Estreia de As Bruxas de Salém no Teatro Casa Grande reúne elenco estelar e provoca reflexão sobre o Brasil de hoje

por Waleria de Carvalho
As Bruxas de Salém

Com direção de Renato Carrera, “As Bruxas de Salém” estreia no dia 4 de setembro de 2025, no Teatro Casa Grande, no Leblon, Rio de Janeiro, com elenco composto por 15 atores e atrizes, entre eles Carmo Dalla Vecchia e Vannessa Gerbelli. A obra do americano Arthur Miller não é apenas um relato histórico, mas também uma crítica social e política que ressoa com a experiência humana contemporânea, questiona a natureza da verdade, a importância da integridade individual, os perigos da intolerância e da manipulação.

 Em 1692, na vila de Salém, em Massachusetts, parte da região conhecida na época como Nova Inglaterra, no nordeste do Estados Unidos, o fazendeiro John Proctor (Marcel Giubilei) rompe com sua jovem amante Abigail Williams (Elisa Pinheiro), sobrinha do reverendo Páris (Carmo Dalla Vecchia), que passa a agir com objetivo oculto de eliminar rivais e proteger segredos pessoais. Após Abigail ser flagrada liderando um grupo de jovens mulheres que dançavam feito pagãs, acusadas de conjurar espíritos na floresta, são levadas a julgamento e diante da Corte Suprema (Vannessa Gerbelli), para escaparem de serem mortas, alegam estar possuídas pelo diabo. O que dá início a uma onda de acusações infundadas e histeria coletiva, que leva à condenação de várias pessoas por bruxaria, inclusive Elizabeth Proctor (Patrícia Pinho).

“Na nossa montagem o público faz parte da assembleia desse julgamento”, comenta Renato Carrera.

Arthur Miller parte desse mote para construir uma obra de estrutura dramática trágica. Dividida em quatro atos, a peça reflete a religiosidade puritana da época, com crescente tensão opressiva e emocionalmente carregada. Desta forma o autor levou para a sua contemporaneidade questões atemporais com personagens complexos e temas universais, que continuam, no tempo atual, a provocar reflexões profundas sobre liberdade, verdade e responsabilidade moral, como símbolo da resistência à intolerância e à manipulação ideológica. 

Escrita em 1953, durante a perseguição anticomunista nos Estados Unidos, a peça retrata os julgamentos por bruxaria na Salém do século XVII, mas sua mensagem permanece atual – em contexto mundial. 

A fala da juíza Danforth “Ou estás com esta corte, ou estás contra ela”, expressa a lógica binária que domina o debate público e se sustenta até a atualidade. Representa a cegueira ideológica e o autoritarismo disfarçado de justiça. Esse trecho não fala apenas do século XVII, fala de qualquer época em que a verdade é distorcida por medo, ideologia, religiosidade ou poder. Até que ponto estamos repetindo, com novas ferramentas, as mesmas injustiças do passado?

Hoje, em um mundo marcado por tensões políticas, sociais e digitais, “As Bruxas de Salém” mostra como o medo e a histeria coletiva podem ser usados para justificar perseguições, silenciar vozes dissidentes e destruir reputações. É, assim, uma crítica atemporal aos mecanismos de repressão social e política, por mostrar como sociedades podem se voltar contra seus próprios cidadãos em momentos de crise. A peça é também uma reflexão sobre a coragem individual diante da opressão.

 O elenco é composto por: Carmo Dalla Vecchia (Reverendo Páris), Vannessa Gerbelli (Juíza Danforth), Elisa Pinheiro (Abigail Williams), Patrícia Pinho (Elizabeth Proctor), Marcel Giubilei (John Proctor), Isabel Pacheco (Sra. Ana Putnam), José Karini (Reverendo Hale), Fernanda Sal (Mary Warren), Daniel Braga (Ezekiel Cheever, Hathorne e Hopkins), Bela Carias (Betty Páris), Clarisse Deussane (Mercy Lewis), Flávia Freitas (Tituba), Izabella Almeida (Susana Walcott), Lindomar Francisco (Guiles Corey) e Maria Adélia (Rebecca Nurse).

 “Eles estão no subterrâneo da alma, nesses lugares desconhecidos onde o ser humano esconde mentiras e falsas verdades, manipulações, “bruxarias” do que deseja, pulsões sexuais ou religiosas”, comenta Renato Carrera. “Trazemos essa história, esses personagens, para os dias de hoje quando retiramos a carga de época da peça, com um figurino e um ambiente mais contemporâneo”, revela o diretor.

