Após três edições do Festival Margem Visual, enaltecendo a arte performática produzida nas periferias através do Mó Coletivo, numa ação de descentralização da cena artística do estado do Rio de Janeiro, o projeto Margem Visual se desdobrou na mesma direção, mas ampliando os caminhos. Num processo formativo próprio conduzido pelas curadoras Carolina Rodrigues, Mery Horta e Renata Sampaio, o “Margem Visual: Programa de Residência” selecionou oito artistas cariocas periféricos entre os mais de 130 inscritos para a realização de uma residência artística pela cidade do Rio durante dois meses. O resultado do processo é a exposição “In Transe To (Em Trânsito)”, que pode ser conferida a partir do dia 26 de julho, às 13h, nas Galerias 1, 2 e 3 do no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, sempre com entrada gratuita.
A mostra conta com trabalhos inéditos dos artistas selecionados – Alana Cream, Gabe Ferreira, Lucas Bem-aventurado, Jesus Suave, Manu Gomes, Maiumamariana, Mayara Assis e Medusa Yoni – que, para a exposição, desenvolveram seus trabalhos em linguagens como pinturas, videoartes, fotografias, esculturas e instalações. Durante o processo, os encontros educativos realizados pelo Mó Coletivo com fomento do Pró-carioca da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro (SMC RJ) foram ministrados explorando a relação dos artistas em trânsito pela cidade do Rio de Janeiro por meio dos transportes públicos em três módulos de pesquisa: trem, metrô e ônibus.
O objetivo do trabalho foi tirar o transporte público do lugar de automatização e desgaste, aprofundando a percepção sobre diferentes dinâmicas e acontecimentos que se encenam nesse espaço e propondo a subversão desses olhares. Três dos encontros imersivos tiveram como ponto de partida a Central do Brasil realizando o trajeto até bairros periféricos. Assim, os artistas foram até Santa Cruz de trem; até a Pavuna, pelo metrô; e foram a Bangu de ônibus, pela Av. Brasil. Os bairros escolhidos tiveram como premissa serem os destinos finais de cada um dos meios de transporte público utilizados.
“Depois da realização de três festivais de performance, uma exposição e a participação em várias ativações artísticas, finalmente tivemos a oportunidade de executar esse projeto. Nossa expectativa, que felizmente foi concretizada, foi a construção coletiva e compartilhada de toda a idealização desta exposição, passando pelo título, identidade visual, expografia, além da realização de aproximadamente 15 obras que vão compor a mostra”, celebra Carolina Rodrigues, uma das integrantes e fundadoras do Mó Coletivo.
O olhar direcionado aos repertórios cotidianos das pessoas de lugares periferizados da cidade e do estado do Rio de Janeiro já é parte do movimento do Mó em toda a sua trajetória de ações. Assim, segue observando e evidenciando a potência artística, poética e intelectual desses contextos. “A reflexão sobre os trânsitos pela cidade sempre apareceu nos festivais e resolvemos aprofundar esse potencial. Existe, é claro, também uma dimensão política, pois apesar de estimular o olhar para o que há de mais subjetivo nas relações que se dão nesses contextos, não deixamos de lado a crítica às péssimas condições de mobilidade impostas à maior parte da população, utilizando, também, a arte como veículo de reflexões críticas sobre essas questões”, pondera Carolina.
Curadora criada na zona oeste carioca e com vasta vivência em deslocamento através do transporte público, Mery Horta explica os meandros da exposição. “O jogo com a expressão ‘em trânsito’ e com a ideia de transe, de um estado entre estar consciente e inconsciente, é o que trazemos no nome da exposição e que faz parte do ato de estar dentro de um transporte público atravessando a cidade do Rio de Janeiro. A polifonia dos vendedores ambulantes, o fluxo de passageiros, o próprio movimento dos modais nos transportam para um mundo cheio de códigos específicos, de cores, de cheiros, de corpos que dialogam constantemente”, observa.
Diversas situações do transporte público estiveram presentes ao longo do processo. A residência, em si, aconteceu em lugares como o Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica e o Centro de Artes Calouste Gulbenkian, mas também em trânsito pelos transportes públicos. “Deslocar o olhar e pensar o transporte não só como meio, mas sendo ele próprio lugar da criação criativa, de experimentação artística, foi uma forma de descolonizar processos muito naturalizados de quem pode e quem não pode ser artista no Rio de Janeiro. O artista periférico, em geral, é empurrado socialmente a sair do seu território para poder exercer seu ofício, seja para aprender mais, seja para exibir seu próprio trabalho, ou mesmo socializar. A sensação de estar sempre em deslocamento é uma constante, e na residência nós podemos inverter essa lógica, voltando-nos ao deslocamento em si como processo criativo”, encerra a curadora Renata Sampaio.
SERVIÇO
Exposição “IN TRANSE TO”
- Abertura: 26 de julho, das 13h às 17h
- Período da Exposição: 26 de julho a 23 de agosto de 2025
- Horário: Segunda-feira à sábado de 10h às 18h
- Local: Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica – Galerias 1, 2 e 3
- Endereço: Rua Luís de Camões, nº 68 – Centro – RJ
- Entrada Gratuita
- Classificação Indicativa: Livre
- A exposição contará com audiodescrição das obras.
FICHA TÉCNICA
- Realização: Mó Coletivo
- Curadoria: Carolina Rodrigues, Mery Horta e Renata Sampaio
- Artistas: Alana Cream, Gabe Ferreira, Jesus Suave, Lucas Bem-aventurado, Maisumamariana, Manu Gomes, Mayara Assis e Medusa Yoni
- Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Comunicação
