Especialistas em educação resgatam, através de textos inéditos, o legado de Azoilda Trindade para a educação brasileira

Caderno reúne publicações que destacam a urgência de celebrar a educadora responsável por pensar a educação como área fundamental de enfrentamento ao racismo

por Redação

No dia 01 de outubro (quarta-feira), a partir das 19h, o Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB), localizado na Gamboa, Rio de Janeiro (RJ), receberá o lançamento do caderno “Afro memória – Especial Azoilda Trindade”. A publicação resgata o legado da educadora com oito textos inéditos. O encontro contará com transmissão ao vivo no YouTube através do link: https://youtube.com/live/GIx5TizkS0o.

Dez anos após a partida de Azoilda Loretto da Trindade (1957-2015), o projeto Afro Memória celebra o seu legado com uma nova publicação dos “Cadernos Afro Memória”, em que oito textos dialogam com o acervo da educadora, disponível desde 2024 no Arquivo Edgard Leuenroth (AEL/Unicamp) para pesquisa. A doação do acervo e o novo volume do Caderno Afro Memória são resultado de uma parceria inédita entre o Afro-Cebrap e o Projeto SETA, uma aliança de organizações da sociedade civil ligadas ao tema da educação.

Azoilda Trindade

Azoilda Trindade

Azoilda Loretto da Trindade foi uma intelectual e educadora feminista e negra que se dedicou a consolidar teorias e práticas para o cotidiano escolar, voltando-se especialmente para a contribuição do ensino na formação de novas gerações antirracistas. Entre suas contribuições, destacam-se a militância pela aprovação da Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da história afro-brasileira nas escolas. A educadora também coordenou o projeto A Cor da Cultura, iniciativa do Canal Futura, da TVE e do UNICEF, na qual apresentou os valores civilizatórios afro-brasileiros. “É especialmente significativo ter um acervo do Afro Memória, que carrega a educação como um dos seus pilares de existência, dedicado a uma educadora que trabalhou incansavelmente por um ensino mais antirracista nas escolas”, destaca Paulo Ramos, Coordenador do Afro-Cebrap.

O apoio do Projeto SETA, cujo objetivo é transformar a rede pública escolar brasileira em um ecossistema de qualidade social antirracista, à edição, reflete os vínculos afetivos e intelectuais que a equipe do SETA mantém com o legado da educadora. Essa relação foi inicialmente construída a partir da participação no projeto A Cor da Cultura, do Canal Futura, iniciativa voltada à valorização do patrimônio histórico e cultural afro-brasileiro e indígena, por meio da promoção da educação das relações étnico-raciais (ERER).

“A atuação e o pensamento de Azoilda Trindade seguem como referência central também no Projeto SETA para o desenvolvimento de práticas e metodologias educacionais comprometidas com a equidade racial, e isso aparece nos artigos escritos pelas integrantes da equipe no exemplar. Reconhecemos que não é possível avançar na construção de um ecossistema escolar verdadeiramente antirracista e na efetiva implementação das Leis 10.639 de 2003 e 11.645 de 2008 sem considerar sua contribuição fundamental”, afirma Ana Paula Brandão, Gestora do Projeto SETA e Diretora Programática da ActionAid.

Acervos negros como patrimônio coletivo

Ao longo dos últimos anos, o Afro Memória tem se consolidado como uma das principais iniciativas de preservação e difusão de acervos negros no Brasil. A cada volume, o projeto amplia a circulação de memórias, linguagens e trajetórias que marcam a experiência negra no país, conectando especialistas, pesquisadores e o público em geral. A nova edição dedicada à Azoilda Loretto da Trindade se soma a esse esforço, reafirmando a importância de dar visibilidade a intelectuais cujas contribuições seguem fundamentais para pensar o presente.

Os oito textos reunidos no Caderno percorrem diferentes dimensões da trajetória da educadora: sua atuação na defesa da Lei 10.639/03, os caminhos para a implementação de uma educação antirracista, a valorização dos valores civilizatórios afro-brasileiros, bem como a força de projetos culturais como A Cor da Cultura. Cada artigo mostra, a partir de perspectivas próprias, como Azoilda soube articular militância política, produção acadêmica e inovação pedagógica, deixando um repertório capaz de inspirar práticas de ensino mais inclusivas e transformadoras.

Mais do que um tributo, a publicação atualiza a contribuição de Azoilda ao mostrar como suas propostas seguem fundamentais para repensar a escola brasileira. Seus escritos e práticas pedagógicas oferecem repertórios que vão além do combate ao racismo, inspirando novas formas de ensinar, aprender e conviver em espaços educativos mais criativos, democráticos e comprometidos com a formação cidadã.

“Dez anos após a partida de Azoilda, ainda sentimos falta de um reconhecimento maior dela e das pedagogias que são inovadoras não só para a luta política contra o racismo, mas para toda a educação, enquanto instrumentos de uma sala de aula mais acolhedora, inclusiva e democrática”, completa Paulo Ramos.

Projeto SETA

O Projeto SETA é uma aliança entre movimentos sociais e organizações negras, quilombolas, indígenas e feministas ligadas ao tema da educação. Compõem a iniciativa a ActionAid, Ação Educativa, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, CONAQ, Geledés, Makira-E’ta e UNEafro Brasil, organizações reconhecidas e comprometidas na atuação no campo da educação antirracista. A atuação do Projeto SETA consiste no trabalho participativo por meio da realização de pesquisas, incidência política, formações e campanhas de mobilização em prol da equidade racial na educação. A visão coletiva do SETA é um sistema de educação público brasileiro construído com base nos princípios de justiça social e racial e que garantam a todas as pessoas o direito a uma educação contextualizada e de qualidade.

Projeto Afro Memória 

O projeto Caderno Afro Memória resulta de um esforço coletivo que envolve o Afro-Cebrap, a linha de pesquisa “Hip hop em trânsito” do Centro de Estudos de Migrações Internacionais da Unicamp, o Programa para Populações Marginalizadas da Universidade da Pensilvânia e o Arquivo Edgard Leuenroth, onde os acervos são preservados e disponibilizados para pesquisa. A iniciativa também conta com o apoio da Porticus Foundation, Instituto Ibirapitanga, Fundação Tide Setubal, FAPESP, Open Society, UCLA Archives in Danger e Universidade da Pensilvânia.

Afro-Cebrap

O Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial, ou Afro-Cebrap, é um núcleo de pesquisa, formação e difusão sobre a temática racial que busca contribuir para o fortalecimento das pesquisas acadêmicas sobre desigualdades, relações raciais e interseccionalidade. O núcleo tem como prioridades a produção de pesquisa com alto rigor metodológico, a formação de novos pesquisadores e a divulgação científica. São desenvolvidas pesquisas de caráter multidisciplinar visando a produção e a análise de dados de natureza quantitativa e qualitativa.

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