Meus Cabelos de Baobá: Uma jornada ancestral encanta o Rio de Janeiro

por Redação

Sexta agora, dia 5 de abril, às 19h, a Arena Jovelina Pérola Negra vai receber a última apresentação de “Meus Cabelos de Baobá”. Essa peça,     Um sucesso que atraiu grande público com sua celebração emocionante da cultura afro-brasileira, falando de coisas importantes como quem somos, de onde viemos e o poder das mulheres, promete deixar a noite cheia de inspiração.

“Meus Cabelos de Baobá” nos convida a mergulhar na história da Rainha Dandaluanda, interpretada magistralmente por Fernanda Dias. Com diálogos que tocam a alma e performances que harmonizam canto e dança, a obra encoraja uma profunda reflexão sobre a jornada de autodescoberta e o desafio aos estereótipos, simbolizados pela majestosa árvore Baobá.

Meus Cabelos de Baobá crédito Valmyr Ferreira - Viagem Teatral SESI SP

Meus Cabelos de Baobá – Foto: Valmyr Ferreira – Viagem Teatral SESI SP

Sob a direção de Vilma Melo, premiada como a primeira atriz negra a receber o Shell de Melhor Atriz, a peça não só se destaca por seu conteúdo significativo, mas também por sua rica estética visual e sonora. Os figurinos, que perfeitamente mesclam tradição e contemporaneidade, juntamente com a envolvente trilha sonora original de Beà, fazem de “Meus Cabelos de Baobá” uma experiência inesquecível para os sentidos.

Este espetáculo transcende o mero entretenimento, posicionando-se como um tributo apaixonado à cultura afro-brasileira e um chamado à diversidade e ao respeito. A última apresentação, ainda mais enriquecida pela interpretação em Libras, representa uma chance única de engajar-se em um ato de arte, reflexão e celebração. Estende-se um convite à comunidade para participar de uma celebração das raízes culturais e da beleza da identidade afrodescendente. Será uma oportunidade de compartilhar uma noite memorável, unidos pela apreciação e reconhecimento dessa rica herança.

Duas perguntas para a diretora Vilma Melo

A peça aborda temas poderosos sobre identidade negra e a força da mulher. Na sua visão, qual é o impacto dessas narrativas no teatro brasileiro atualmente e como você vê a evolução da representatividade negra nas artes cênicas no Brasil?

Poder falar poética e abertamente de assuntos que nos atravessam, enquanto mulher e sobretudo enquanto mulher preta é mais que necessário, é um expurgo. O histórico que temos neste país sobre o tema, sempre foi de silenciamento e invisibilidade.

Vilma Melo

Vilma Melo

Este espetáculo está completando cinco anos de estrada, meia década, é isso é uma vitória quando se trata de um texto de uma mulher preta, desconhecida do grande público, e pasme falando sobre uma mulher preta! Mais que vitória, celebração de um campeonato.

A peça é a repetição da trajetória de tantas e tantas mulheres pretas deste país que insiste em esquecer que somos a maioria, seja quando o assunto é raça, seja quando é gênero. Observo a história de “Dandalunda”, me observo. As passagens nos remetem a nossa mais tenra infância, com toda a inocência e as feridas que abriram em nossas mentes, em no corpo de mulher negra. Fernanda Dias, que além de autora é a atriz do espetáculo, foi (e é) muito feliz em captar com perspicácia, cada palavra, cada gesto, cada respiro, cada comportamento que nos fende a alma. E é na observação deste lugar que o identificamos. Em geral para combater é necessário reconhecer e identificar como algo que nos atinge individual ou coletivamente. Quantas vezes após o espetáculo escutamos: “Eu passei tanto por isso”, ou “Comigo aconteceu igual”, “Não tinha noção que tinha isso guardado aqui dentro”. E quando você coloca para fora, começa o processo de cura. A ferramenta. A arte é um instrumento poderoso e um remédio sem igual.

Nós, pessoas negras, sempre estivemos presentes, mas o apagamento também sempre nos acompanhou. Sou do fim dos anos 80 da faculdade de Teatro da Universidade do Rio de janeiro. Nunca, durante a faculdade foi me proposto estudar Abdias do Nascimento e o TEN (Teatro experimental do negro), mas em muito mergulhamos em Brecht, Shakespeare, Nelson, Barba, Os Gregos, Teatro do Oriente e inúmeros outros conteúdos de extrema importância que indubitavelmente contribuíram para a minha formação nas artes cênicas, mas nos foi negada a produção do meu povo. O povo que construí este país não só de forma braçal, mas com um legado cultural vasto, expressivo e que se faz presente em cada virgula que exalamos, porque somos. Nós!

