“Eu fiquei indignada quando notícias, pipocando por aí, mostravam pesquisas científicas sobre estruturas rochosas feitas de plástico na Ilha de Trindade* e minhocas consumindo plástico. Alguns autores contemporâneos discutem como essas transformações na biosfera não são fruto de uma ação humana genérica, mas sim da forma capitalista de ocupar o planeta, essa lógica de consumo e produção. Pensei em transformar essas questões tão importantes para o futuro da humanidade numa dança-instalação, provocativa, sensorial e meditativa, com muitos silêncios. A plateia sai com uma impressão muito forte pois não faço o solo sozinha, o plástico dança comigo num mar de plástico. É inquietante”, explica Marcela.
Inspiração
Marcela iniciou essa pesquisa durante o mestrado em Artes da Cena, que concluirá este ano. Segundo a atriz e bailarina, quando lideranças indígenas e acadêmicos (sejam biólogos, antropólogos, filósofos, etc.) denunciam essas realidades, muitas vezes eles convocam produções artísticas para que tragam essas discussões à tona em todas as suas expressões. “Então pensei em como transformar todo esse arcabouço teórico de autores como – Ailton Krenak, Donna Haraway, Vincianne Despret e Jason Moore – num solo. Encontrei na dança-instalação a forma de mostrar a potência da arte para provocar essa discussão, onde as inquietações ecológicas são as protagonistas”.
Do trabalho de um desses autores surgiu a ideia de batizar o solo de “2415”, pois numa produção futurista discute-se que, em 400 anos, o planeta não será mais o mesmo no qual, a imensa maioria das espécies que se conheciam em 2015, já não existirão.
Monstro do Lago Ness?
Marcela Páez buscou inspiração para desenvolver a criatura protagonista do solo, em seres invertebrados, cheios de tentáculos autônomos. Sai de cena o foco no cérebro e a figura vertebrada da artista mergulha no modo de ser invertebrado. Nasce, então, uma figura que emerge do mar plastificado. Como um Monstro do Lago Ness envolto em quilos e quilos de plásticos guardados durante uma vida. Será que são esses monstros que encontraremos no planeta em 400 anos?
Sobre Marcela Páez –
Redes Sociais – @pereyrapaez
Atriz e Bailarina, atua como educadora ministrando aulas de teatro e de dança. Filha de mãe Argentina e pai Chileno, considera-se uma atriz latino-americana. Teve oportunidade de conhecer países como Chile, Argentina, México e participou de Festivais em New York e Espanha. O solo “2415” teve sua estreia em outubro de 2023, no Teatro do Centro da Terra (SP) e, desde então, tem sido um ponto focal para reflexões sobre o futuro da vida no planeta. Atualmente seu livro de cabeceira é O Cogumelo do Fim do Mundo – sobre as possibilidades de vida nas ruínas do capitalismo, da etnóloga Ana Tsing. Sua filosofia de vida é inspirada na frase: “que nadie escupa sangre para que otro viva mejor”, de Atahualpa Yupanqui.
Ficha Técnica
- Concepção e Performance: Marcela Páez
- Música original: Bruno Torrano
- Iluminação: Nara Zocher
- Produção executiva: Júlia Iwanaga
- Figurino: Ateliê Vivo por Andrea Guerra, Carol Cherubini, Flavia Lobo e Gabriela Cherubini
- Assessoria Cenotécnica: Inflou por Andrea B.
- Narração: Sofia Maruci
- Texto: Marcela Páez, inspirado em “The Camille Stories” de Donna Haraway
- Orientação de pesquisa: Juliana Moraes
- Registros em vídeo: Marcelo Carreño
- Registros fotográficos: Jorge Yuri e Juliana Moraes.
- Duração: 40 minutos
- Classificação indicativa: 10 anos
DANÇA – INSTALAÇÃO “2415”
- ARTISTA – Marcela Páez
- DATAS: de 2 a 4 de abril, terça a quinta, às 20h30.
- LOCAL: Espaço Cênico – Sesc Pompeia
- ENDEREÇO – Rua Clélia, 93, Água Branca.
- INGRESSOS: R$40 (inteira), R$20 (meia-entrada), R$12 (credencial plena)
SESC não possui estacionamento.
Para credenciamento, encaminhe pedidos para imprensa@pompeia܂sescsp܂