A indústria audiovisual brasileira tem enfrentado desafios na contratação de profissionais qualificados. De acordo com uma recente pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), em parceria com o Sindicato Interestadual da Indústria Audiovisual (Sicav), três em cada quatro empresas do setor relatam dificuldades para encontrar mão de obra especializada.
O número representa 76,7% das empresas entrevistadas pelo “Estudo de Demanda Profissional do Setor Audiovisual”. A expectativa, para 72,3%, é que esse cenário se mantenha até 2026.
Nesse contexto, fazer uma especialização, participar de eventos como feira de criatividade e inovação e estabelecer colaborações e parcerias são algumas das recomendações do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) para que os profissionais da área se mantenham competitivos no mercado de trabalho.
Outra estratégia sugerida é se envolver em atividades que promovam o relacionamento e a visibilidade de projetos, como participar um pitching do audiovisual, por exemplo. Esse tipo de encontro gera oportunidades para que os profissionais apresentem suas ideias a potenciais parceiros, investidores e clientes da indústria.
Expansão do setor ajuda a explicar o cenário desafiador
Segundo a consultora de Estudos e Pesquisas da Firjan, Joana Siqueira, em entrevista à imprensa, a dificuldade na contratação tem a ver com um momento de expansão do audiovisual e de retomada de investimentos depois da pandemia.
As leis recentes de cota, sancionadas pelo governo, para a TV paga e para o cinema, contribuem para esse panorama, já que abrem mais espaço para as produções nacionais. Além disso, os R$ 2,7 bilhões da Lei Paulo Gustavo, destinados ao audiovisual especificamente, também favorecem o cenário.
A especialista esclarece que a alta demanda por especialistas em audiovisual não está relacionada à falta de competência dos profissionais do mercado necessariamente. O que existe é a necessidade de formar novos trabalhadores para esse campo.
A pesquisa da Firjan com o Sicav foi feita com 300 empresas da indústria brasileira do audiovisual, sendo 91% microempresas e 86,7% pertencentes à atividade de produção. A maioria delas está localizada no estado do Rio de Janeiro, com 46%, seguido por São Paulo, 20%, Minas Gerais, com 9% das representantes, Paraná, com 5%, e Bahia, com 3,3%.
Mercado demanda requalificação para digitalização e novas tecnologias
A requalificação também é mencionada pelos pesquisadores como um caminho importante a ser seguido, especialmente diante de transformações e tendências modernas do mercado.
Joana ressalta que as empresas costumam pontuar a carência de profissionais mais preparados para lidar com temas como a Lei Geral de Proteção de Dados, por exemplo. Além disso, há oportunidades que precisam ser preenchidas em novas funções relacionadas à tecnologia e à digitalização.
Segundo o levantamento, quase metade (48,4%) das organizações consultadas que apontam alguma dificuldade indicam a necessidade de profissionais capacitados para trabalhar com digitalização e novas tecnologias, como inteligência artificial (IA). Para Joana, a valorização da mão de obra é fundamental para o desenvolvimento contínuo do setor, especialmente num cenário promissor do mercado audiovisual.
Áreas de atuação e funções no audiovisual são amplas
Conforme o Senac, uma das áreas que mais cresce no mercado atual é a produção audiovisual. Esse avanço está ligado a fatores como a ascensão das redes sociais e das plataformas de streaming e a necessidade de estabelecer uma comunicação eficiente entre empresas e clientes.
Os profissionais especializados nesse campo têm papel essencial na criação de conteúdos atrativos e de qualidade. Eles são responsáveis por elaborar e executar obras e projetos audiovisuais, em formato de vídeo, áudio, fotografia, animação, entre outras mídias.
O mercado de trabalho é amplo e diversificado para profissionais de audiovisual, com possibilidades de atuação em diferentes especialidades. Produção, direção de fotografia ou de arte, elaboração de roteiros, direção de som, sonoplastia e definição de orçamentos são algumas das principais funções que esse profissional pode desempenhar no mercado.
Desafios e soluções para atender à demanda do setor
De acordo com o estudo da Firjan e do Sicav, em relação aos desafios que as empresas de audiovisual enfrentam ou vão enfrentar nos próximos anos, 71,7% indicaram as soft skills. Tratam-se de habilidades socioemocionais e comportamentais dos profissionais que estão no mercado, relacionadas à forma como eles lidam com outras pessoas e consigo mesmos em situações variadas.
A qualidade técnica apareceu em segundo lugar, com 64,3% das menções. Na sequência, aparecem segurança e LGPD, novas funções demandadas pelo mercado, tecnologias e digitalização do setor, e condutas e legislações que exercem algum impacto nessa área, como discriminação, assédio, racismo e diversidade.
Segundo o Senac, como a formação em audiovisual é ampla, o profissional precisa identificar suas habilidades e áreas de interesse para decidir onde atuar. Devido ao mercado competitivo, é importante buscar maneiras de inovar e aprimorar o trabalho desenvolvido. Uma das principais dicas é optar pela especialização em uma área específica, como roteiro, direção de fotografia ou edição.
Fazer um portfólio para apresentar o próprio trabalho, bem como repertório e habilidades também é uma recomendação do Senac. O documento pode ser útil para atrair clientes e empregadores. Além disso, é necessário manter-se atualizado sobre as tendências do mercado, uma vez que o universo do audiovisual está em evolução.
Como a indústria audiovisual é baseada em networking e relacionamento, estabelecer boas relações com colegas de trabalho e seus clientes é considerado importante. Participar de eventos, fazer cursos e estar aberto a colaborações e parcerias são alguns exemplos de como ampliar o círculo profissional.