A encenação terá projeções de imagens filmadas em tempo real, durante as apresentações, música tocada ao vivo por Gustavo Benjão, que assina a trilha sonora, e os personagens estarão em um cenário de ambiente subterrâneo, preservando a tensão em tempo integral.

“Revisitarmos o Bruxas nos dias de hoje comunica diretamente com a nossa sociedade e a contemporaneidade do que está havendo no mundo. Existe ainda uma caça às bruxas no racismo, na lgbtfobia, na misoginia… É muito poderoso acessarmos uma história de séculos atrás, e ver que talvez nossa sociedade não tenha avançado tanto assim. Já que nossa máquina política ainda é movimentada e alimentada por notícias falsas, pelo negacionismo, uma adoração a um deus que não aceita as diferenças e nem olha ao próximo, além de incitação proposital ao medo e da histeria coletiva”, declara Marcel Giubilei.

Ficha técnica

  • De Arthur Miller
  • Tradução: José Rubens Siqueira
  • Dramaturgismo: Patrícia Pinho
  • Direção: Renato Carrera
  • Direção de Produção: Bruno Mariozz

Elenco: Carmo Dalla Vecchia (Reverendo Páris), Vannessa Gerbelli (Juíza Danforth), Elisa Pinheiro (Abigail Williams), Patrícia Pinho (Elizabeth Proctor), Marcel Giubilei (John Proctor), Isabel Pacheco (Sra. Ana Putnam), José Karini (Reverendo Hale), Fernanda Sal (Mary Warren), Daniel Braga (Ezekiel Cheever, Hathorne e Hopkins), Bela Carias (Betty Páris), Clarisse Deussane (Mercy Lewis), Flávia Freitas (Tituba), Izabella Almeida (Susana Walcott), Lindomar Francisco (Guiles Corey) e Maria Adélia (Rebecca Nurse).

  • Cenário: Daniel de Jesus
  • Iluminação: Dani Sanchez
  • Figurino: Dani Ornellas e Biza Vianna
  • Trilha Sonora: Gustavo Benjão
  • Sonorização: Thiago Pinto
  • Preparação Vocal: Carol Futuro
  • Direção de Movimento: Maria Alice Poppe
  • Direção de Imagem e Videomapping: Carolina Godinho
  • Operação de Câmera: Hugo Souza
  • Assistente de Direção: Gabriel Flores
  • Assessoria de Imprensa: Ney Motta
  • Programação Visual e Vídeo Teaser: Daniel de Jesus
  • Fotos de Divulgação: Naná Moraes
  • Gestão de Redes Sociais: Lead Comunicação
  • Produção Executiva: Natasha Arsenio
  • Assistente de Produção: Marilene Ribeiro
  • Assistente de Comunicação: Rafael Prevot
  • Assistente Financeiro: Ingryd Cardozo
  • Assistente de Coordenação Geral: Lisandra Alves
  • Coordenação Geral: Marcel Giubilei
  • Idealização: Marcel Giubilei e Renato Carrera

Serviço

As Bruxas de Salém

  • Temporada: de 4 de setembro até 05 de outubro de 2025
  • Quinta à sábado às 20h e domingo às 18h
  • Local: Teatro Casa Grande
  • Av. Afrânio de Melo Franco, 290, Loja A, Leblon, Rio de Janeiro
  • Duração: 150 minutos
  • Classificação: 14 anos

Ingressos: à venda na bilheteria do teatro ou antecipadamente pelo Eventim:

https://www.eventim.com.br/artist/teatro-casa-grande/bruxas-de-salem-3934963

Elisa Lucinda estreia o inédito O Princípio do Mundo

O Princípio do Mundo

O Princípio do Mundo – Foto: Vantoen Pereira JR

Partindo do pressuposto de que a primeira criatura humana foi feita por uma mulher, a Mãe do Mundo, o espetáculo inédito “O princípio do mundo” estreia dia 04 de setembro, às 19h, no Teatro Correios Léa Garcia, no Centro. Capitaneada por Elisa Lucinda, que assina a dramaturgia com Geovana Pires – a dupla que forma a Companhia da Outra – a peça marca ainda a estreia profissional do jovem ator Gabriel Demarchi. Com uma estrutura totalmente poética, a montagem parte de um recorte da obra de Elisa “Aviso da Lua que menstrua”, realizando um desdobramento sobre o fundamento do matriarcado e a orfandade do mundo dos ensinamentos dos povos originários, reiterando um movimento que convoca o público a se engajar numa cultura antibélica, em favor da paz.

