Simpósio Internacional discute inclusão de autistas no Ensino Superior

Evento de três dias, realizado pela Associação Nacional para Inclusão das Pessoas Autistas, reúne especialistas nacionais e internacionais, na USP

por Jorge Rodrigues

Há um ano, a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), uma das mais antigas e tradicionais do Brasil, criou a Política de Acessibilidade Pedagógica (PAP) aos alunos diagnosticados com transtornos globais do desenvolvimento na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.  Além de pioneira, esta é a única iniciativa com esse propósito realizada na educação superior em todo o país. É neste mesmo cenário, no número 95 do Largo de São Francisco, no Centro de São Paulo, que será realizado, de 29 a 31 de março, o II Simpósio Internacional de Inclusão no Ensino Superior – O Direito à Diferença.

O Simpósio, promovido pela Associação Nacional para Inclusão das Pessoas Autistas (ANIA/BR) vai reunir especialistas de universidades de diversos países e pessoas com deficiência para um debate sincero e atual, através de mesas redondas e palestras sobre o autismo e sua relação com a sociedade brasileira.

Embora seja um direito garantido por lei, no Brasil, a inclusão de pessoas com deficiência no ensino superior ainda é alvo de muita discriminação e preconceito, o que acaba dificultando o acesso e a permanência desses estudantes. Para mudar essa prática, é preciso que, antes de mais nada, haja informação qualificada para a sociedade e, que, paralelamente, sejam criadas políticas públicas e práticas que garantam a acessibilidade e a adaptação dos espaços e recursos educacionais.

“Para incluir pessoas autistas e com deficiências na escola e na universidade é fundamental compreender e valorizar os pontos fortes de cada sujeito. É muito comum termos oferta de terapias caríssimas e predatórias e abordagens pedagógicas desconectadas da realidade que buscam corrigir nossas diferenças ao invés de potencializar nossos talentos e habilidades. Devemos nos concentrar nos pontos fortes dos alunos e não em suas fragilidades. Investir na formação continuada dos professores e no diálogo acerca do tema é o único modo de romper as barreiras do preconceito e da exclusão. Não adianta gastar fortunas em aparelhos e não investir nas pessoas.” – explica o pesquisador de Educação Inclusiva, Guilherme de Almeida, presidente da ANIA/BR, de 40 anos, que se descobriu autista aos 37.

Perguntado sobre a inserção profissionais de saúde no ambiente escolar, Guilherme é taxativo “Escola não é hospital, não é lugar de tratamento, mas de aprendizagem, de humanização, de socialização, de troca! É lugar de superação dos desafios intelectuais, afetivos e cotidianos. É para isso que as instituições de ensino devem se preparar, para cumprir seu papel pedagógico em relação à todas as pessoas, sejam autistas ou não, é o que prevê os tratados internacionais de direitos humanos que o Brasil é signatário, a Lei Brasileira de Inclusão e a Constituição Federal de 1988. Quem faz diferente trapaceia a educação!”

Durante os três dias, serão abordados temas como:

– Oferecimento de suporte e orientação: É importante que as universidades ofereçam suporte e orientação para estudantes autistas desde o processo de candidatura até a conclusão do curso. Isso pode incluir orientação sobre recursos disponíveis, como acomodações, suporte emocional e acadêmico e outras adaptações necessárias.

– Adaptações curriculares: As universidades devem ser flexíveis em relação às adaptações curriculares para estudantes autistas, como permitir que usem tecnologia assistiva e outras ferramentas que possam ajudá-los a acompanhar o conteúdo.

– Adaptações ambientais: Os ambientes universitários podem ser sensorialmente sobrecarregantes para estudantes autistas. As universidades podem fornecer adaptações ambientais, como salas de estudo silenciosas ou com baixa luminosidade e áreas designadas para descanso e relaxamento.

– Formação de professores e funcionários: Professores e funcionários das universidades devem receber formação sobre como apoiar estudantes autistas e fornecer as adaptações necessárias. Isso pode incluir treinamento em comunicação eficaz, compreensão das necessidades individuais de cada aluno e a capacidade de adaptar as estratégias de ensino.

– Comunidade de apoio: As universidades podem fornecer uma comunidade de apoio para estudantes autistas, incluindo grupos de apoio, orientação profissional e oportunidades de mentoria.

