Cênicas. O cenário, uma criação coletiva de toda equipe, é composto por 70 sacos transparentes pendurados, repletos de líquidos e diversos elementos como gaze, esparadrapos e remédios. Ao longo do espetáculo, eles são manipulados e gotejam, remetendo a fluidos como sangue, soro e lágrimas, e à rotina hospitalar. O figurino, idealizado por Rui Cortez e Lucília de Assis — multiartista, integrante do grupo O Grelo Falante, e mãe de Dora —, que, assim como a cenografia, representa o momento conturbado enfrentado pela protagonista: um macacão, costurado com retalhos e apliques variados, simboliza os órgãos vitais, os procedimentos cirúrgicos e as cicatrizes consequentes de todo processo.

Dora de Assis é filha de Alexandre Dacosta e Lucília de Assis, casal de multiartistas conhecidos por seu trabalho em diversas áreas, incluindo teatro, música e artes visuais. Juntos, Alexandre e Lucília criaram a dupla Claymara Borges & Heurico Fidélis, uma sátira ao sucesso convencional que performou em diversos programas de TV, gravou álbum, escreveu livro, fez teatro e exposição de artes visuais. Em 2024, meses antes da internação de Dora, pai, mãe e filha apresentaram, em família, o espetáculo “Felicidade à Venda”, uma reflexão cômica em torno do marketing da venda de fórmulas mágicas de sucesso. Além de Lucília coassinar o figurino de “Na Quinta Dor”, seu namorado Bruno Fidalgo é responsável pela trilha sonora do espetáculo e seu irmão, Tomás Dacosta, escreveu uma das músicas da montagem.

“Eu não acho que sou artista só por causa dos meus pais, mas é muito por eles também, claro, porque, para mim, essa é a única maneira de viver que me foi apresentada. Eles me ensinaram que é possível ser artista não apenas pelo ofício, mas pela oportunidade de fazer da vida uma obra de arte, uma experiência artística. Tem muito mais a ver com a maneira como você experiencia as coisas e se relaciona com as pessoas”, define.

Dora de Assis

Atriz, dramaturga, autora e artista visual. Nos palcos, assina a coautoria do espetáculo “Felicidade à Venda” (2024), dirigido por Natasha Corbelino, no qual também está em cena como atriz, junto de seus pais, Lucília de Assis e Alexandre Dacosta. Autora e atriz da peça “ponto ZER0” (2023-2024), dirigida por Débora Lamm. Seus dois livros, “Poesia Rouca” (2020) e “Lagartixa Sem Rabo” (2025), foram publicados pela Editora Philos. Trabalha como atriz há 11 anos, com sua estreia no cinema no filme “Mate-me Por Favor” (2015), de Anitta Rocha da Silveira. Seus últimos trabalhos no cinema foram como Sandra Pêra em “Homem com H”, de Esmir Filho, como Margarida Guedes Nogueira, uma das protagonistas no longa “Mário de Andrade, O Turista Aprendiz”, de Murilo Salles, e como Daniela em “Adeus, Verão!”, de Diego de Jesus. Na televisão, foi uma das protagonistas de “Malhação: Toda Forma de amar” (2019-2020). Formada em Artes Visuais pela UERJ (2021), com Licenciatura em Artes Cênicas pelo Célia Helena Centro de Artes e Educação (2024).

FICHA TÉCNICA

  • Dramaturgia e atuação: Dora de Assis
  • Direção: Joana Dória e Lara Coutinho
  • Direção de movimento: Henrique Arruda
  • Figurino: Rui Cortez e Lucília de Assis
  • Trilha sonora: Bruno Fidalgo e Tomás Dacosta
  • Luz: Gabriel Rochlin
  • Técnica de palco: Giulia Padovan e Fernanda Cabral
  • Assessoria de imprensa: Catharina Rocha
  • Operador de som: Bruno Fidalgo
  • Operadora de luz: Julia Morais

SERVIÇO

Espetáculo: “Na Quinta Dor”

Temporada: de 4 a 26 de julho de 2025

Apresentações: sextas e sábados, às 19h

Local: Centro Cultural da Justiça Federal – Av. Rio Branco, 241 – Centro. Tel.: (21) 3261-2550

Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$30 (meia).

Classificação indicativa: 12 anos. Duração: 90 min.

Instagram@naquintador

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