“Estamos propondo uma ocupação menos predatória e menos violenta do mundo. É inadmissível que ainda hoje o masculino represente uma ameaça à vida de uma mulher, então desfilamos tais assuntos para fazer refletir, mas utilizando graça, beleza e humor nas palavras. Já estamos vivendo num mundo muito árido, que está carecendo de mais doçura. Na peça, a personagem ancestral, ao lado de seu jovem aprendiz, se embrenha numa saga de cenas que discorrem sobre o perigo do destino humano quando longe dos fundamentos matriarcais. Neste momento em que estamos, onde as pessoas não sabem como lidar com as crianças e os adolescentes, e muitos jovens estão órfãos de natureza e contatos presenciais, apresentamos um mosaico de ideias para a construção de uma cultura de paz”, adianta Elisa Lucinda.

Deste modo, o 7º espetáculo da companhia segue na contramão do que pensa o mundo ocidental e se conecta às sociedades africanas – como o ditado que diz que quando um ancião morre, morre uma biblioteca. Não à toa, esses povos têm como prática ritualística de convívio diário encontros onde os ensinamentos são passados através de histórias, fábulas, representações cênicas, cantos e outros fundamentos para os mais novos. De maneira que a juventude consiga, ao conhecer a sua história, assentar o presente neste passado. E quanto mais fortalecida se torna essa raiz, mais o futuro floresce.

“Para viver a Mãe do Mundo tivemos que atravessar essa ancestralidade, mergulhar num começo anterior à narrativa oficial que conhecemos. Se pensarmos bem, essa narrativa oficial da história do mundo, que entendemos como universal, inviabiliza os saberes antigos. Isso levou muitas gerações ao equívoco de verem a África, por exemplo, como uma aldeia, e não um continente com 54 países, cuja contribuição cultural é muito importante para o realinhamento saudável deste mesmo mundo. Eu me sinto em estado de gratidão com os meus fundamentos ao viver essa mãe”, vibra Elisa com a nova personagem.

Algo nem sempre comum, a dramaturgia foi sendo construída à medida em que os ensaios foram acontecendo, o que mudou bastante a concepção do espetáculo. “É uma diferença enorme, enquanto estou fazendo a dramaturgia eu já estou dirigindo, direcionando para as cenas que considero potencialmente teatrais. Essa construção deixa tudo vivo, menos engessado. É uma entrega absoluta, é como se fôssemos guiadas por esse deus do teatro que vai dizer como espiritualmente o espetáculo deve existir. E abrimos o nosso canal criativo para criarmos uma conexão com esse divino que é o teatro”, acredita Geovana Pires.

Entusiasta do que chama de “risco da criação”, Elisa pondera sobre o arcabouço poético do texto cênico, o seu primeiro todo escrito com rimas. “É a primeira vez e é de propósito. Queremos que o texto seja uma estrela. Acredito na palavra como ouro, assim vejo a força da cultura oral. Nossa companhia nunca construiu um texto totalmente poético, principalmente nos diálogos. Por outro lado, somos especialistas, e digo sem medo, em encenar poesia. Embora seja mais assinado por mim, o texto tem versos inteiros de Geovana e, inclusive, um poema do próprio Gabriel. Geovana é uma dramaturga muito experiente, e é muito confortável você estar ao lado de uma dramaturga que também é diretora, porque ela já pensa em cena”, observa a multiartista.

Estreando no teatro profissional tão bem acompanhado, Gabriel Demarchi já entra no palco revelando a potencialidade de seus múltiplos talentos. Além de dividir a cena com Elisa Lucinda, é do jovem de 14 anos a missão de embalar trechos da peça ao som do kamale ngoni, instrumento também conhecido como harpa africana. “Aprendi a tocar em cerca de duas semanas. Foi um desafio rápido, mas muito gostoso, porque o som tem tudo a ver com o clima da peça e me conectou ainda mais com a história. Estrear tão jovem, e já podendo mostrar meu trabalho como ator e também meu lado musical, ainda mais ao lado de pessoas que admiro tanto, está sendo uma experiência incrível”, comemora Gabriel.

