Helton Timoteo é Especialista em Teoria da Literatura/Produção Textual e Mestre em Linguística Aplicada (UERJ). Professor de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio (Estado) e de Linguística, no Superior. É membro do Conselho Científico da Revista Traduzir-se da Faculdade FEUC. Publicou Réquiem para Lavine (2015), Maçã Atirada sem Força (2017) e o romance A Canção de Variata (um dos vencedores, em 2020, do Prêmio Digital da Biblioteca Pública do Paraná, a nível nacional, lançado em fevereiro de 2022 pela Penalux, como os dois anteriores). Foi um dos vencedores do Prêmio Off Flip de Literatura (poema), e do XV Prêmio Literário da Fundação CEPERJ (conto), ambos em 2014. Foi semifinalista do 1º Prémio Internacional Pena de Ouro, em 2020 (conto Lídia), e finalista do mesmo prêmio, em 2021 (conto Os Olhos do Poeta).
“Na ilha, conhece Variata, a menininha cor de rosa, de cerca de 7 anos, com quem começa a interagir a partir do Capítulo VII. Aliás, o número sete vai perpassar toda a obra, simbolizando plenitude, perfeição, união dos dois mundos, o sobrenatural e o natural, o espiritual e o físico, o intelectivo e o intuitivo.”
Boa leitura!
Escritor Helton Timoteo, é um prazer contarmos com a sua participação no Sopa Cultural. Conte-nos, o que o motivou a escrever um romance?
Helton Timoteo – Comecei minha carreira literária como poeta. Depois de algum tempo, me aventurei na prosa, escrevendo principalmente contos e crônicas esparsas. Em 1990, nasceu minha filha Iasmim Martins. Ela era muito lourinha, cabelos cacheados e olhos muito azuis. Desde muito cedo, demonstrou muito sagacidade para perceber a realidade a sua volta e uma grande capacidade expressiva. Decidi, então, escrever um livro em sua homenagem. Assim, iniciei a primeira versão do romance A Canção de Variata, o qual mantive na gaveta por muitos anos, até decidir retomá-lo em 2017, a fim de compor melhor a narrativa, tornando-a mais robusta, mais consistente, tanto do ponto de vista estilístico e temático, quanto da sua própria estrutura, já que a questão crucial para mim não é apenas o que se escreve, mas como se escreve.
Quais critérios foram utilizados para escolha do título “A Canção de Variata”?
Helton Timoteo – O título se refere a uma canção de despedida, mas também de redenção e restauração, cantada por Variata (esse nome significa Vento do Norte, numa língua indígena norte-americana e variedade, em latim), a menininha cor de rosa, uma das principais personagens do livro, ao lado de João Pescador. Esse é também o título de um dos últimos capítulos da Segunda Parte do livro (Reflexões e Destruições). A menina é uma espécie de aparição ou segunda consciência do Pescador (ou ainda uma espécie de anjo da anunciação) e o seu nome e o epíteto acima foram dados por ele, um homem de aproximadamente setenta anos, que vive exilado numa choupana em uma ilha com poucos habitantes.
Apresente-nos a obra
Helton Timoteo – A obra narra a história de João Pescador, um senhor de 70 anos que — farto da cidade grande — exila-se numa ilha distante, habitada por alguns pescadores, comerciantes, entre outros, com o objetivo de purgar suas antigas dores, mágoas, rancores e refletir sobre sua própria vida, em particular, e a existência humana, como um todo. Na ilha, conhece Variata, a menininha cor de rosa, de cerca de 7 anos, com quem começa a interagir a partir do Capítulo VII. Aliás, o número sete vai perpassar toda a obra, simbolizando plenitude, perfeição, união dos dois mundos, o sobrenatural e o natural, o espiritual e o físico, o intelectivo e o intuitivo. Antônio dos Raios (outra personagem importante) terá 7 filhos (seis natimortos e um que morre aos sete anos); a ilha será devastada por sete pragas; sete crianças de sete anos cada uma vão perecer durante a catástrofe; sete são as entidades sobrenaturais; sete são as personagens mais importantes; etc.
O que mais o atrai neste romance?
Helton Timoteo – Muitas coisas me atraem. A forma como o livro está estruturado. A linguagem poética e filosófica que perpassa toda a narrativa. A plurissignificação do enredo e de algumas personagens, o que conduz diferentes leitores a fazerem diferentes leituras da obra, ampliando sua significação e complexidade. A carga psicológica e mesmo psicanalista que atravessa as interações dialógicas das personagens, especialmente João e Variata, contribuindo decididamente para as suas constituições subjetivas. A aura de mistério e mistificação que envolve a menininha cor de rosa, o que lhe confere uma tal indefinição e dimensão, que conduz os leitores a inúmeras possibilidades de interpretação desse pequeno ser. A valorização da vida simples, livre das amarras da sociedade do espetáculo e narcisista.
Comente sobre o momento de criação da obra, como se deu a escrita, relação com a família, com o seu dia-a-dia.
