No centenário de João Bethencourt, comédia brasileira da década de 70 mais encenada no mundo volta aos palcos, no dia 9 de maio, no Teatro Fashion Mall
Com direção de Cristina Bethencourt, filha do autor, a peça retorna em nova montagem contemporânea de um clássico que une humor, crítica social e um inusitado pedido de paz mundial
OTeatro Fashion Mall recebe, a partir de 9 de maio, a nova montagem da consagrada comédia escrita pelo renomado dramaturgo João Bethencourt, O dia em que raptaram o Papa, cuja obra atravessa gerações com uma linguagem acessível e crítica social refinada. A peça estreou em 1972, no Teatro Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, com direção do próprio autor. O elenco da primeira montagem contou com grandes nomes como Eva Todor e Afonso Stuart, e rapidamente se tornou um sucesso de público e crítica.
Agora, cinquenta e três anos depois e em pleno ano do centenário do autor, a comédia volta aos palcos em uma leitura contemporânea dirigida por Cristina Bethencourt, com os atores Giuseppe Oristanio, Claudio Mendes, Elisa Pinheiro, Gustavo Ottoni, Nando Cunha, Samuel Valladares e Beatriz Linhales, em uma temporada de sexta a domingo, até o dia 22 de junho.
Durante toda a temporada, o público também poderá visitar a exposição “O Papa pelo Mundo”, no foyer do teatro. A mostra reúne 12 fotos originais do acervo de João Bethencourt, com registros históricos de montagens internacionais da peça realizadas entre as décadas de 1970 e 1990. As imagens destacam a impressionante trajetória da comédia em diversos países, revelando a força e o alcance global da obra.
A trama gira em torno de Samuel Leibowitz (Claudio Mendes), um taxista judeu do Brooklyn, que, movido por um impulso idealista e um desejo profundo de ver o mundo em paz, decide sequestrar o Papa (Giuseppe Oristanio) durante uma visita a Nova York. Em vez de dinheiro ou poder, seu pedido de resgate é simples e inusitado: um único dia de paz mundial. Com muito humor e humanidade, a peça conduz o público a uma reflexão sobre temas como fé, convivência entre diferentes culturas e religiões, utopias possíveis, e o papel da esperança em tempos de crise.
Para Giuseppe Oristanio, dar vida ao Papa nesse momento tem um sabor especial: “Fazer uma peça do João Bethencourt era um sonho dos meus primeiros anos de carreira, em São Paulo. Sempre que uma montagem dele chegava por lá, eu corria atrás de um papel — mas nunca consegui. Agora, no centenário do João, finalmente realizo esse desejo. Interpretar o Papa é um presente imenso. Estar nessa montagem dirigida pela Cristina Bethencourt, filha do autor, é uma honra e uma alegria.”
Desde sua estreia, ‘O dia em que raptaram o Papa’ se consagrou como a peça brasileira mais montada fora do país, tendo sido encenada em mais de quarenta, como Suíça, Israel, Canadá, Estados Unidos, Alemanha, Áustria, França e diversas nações escandinavas, consolidando-se como uma das mais expressivas obras do teatro brasileiro no cenário internacional, até os dias de hoje. Um dos marcos dessa trajetória foi sua apresentação em 1973 no prestigioso Schauspielhaus de Zurique, na Suíça, onde permaneceu em cartaz por um ano, com lotação esgotada, em um teatro de 750 lugares. O espetáculo se tornou, até hoje, a maior bilheteria da história da casa.
A peça também foi alvo de críticas entusiásticas de veículos de grande prestígio internacional, como os jornais Le Monde e L’Osservatore Romano. Personalidades ilustres assistiram à montagem, entre elas a rainha Fabíola da Bélgica e o próprio Papa, em uma apresentação especial realizada no teatro do Vaticano.
Em 2024, o espetáculo voltou aos palcos suíços com grande destaque, integrando a programação do ‘Schlossfestspiele’, o maior festival de teatro do país, realizado no castelo de Hagenwil. A temporada, que durou um mês, foi novamente um grande sucesso de público e crítica.