Considerando tanto o poder da palavra em si, quanto o encantamento que ela produz, com esta montagem a Companhia da Outra realiza um elogio à velhice, por entender que temos muito a aprender com a ancestralidade. “Convidamos o público a confiar no tesouro que o ser humano é, com seus recursos e saberes antigos que moram em nossa memória e precisam ser resgatados. Nas sociedades indígenas e africanas o velho é considerado um sábio. Em sua volta, toda aldeia se reúne para desfrutar de seu saber e o melhor, o jovem gosta do abrigo dessa sabedoria. Estamos convictos de que a natureza é uma escola que não fecha”, finaliza Elisa Lucinda.

COMPANHIA DA OUTRA

A Companhia da Outra foi criada em 2007 pelas atrizes e dramaturgas Elisa Lucinda e Geovana Pires e desenvolve um pensamento cênico fruto da larga experiência que esta companhia teatral tem de explorar a força dramatúrgica das obras poéticas. Sua investigação caminha por uma linguagem baseada na premissa de que do conteúdo é que brotam as formas e as escolhas estéticas. A Companhia assina os espetáculos “Parem de Falar Mal da Rotina”, “A fúria da Beleza”, “A Natureza do Olhar”, “A Paixão Segundo Adélia Prado”, “Perigosas Damas”, sem contar os shows musicais e poéticos por todo o Brasil e fora dele.

 A PARAGOGÍ

A Paragogí Cultural é uma produtora que compreende a cultura como uma potente ferramenta de transformação social, inclusão e fortalecimento da diversidade racial, de gênero, religiosa e cultural. Nosso propósito é claro: criar experiências que representem, respeitem e potencializem diferentes corpos, vozes e histórias. Trabalhamos para que a cultura seja um espaço de empatia, equidade e escuta ativa. Acreditamos que a transformação acontece quando todas as pessoas se veem, se reconhecem e se sentem parte do processo. Com uma atuação comprometida com a justiça social, buscamos construir pontes entre comunidades, instituições e territórios, promovendo encontros que gerem pertencimento e novas possibilidades.

FICHA TÉCNICA

“O Princípio do Mundo”

  • Um espetáculo da ‘Companhia da Outra’
  • Texto e Dramaturgia: Elisa Lucinda e Geovana Pires
  • Elenco: Elisa Lucinda e Gabriel Demarchi
  • Direção: Geovana Pires
  • Assistente de direção: Nando Rodrigues
  • Direção de produção: Rafael Lydio (Paragogí Cultural)
  • Direção de movimento: Elton Sacramento
  • Direção de arte (cenário e figurino): Arieli Marcondes
  • Direção musical: Glaucus Linx
  • Desenho de luz: Djalma Amaral
  • Preparação musical: Beà Ayòóla
  • Preparação vocal: Pedro Lima
  • Assistente de figurino: Luan Mateus
  • Assistente de arte/figurino: Jessica Araújo
  • Coordenação de comunicação: Daniel Barboza (Incerta)
  • Projeto gráfico: Allan Brandão
  • Fotografia: Vantoen Pereira Jr.
  • Assistentes de fotografia: Iury Senck e Xayoncé Queen
  • Cinematografia: Chamon Audiovisual
  • Mídias sociais: Fabiana Bugard
  • Assistência de mídias sociais e produção de conteúdo: Diogo Nunes
  • Auxiliar de comunicação: Nathan Ferraz
  • Assessoria de imprensa: Marrom Glacê Comunicação
  • Produção executiva: Christina Carvalho
  • Assistente de produção: Eduardo Brandão
  • Coordenadora institucional: Taís Espírito Santo
  • Gestão financeira e Prestação de contas: Carol Villas Boas (Clareira)
  • Idealização: Instituto Casa Poema
  • Realização: Companhia da Outra
  • Produção: Paragogí Cultural
  • Apoio: Teatro Correios Léa Garcia e Centro Cultural Correios
  • Patrocínio: Prefeitura do Rio – Secretaria Municipal de Cultura

SERVIÇO

  • Temporada: 04 a 27 de setembro de 2025
  • Horário: Quinta-feira a sábado às 19h
  • Ingressos: R$ 20 (meia-entrada) / R$ 40 (inteira)
  • Link de Vendashttps://bit.ly/INGRESSOS_OPRINCIODOMUNDO
  • Local: Teatro Correios Léa Garcia
  • Endereço: Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro – Rio de Janeiro – RJ
  • Classificação Indicativa: 12 anos
  • Duração: 90 minutos
  • Instagram: @oprincipiodomundo