– Inclusão em atividades extracurriculares: As universidades devem incentivar a participação de estudantes autistas em atividades extracurriculares, como clubes e organizações estudantis, para que possam se integrar à comunidade acadêmica. Ao implementar essas sugestões, as universidades podem ajudar a garantir que estudantes autistas possam acessar e permanecer no ensino superior e ter sucesso acadêmico.

O simpósio acontecerá em formato híbrido, com certificação de 36h emitida pela Faculdade de Direito da USP em conjunto com Associação Nacional para Inclusão das Pessoas Autistas e terá transmissão simultânea pelas redes sociais da associação. As inscrições serão feitas pelo Sympla através do link https://www.sympla.com.br/evento/ii-simposio-internacional-de-inclusao-no-ensino-superior-o-direito-a-diferenca/1878204

Sala de Acomodação Sensorial

A sensibilidade aos estímulos e sentidos aguçados são uma característica forte do autismo. Estar em um ambiente harmonicamente projetado para acalmar esses estímulos é uma importante válvula de escape para momentos de cansaço e estresse.

Pensando nisso, foi planejada uma Sala de Acomodação Sensorial, oferecida pela Clínica Ludens e pela Spider, que ficará disponível para o uso de todos os presentes durante o simpósio.

Selo Todos Nós

No último dia do evento, será lançado o selo de certificação “Todos Nós”. O selo tem o objetivo de atestar que uma organização ou instituição se compromete com determinados requisitos e critérios relacionados à promoção da inclusão de pessoas com deficiência e condições como o autismo. Esse selo pode ser utilizado para demonstrar publicamente o compromisso da organização com a inclusão e para diferenciá-la das demais organizações.

Ao conquistar o selo de certificação, a organização pode ser reconhecida como uma referência em práticas inclusivas, o que pode impactar positivamente a sua imagem e reputação.

Sobre a ANIA

Idealizada em 2022, a ANIA/BR busca informar, conscientizar e mobilizar a sociedade para a importância da inclusão das pessoas autistas em todos os aspectos da vida, como a educação, o trabalho, a saúde, a cultura e o lazer.

A associação trabalha em parceria com outras organizações, tanto no Brasil quanto no exterior, para promover a inclusão das pessoas com autismo e influenciar políticas públicas que levem em conta as necessidades específicas dessa população. A entidade oferece suporte e orientação para pessoas autistas, além de desenvolver projetos e programas de conscientização e formação para profissionais da área.

Associação Nacional também promove eventos e campanhas de conscientização sobre o autismo, buscando desmistificar preconceitos e estereótipos em relação às pessoas com essa condição. A entidade é composta por pessoas com autismo, suas famílias e profissionais da área, todos engajados na luta por uma sociedade mais inclusiva e acolhedora.

Programação do evento:

Guilherme de Almeida – (Presidente da Associação para Inclusão de Pessoas Autistas)

Educação como Direito e o Direito à Educação: a pedagogia humanizadora como instrumento de inclusão

Professor Dr. Cesar Nunes (PAIDEIA/FE/UNICAMP)

 

O Sentimento de Inadequação de Jovens e Adultos na Contemporaneidade

Prof. Me. André Torres (PAIDEIA/FE/UNICAMP)

Intersecções: mulher, mãe, preta e autista

Palestrante: Gabriela Guedes (Jornalista)

O Direito à Saúde e ao Bem-estar: o potencial da Cannabis Medicinal para tratamento de pessoas autistas e com síndromes raras

Palestrante: Dr. Vinícius Barbosa (Hospital Sírio-Libanês)

Educação Inclusiva no Ensino Superior: a Experiência na União Européia

Palestrante: Profª. Drª. Anabel Moriña (Universidade de Sevilha)

A Filosofia da Diferença e o Identitarismo: contradições e aproximações possíveis

Palestrante: Prof. Dr. Silvio Gallo (Universidade de Sevilha)

Educação Inclusiva como Direito Humano e Fundamental

 Palestrante: Prof. Dr. André de Carvalho Ramos (USP)

Seminário XIV: 120 Anos de Portinari: a Emancipação pela Arte

Palestrante: Prof. Dr. João Candido Portinari (MIT)

O Desafio da Construção de Políticas Públicas Inclusivas em Âmbito Federal

Palestrante: Naira Rodrigues Gaspar (Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania)

Você pode gostar

Deixe um comentário

Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência. Presumiremos que você concorda com isso, mas você pode cancelar se desejar. Aceito Leia mais

Share via