Segundo a diretora Cristina Bethencourt, levar novamente a peça aos palcos em pleno centenário do pai é uma experiência singular: “O dia em que raptaram o Papa possui uma carpintaria dramatúrgica perfeita, com situações desenvolvidas de forma cômica e inusitada. Escrito em 1971, o texto surpreende pela atualidade e capacidade de emocionar. Apesar das décadas, a humanidade ainda não conseguiu se curar de uma questão essencial para sua sobrevivência: as guerras”, afirma. Cristina destaca ainda a força do elenco e o caráter atemporal da obra: “Com sete atores talentosos e experientes nos palcos, o espetáculo é praticamente infalível. Trata-se de uma comédia pacifista que aborda temas espinhosos com leveza, provocando risos e reflexão na medida certa”.
O dramaturgo
João Bethencourt (final 1924–2006) foi dramaturgo, diretor, roteirista e romancista. Reconhecido por seu humor refinado, linguagem acessível e crítica social inteligente, ele se destacou ao unir temas filosóficos e humanistas a situações cômicas e universais. Ao longo da carreira, escreveu peças que transitaram entre o teatro popular e a crítica sofisticada, sempre com sensibilidade e inventividade. Além do sucesso nos palcos, Bethencourt também teve atuação marcante na televisão e no cinema. Em Yale, nos Estados Unidos, fez mestrado em dramaturgia, especializando-se em Molière.
A diretora
Cristina Bethencourt é formada pela Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e pela Uni-Rio, com sólida trajetória no teatro adulto e infantojuvenil. Ainda na Uni-Rio fez mestrado com a dissertação “O Acadêmico Popular”, sobre João Bethencourt. Atua também como preparadora de elenco para cinema e televisão. Ao longo dos anos, Cristina desenvolveu uma linguagem cênica própria, marcada pela valorização do texto e do trabalho do ator. Nesta montagem, ela oferece um olhar íntimo e renovado sobre a obra do pai, preservando o humor e o espírito crítico da peça enquanto atualiza suas reflexões para o público de hoje.
Ficha Técnica
- Texto: João Bethencourt
- Direção: Cristina Bethencourt
- Diretora Assist. Renata Paschoal
- Elenco: Giuseppe Oristanio, Claudio Mendes, Elisa Pinheiro, Beatriz Linhales, Samuel Valladares
- Gustavo Ottoni
- Participação especial: Nando Cunha
- Cenário: José Dias
- Figurinos: Ronald Teixeira e Pedro Stanford
- Luz: Rogério Wiltgen
- Trilha Sonora: Chico Beltrão
- Voz of Locutores: Duaia Assumpção, Lucas Barbosa e José Beltrão
- Voz of Xerife: André Dale
- Direção de Movimento: Toni Rodrigues
- Assistente de direção: Lucas Barbosa
- Assistente de produção: Jovi Gonçalves
- Cenotécnico: Guilherme Tommasi
- Assessoria de imprensa: Daniela Cavalcanti
- Fotos: Guga Melgar
- Produção: Forte Filmes
- Realização: Dino Produções
Serviço
O dia em que raptaram o Papa
- Estreia: 9 de maio (sexta-feira), às 20h
- Local: Teatro Fashion Mall – Sala Rosa Maria Murtinho (Estrada da Gávea, 899 – São Conrado)
- Informações: (21) 99857-8677
- Horários: Sexta e Domingo, às 20h | Sábado, às 21h (excepcionalmente no domingo, 11/05, o espetáculo será às 19h)
- Capacidade: 400 lugares
- Duração: 70 minutos
- Classificação: 12 anos
- Ingressos: R$120,00 (inteira) | R$60,00 (meia)
- Vendas: Sympla
- Fotos Guga Melgar: em estúdio
- Temporada: 9 de maio a 22 de junho
Sinopse:
Em uma Nova York chuvosa, Samuel Leibowitz, um taxista judeu do Brooklyn, decide — num gesto de impulso e idealismo — sequestrar o Papa durante sua visita à cidade. Mas o pedido de resgate foge a qualquer clichê: Samuel quer apenas um dia de paz mundial. A partir daí, desenvolve-se uma trama espirituosa e tocante, marcada pela improvável convivência entre o líder da Igreja e uma família judia, o desespero diplomático de autoridades religiosas e políticas, e um cardeal mal-humorado determinado a controlar a situação. Com muito humor e um toque de crítica social, “O Dia em que Raptaram o Papa” é uma celebração do teatro como espaço de reflexão e riso — uma história ousada e atemporal que continua mais atual do que nunca.