Espetáculo infantojuvenil A Intrépida Revoada de Maçarica & Batuíra estreia em Copacabana

A Intrépida Revoada de Maçarica & Batuíra

A Intrépida Revoada de Maçarica & Batuíra – Foto: Lucas Cesar

O rito de passagem da infância para a idade adulta, com angústias e dúvidas que oscilam entre as obrigações e as vontades individuais, é o tema que impulsionou a criação do espetáculo infantojuvenil “A Intrépida Revoada de Maçarica & Batuíra”, que ficará em cartaz de 6 a 28 de setembro, no Teatro Gláucio Gill, em Copacabana. A peça, que tem por base conteúdos da revista Ciência Hoje das Crianças (CHC), é dirigida por Fernanda Avellar, escrita por Maria Joana de Avellar e tem o propósito de unir teatro e divulgação da ciência. Selecionada pelo edital Fluxos Fluminenses, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa (SECEC) do Rio de Janeiro, através da Política Nacional Aldir Blanc, a montagem ficará em cartaz sempre aos sábados e domingos, às 16 horas.

Direcionada a crianças e pré-adolescentes (faixa pouco atendida pelos espetáculos teatrais), a “A Intrépida Revoada de Maçarica & Batuíra” se vale do período de reprodução do caranguejo – a andada – e a revoada das aves migratórias para colocar em cena o amadurecimento dos jovens e seus questionamentos diante da chegada da idade adulta. E tudo acontece durante o carnaval de Pernambuco.

“Maçarica e Batuíra são duas aves adolescentes e, como é característico da fase, estão vivendo um momento de mudanças rápidas e profundas, de descobertas. Querem viver intensamente, eternizar momentos e pensam que as escolhas são para sempre. Quando as duas chegam no carnaval de Pernambuco, num manguezal, e fazem novos amigos, têm uma experiência transformadora, que traz questionamentos e amadurecimento”, conta a diretora Fernanda Avellar.

A proposta do projeto é, a partir de artigos da revista CHC, elaborar textos teatrais inéditos para a criação de espetáculos teatrais, nos quais temas sobre cultura brasileira, ciência e meio ambiente, sejam apresentados de forma lúdica a crianças e adolescentes. A criação do texto é acompanhada e validada pelos editores científicos e especialistas convidados pela revista e todo processo cênico é construído de forma colaborativa entre os artistas e as equipes de cientistas e jornalistas. “A Intrépida Revoada de Maçarica & Batuíra” é o segundo espetáculo do projeto, iniciado em 2023, e que já soma quatro espetáculos em seu repertório.

“O teatro é uma forma especial de acessar públicos para a ciência, tanto no que tange à diversidade de pessoas quanto a conexões emocionais que ele proporciona. Fazer teatro e divulgação científica é fazer teatro buscando qualidade. É unir informação com a ludicidade da arte, divertir e propor aos jovens novos olhares para as relações entre homem e natureza”, observa a diretora Fernanda Avellar.

A peça fala também de sonhos: “Um sonho dentro de um sonho”, como na música da banda Nação Zumbi, parte da trilha sonora. A inspiração para o personagem do caranguejo-uçá é o fundamental e saudoso músico Chico Science. O movimento manguebeat e o maracatu fazem parte da construção cênica, executada ao vivo pelo elenco. A dramaturgia buscou focar no companheirismo entre as espécies, com a nuance do aparecimento do primeiro amor.

No elenco, a atriz intérprete de LIBRAS Diana Dantas vive Fulozinha, ser mítico protetor das matas, e faz a tradução da peça para a Língua Brasileira de Sinais, garantindo que a acessibilidade para surdos ou pessoas com deficiência auditiva aconteça de forma inovadora. Esta é uma característica das montagens teatrais da companhia, que em seu primeiro espetáculo foi indicada ao prêmio do CBTIJ (Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude) pela absorção da LIBRAS na dramaturgia e na cena. O desejo é divulgar a acessibilidade como parte natural de um projeto e como recurso artístico.

A peça já passou por cinco cidades: teve sua pré-estreia em 2024 no evento Museu Nacional Vive, no Rio de Janeiro, seguida por 19 apresentações na 27ª Bienal do Livro de SP, no estande da Secretaria Municipal de Educação (SME). No mesmo ano, foi a atração final da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) e participou da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, no estande do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em Brasília. Em julho de 2025 participou da 77º reunião da SBPC, em Recife. Nestas 27 apresentações, estimamos ter recebido mais de 2.800 pessoas, sempre com excelente retorno do público.

