A Praça Padre Burnier, em Paciência, Zona Oeste do Rio de Janeiro, se transforma, mês após mês, em palco de batalha, poesia, rima, escuta e potência. É ali que acontece a Roda Cultural Favela Tem Voz, iniciativa do Coletivo Favela Tem Voz, que desde 2017 vem promovendo arte, formação e visibilidade para as vozes negras, periféricas e independentes do extremo oeste da cidade.
Idealizado e dirigido por Natitude — nome artístico da multiartista e produtora cultural Natthalia Campos — o projeto nasceu como resposta à ausência de espaços culturais acessíveis na região e, desde então, tem consolidado uma atuação afetiva e criativa. Em 2025, o coletivo produz uma temporada especial com seis edições temáticas, em andamento até novembro, realizado pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro por meio da Política Nacional Aldir Blanc e do edital Território em Foco.
As edições têm temas que homenageiam pessoas, símbolos, territórios e afetos da favela. Já passaram pela temporada a Edição Terezinha e o Arraiá do Jhammal. A cada encontro, o público acompanha batalhas de poesia falada (slam), batalhas de rima com seletivas para os estaduais, pocket shows ao vivo com artistas da Zona Oeste e intervenções que misturam cultura, ancestralidade, educação e arte popular.
“É mais do que um evento, é um movimento de pertencimento e escuta. A gente constrói esse projeto como quem levanta uma casa: todo mundo ajudando, todo mundo sendo visto. Aqui a arte cura, forma e transforma vidas de verdade”, afirma Natitude.
Desde sua criação, o projeto já revelou e valorizou dezenas de artistas do território, promovendo visibilidade, trabalho e autoestima. Por meio de convocatória aberta, o coletivo selecionou artistas como MC Leandrynho, Isa Leall, MTORROR, José Jackson Down e o grupo de dança Não Pare de Dançar Crew, entre muitos outros. Além disso, já passaram pelos microfones do evento nomes da cena independente e militante, fortalecendo redes entre poetas, MCs e produtores de cultura da cidade.
Com um trabalho realizado de forma colaborativa, a equipe do coletivo conta também com OCotta, Jump Freestyle, Larissa Gauna, Laura Ramos, e Wellington Paulino. Juntos, eles se dividem entre produção, curadoria, comunicação, performance e formação crítica.
Em 2024, o Favela Tem Voz foi certificado como Ponto de Cultura pelo Ministério da Cultura. Ao longo dos anos, acumulou participações em eventos como a Expo Favela (RJ), ações poéticas no Instituto Moreira Salles, atividades em escolas públicas e intervenções artísticas em diferentes territórios. Também foi homenageado com moção da Câmara Municipal do Rio de Janeiro e esteve entre as 50 Rodas Culturais de Hip Hop premiadas pela FUNARJ.
“Esse é um projeto que muda a perspectiva de muitos artistas que, assim como eu, são da extrema oeste e não tinham onde mostrar seu trabalho. A gente batalha, literalmente, para manter esse espaço vivo e acessível. É sobre viver com arte, e não apenas sobreviver”, reforça Natitude.
As edições contam com estrutura técnica, intérprete de Libras, cobertura audiovisual com celular e cachê para artistas e equipe. Mais informações podem ser acessadas no perfil oficial @coletivofavelatemvoz.