Helton Timoteo – Iniciei a construção do romance em 1990/1992, respectivamente, anos de nascimentos das minhas duas filhas. A primeira versão constituiu-se de quase 40 capítulos, que encerram praticamente toda a essência da obra. Apesar disso, julguei que ainda não era digno de publicação, pois apresentava algumas falhas de composição, isto é, em função da nova constituição familiar, eu o havia produzido de uma forma um tanto apressada. Como sou, em relação ao estilo, muito perfeccionista, submeti-o a um estado de maturidade. Em 2016, perdi o rim e o ureter esquerdos para o câncer. Como estivesse à beira de uma depressão, decidi reescrever o livro, para tentar manter distraída a mente. O que foi ótimo, tanto do ponto de vista psíquico, quanto literário. O resultado me agradou muito.
O que o inspirou nos nomes, criação dos principais personagens de “A Canção de Variata?
Helton Timoteo – João Pescador: O nome João tem origem no hebraico Yehokhanan, Iohanan, composto pela união dos elementos Yah, que significa “Javé, Jeová, Deus”, e hannah, que quer dizer “graça”. Significa “Deus é gracioso, agraciado por Deus, a graça e misericórdia de Deus, Deus perdoa”, segundo um dicionário online. Pescador, porque ele pesca não apenas peixes para sobreviver, mas tudo aquilo que é capaz de lhe preencher a alma. Variata já foi explicado acima. Manoel Manco: por ter um defeito em uma perna e em razão do seu mau caráter. Zé do Trabuco: por andar sempre armado e pelas possíveis desgraças que poderiam advir disso. Antônio dos Raios: por ter perdido um filho atingido por um raio, o que o levou à loucura e a correr pela praia, alertando as pessoas contra os raios, mesmo em dias de céu completamente sem nuvens.
Além de “A Canção de Variata” você tem outros livros publicados. Apresente-nos.
Helton Timoteo – Sim. Réquiem para Lavine (2015, Penalux). Coletânea de poemas, escritos durante mais de dez anos. O título é em homenagem a minha cachorra, que morreu em 2014. Há, inclusive, um poema com esse título no livro. E Maçã Atirada sem Força (2017, Penalux). Outra coletânea de poemas, escritos ao longo de vinte e sete anos (de 1985 a 2017). O título desse livro, que é também o título de um poema, é um fragmento de uma frase do A Metamorfose, de Kafka. São poemas em que eu reflito sobre várias questões da existência, como nossa fragilidade, como a fugacidade de tudo, sobre o próprio processo poético, sobre o amor e a morte, entre muitos outros temas ligados à nossa condição existencial. E alguns com certas críticas à sociedade de consumo e à vulgaridade humana.
Onde podemos comprar o seu livro?
Helton Timoteo – Meu livro pode ser adquirido nos seguintes sites:
https://www.editorapenalux.com.br/loja/a-cancao-de-variata
https://www.amazon.com.br/s?k=9786558622369
https://www.submarino.com.br/busca/9786558622369
https://www.americanas.com.br/busca/9786558622369
Para obterem maiores informações sobre o livro, basta acessar os links das lives e da entrevista:
https://youtu.be/LeLY7cruLMA (Live de lançamento – Canal da Editora Penalux).
https://youtu.be/fFdscybTyQY (Live Articulações filosóficas entre o exílio, o trágico e os eventos notáveis – Canal Conversações Filosóficas).
https://fb.watch/cpyQKFDhDi/ (Live no Programa Nossa Pauta da Rádio Mundial News, transmitida para todo o Brasil e para Roma, Itália, em 15/04/2022).
Quais os seus próximos projetos literários?
Helton Timoteo – Estou com um novo livro de poemas, intitulado A Última Flor, pronto para ser publicado. Nele faço uma profunda reflexão sobre a morte e todas as suas implicações. O livro está estruturado em três partes. Na primeira, os poemas foram construídos com um maior rigor formal e uma maior densidade no uso da linguagem. Na segunda, algum rigor formal ainda é mantido, mas o conteúdo temático é versado com mais suavidade e leveza. Já na terceira parte, em que os poemas são bem menores, ocorre um total rompimento com o rigor formal e há uma pluralidade temática bastante vasta, embora dois ou três poemas mantenham a temática da morte, mas de uma forma bastante distanciada da configuração discursiva dos poemas da primeira e segunda partes. Também estou finalizando o livro de contos Interpretação do Vidro.
Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor o escritor Helton Timoteo. Agradecemos sua participação no Sopa Cultural. Que mensagem você deixa para nossos leitores?
Helton Timoteo – Agradeço a entrevista. Gostaria que todos lessem o livro e ajudassem a divulgá-lo. Creio que assistir às lives e ler a entrevista supracitadas, bem como esta entrevista, contribuirá sobremodo para a compreensão mais aprofundada da obra. Mas é claro que cada leitor pode (e deve) colocar em prática seu próprio percurso de leitura. Talvez se possa pensar que eu dê spoiler demais nesses canais. Mas penso também que, numa obra literária, não só o que acontece (seu enredo, seu conteúdo temático) é importante. É igualmente fundamental a forma como a configuração narrativa se estrutura; seu plano global (ou forma composicional); o estilo usado; a força expressiva da linguagem, entre outros aspectos. Do contrário, todos poderiam ser escritores; afinal, todos têm histórias para contar. Não é mesmo? Além disso, cada leitor experencia a leitura de uma forma bem peculiar, bem específica.
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