“A intrépida revoada de Maçarica & Batuíra” fará também duas apresentações em escolas públicas: no dia 23 de setembro, às 9h, no CIEP Constantino Reis, em Belford Roxo, quando terá também audiodescrição para garantir o acesso aos alunos cegos, e, no dia 24 de setembro, na Escola Municipal Abílio Ribeiro, às 15h, em Nova Iguaçu.

A peça é apresentada pelo Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, através da Política Nacional Aldir Blanc.

Sinopse:

As amigas Maçarica e Batuíra, duas aves migratórias, reencontram-se no Carnaval, em Pernambuco, para a invernada, período em que se fortalecem antes do voo de volta para casa, no hemisfério norte. No verão em que se conheceram, eram duas avezinhas mal saídas do ovo, brincando na Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul. A poluição e os obstáculos colocados pela intervenção humana em rotas migratórias estratégicas, entretanto, fizeram com que a dupla passasse anos sem se ver. Agora, já adolescentes, conhecem um novo local, um manguezal, onde viverão uma inesquecível aventura com seus novos amigos, o Caranguejo-Uçá e a Fulozinha, ser mítico protetor das matas, muito conhecido na cultura popular pernambucana. A especulação imobiliária na região e o encanto desse encontro – tanto o do mar com o rio, característico do manguezal, quanto o da amizade entre um caranguejo, uma ser mítico e duas aves – fazem com que a despedida se torne ainda mais difícil.

Ficha Técnica: 

  • Direção: Fernanda Avellar
  • Dramaturgia: Maria Joana de Avellar
  • Artistas criadores: Carol Passarinha, Diana Dantas (atriz intérprete de LIBRAS) Francisco Cortez e Thaís Nascimento
  • Direção de produção: Fernanda Avellar e Marina Gadelha
  • Direção de arte e cenografia: Marieta Spada
  • Desenho de luz: Aurélio de Simoni
  • Figurinos: Dani Lima
  • Direção musical e preparação vocal: Ricardo Góes
  • Músicas originais: Maria Joana de Avellar, Ricardo Góes e Juan Marques
  • Direção de movimento: Juliana Medella
  • Assistente de direção musical: Juan Marques
  • Assessoria para LIBRAS: Isabelle Maia
  • Técnica de som e microfones: Joana Guimarães
  • Preparação alfaia: Milena Sá
  • Confecção de cenografia: André Salles
  • Adereços: Priscila Pires
  • Ilustração Sankofa: Ana Matsuzaki
  • Arte gráfica: Instituto Ciência Hoje
  • Costureiras: Gi Brandão e Nice Tramontin
  • Revisão científica: João Marcos Capurucho
  • Assessoria de imprensa: Rachel Almeida – Racca Comunicação

Realização: Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, Instituto Ciência Hoje e Trestada Produções

Texto original a partir do conteúdo da Revista Ciência Hoje das Crianças

Serviço:

  • Teatro Glaucio Gill: Praça Cardeal Arcoverde, s/nº – Copacabana, Rio de Janeiro – RJ, 22040-030.
  • Temporada: 06 a 28 de setembro
  • Dias e horários: sempre aos sábados e domingos, às 16h
  • Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada).
  • Duração: 50 minutos
  • Classificação: livre
  • Horário de funcionamento da bilheteria: de segunda a domingo, das 16h às 22h.
  • Ticketeria: Eleventickets
  • Lotação: 150 lugares
  • Como chegar: metrô Cardeal Arcoverde

Encenado na capela de um cemitério em São Paulo, Queda de Baleia ou Canto para Dançar com Minha Morte estreia no dia 12 de setembro

Queda de Baleia

Queda de Baleia – Foto: Danilo Apoena

A atriz, dramaturga e diretora Bruna Longo parte de sua experiência íntima com o falecimento de seu pai para propor uma reflexão sobre o tabu da morte no solo Queda de Baleia ou Canto para Dançar com a Minha Morte.  O espetáculo, que tem co-direção de Vitor Julian, tem sua temporada de estreia na capela do Cemitério do Redentor, no Sumaré, de 12 de setembro a 26 de outubro, com apresentações de sexta a domingo, sempre às 19h.