O teatro é uma ferramenta democrática. Virgula. Porque se as oportunidades não se dão para todos, se o poder de fala não é para todos, se as possibilidades de presença no espaço não são para todos, se… se…

Mas, está mudando, não no tempo que seria justo para que as correções pudessem se dar, mas, o cenário está mudando. Contamos com uma vasta produção de pessoas negras sendo narradoras de suas próprias histórias (e não necessariamente falando sobre temas que perpassam a cor da pele). E sobrevivendo… E permanecendo, e sendo visto. Reparado. Pensado.

Que sigamos provocando e produzindo, estamos no caminho certo, criando as nossas próprias narrativas trazendo o protagonismo coletivo. Um corpo preto em cena é um ato político. Uma mulher preta em cena e construtora de sua própria narrativa, é revolucionário. Oro para que eu ainda esteja neste mundo e minha mente possa acompanhar o momento que isto não seja mais um assunto, mas por enquanto isso façamos o nosso trabalho, façamos barulho, sigamos ainda que as vezes cambaleantes, sempre em frente como fizeram as nossas ancestrais. Que possamos nos dar as mãos e celebrar juntas.

Ao longo da produção de “Meus Cabelos de Baobá”, quais foram os maiores desafios enfrentados pela equipe e como estes foram superados? Há alguma experiência durante a jornada

Quando mulheres se encontram para falar a mesma língua, o ato é de comunhão. Fernanda além de dramaturga é uma atriz com uma disciplina, talento e sensibilidade ímpar, deste trabalho nasceu uma grande parceria que temos repetido no decorrer dos últimos anos.

Vilma Melo

Vilma Melo

A nossa então jovem diretora musical Bèa com apenas 23 anos na época, através da sua pesquisa profunda em sons e na construção de instrumentos ancestrais, conseguiu transformar o ambiente que povoava a minha mente em paisagem sonora.

Os nossos homens da equipe. Cachalote, homem preto, nosso cenógrafo dedicado e afortunado em tudo que faz e, Binho Schaefer, o nosso iluminador, falecido em 2020. Nascido no sul do Brasil e na época a única pessoa branca da equipe, foi assistir ao ensaio para criação. Tivemos que interromper, pois as suas lagrimas e seu choro convulsivo não nos permitia seguir. A dramaturgia cênica associada as palavras proferidas o atravessaram de forma tão contundente e significativa que demorou um tempo (extenso) para que ele conseguisse se recompor. Não à toa daí surgiu um desenho de luz brilhante, recebendo o devido reconhecimento com a indicação póstuma no FITA de 2023. E esse foi o último trabalho que fizemos juntos depois mais de 20 anos de parceria.

Ali, naquele ensaio tivemos a certeza. Este espetáculo comunica, não só a nós, mas a quem ele realmente precisa ouvir. Porque acredito que um dos papeis da arte e a grande oportunidade que temos é a de modificar o interlocutor, nem que seja por um átimo. Se algo o tocou, estamos cumprindo o nosso papel. Sou muita grata e honrada poder fazer parte desta história.

Por que assistir “Meus Cabelos de Baobá”:

  • Uma experiência teatral emocionante e reflexiva
  • Uma celebração vibrante da cultura afro-brasileira
  • Uma oportunidade de conhecer a história da Rainha Dandaluanda e sua jornada de empoderamento
  • Uma chance de apreciar a talentosa Fernanda
  • Uma obra que contribui para o debate sobre a diversidade e o respeito à identidade afrodescendente

Serviço:

Espetáculo: Meus Cabelos de Baobá
Data: 5 de abril de 2024
Horário: 19h
Local: Arena Jovelina Pérola Negra, Praça Ênio, s/n – Pavuna, Rio de Janeiro – RJ
Ingressos: Gratuito
Interpretação em Libras
Classificação: 12 anos

Ficha técnica
Direção: Vilma Melo
Argumento: Simone Ricco
Texto: Fernanda Dias
Elenco: Fernanda Dias, Lidiane Oliveira, Rapha Morret e Beà

Figurino: Clívea Choen
Desenho de luz: Binho Schaefer (in memória)
Operador de luz: Victor Tavares

Sonorização: Leandro Mattos
Direção musical e percussão: Beá
Concepção de cenário e projeto gráfico: Cachalote Mattos
Idealização: Fernanda Dias
Direção de produção e assessoria de imprensa : Claudia Bueno

Recomendações:

  • Chegar com antecedência para garantir um bom lugar.
  • Desligar o celular antes do início da peça.

Para mais informações:

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