E, para discutir esse tema tão humano e tão inescapável, a atriz imagina a própria morte. Na trama, ela acaba de morrer e procura elaborar o luto de si mesma, enquanto propõe uma reflexão sobre a relação humana com a finitude, o processo de eliminação do rito fúnebre nas sociedades capitalistas ocidentais, o medo, o silêncio e a negação da morte.

A dramaturgia por Bruna Longo

“Dia 26 de julho de 2022, às 01h52 da manhã, meu pai morreu. Ao meio-dia seguinte iniciou-se o velório. Às 16h  seu corpo foi colocado dentro do jazigo da família no cemitério do Araçá, em São Paulo, capital. 

O que se seguiu foram dias de burocracias em bancos, cartórios, seguros. Dias que viraram semanas, meses. Nenhum convite a qualquer rito de passagem de uma realidade a outra. De filha a órfã. Todos os paradigmas mudaram subitamente. Nenhum tempo ou espaço para a elaboração. Nada. Não venho de uma família com crenças religiosas. Sou ateia, materialista. Não via, de imediato, nenhum caminho satisfatório para a elaboração da maior dor que já senti na vida. 

Dois dias depois da morte do meu pai, passei a usar o barro desse luto como material para meu trabalho. Iniciei o único caminho que a mim parecia possível para essa elaboração. Meu templo é o teatro, minha liturgia é a pesquisa artística, minha reza é a dramaturgia. E esse é o germe deste espetáculo. 

A morte é, para nós ocidentais, talvez o último intransponível tabu. Não falamos sobre ela. Não sabemos lidar com ela. No entanto, ela é também a única certeza inexorável. Num período histórico em que guerras, tragédias coletivas, violência, epidemias e pandemias são noticiadas em tempo real como nunca fora possível, e que a indústria cultural capitaliza em cima desses temas com espetacularização, a morte cotidiana se transformou em um assunto velado. 

O processo de morte foi higienizado, burocratizado. O avanço da ciência e da medicina prolongou nossas vidas, mas também mudou a forma como morremos. Não se morre mais em casa, mas em hospitais – lugares onde busca-se vencer a morte, muitas vezes prolongando o inevitável. Ritos fúnebres são cada vez mais rápidos, padronizados e industrializados – com o boom de cremações comerciais. 

A hipervalorização da juventude não quer nos deixar lembrar que morremos. Nós, homo sapiens sapiens. Sempre esquecemos o último sapiens do nosso gênero. Somos humanos que não só sabemos, mas sabemos que sabemos. Para muitos historiadores e antropólogos, o nascimento da cultura humana como a entendemos está ligado ao luto. 

A morte inspirou os primeiros ritos humanos, os primeiros hieróglifos, as primeiras histórias contadas em volta da fogueira. O nascimento da filosofia, da religião, da arte. Elaborar o luto inaugura quem somos, e, ao renunciarmos a isso, renunciamos a uma angústia metafísica essencial. Não falar da morte não a afasta, apenas a torna mais temerosa.”

Ficha Técnica

  • Direção, elenco, dramaturgia, cenografia, figurinos: Bruna Longo
  • Co-Direção e provocações dramatúrgicas: Vitor Julian
  • Provocações estéticas (figurinos e cenografia): Kleber Montanheiro
  • Visagismo: Fabia Mirassos
  • Sapatos: Marcos Valadão
  • Desenho de Luz: Gabriele Souza
  • Esqueleto de baleia: Paul Zanon
  • Cenotécnica: Evas Carreteiro
  • Provocações de movimento: Paula D’Ajello
  • Provocações de Kung Fu: Daniel Fusco
  • Preparação vocal: Jessé Scarpellini 
  • Trilha sonora incidental: L.P. Daniel
  • Direção de Produção: Paula Malfatti  
  • Ilustrações: Victor Grizzo
  • Fotos: Danilo Apoena

Serviço

Queda de Baleia ou Canto para Dançar com Minha Morte

  • Temporada: 12 de setembro a 26 de outubro de 2025
  • De sexta a domingo, sempre às 19h
  • Capela do Cemitério do Redentor – Av. Dr. Arnaldo, 1105 – Sumaré, São Paulo – SP, 01255-000
  • Ingressos: R$60 (inteira) e R$30 (meia-entrada)
  • Vendas online em Sympla 
  • Duração: 80 minutos
  • Classificação: 12 anos
  • Lotação: 20 lugares

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