Vogue gera polêmica ao estrear modelo virtual em campanha publicitária

por Jorge Rodrigues
Vogue gera polêmica ao estrear modelo virtual em campanha publicitária

A prestigiosa revista Vogue encontra-se no centro de uma intensa controvérsia após publicar sua primeira campanha publicitária protagonizada por uma modelo criada através de inteligência artificial. O anúncio de duas páginas para a marca Guess, veiculado na edição de agosto de 2025, foi desenvolvido pela agência londrina Seraphinne Vallora e apresenta uma figura feminina loira vestindo peças de verão, acompanhada apenas de uma discreta menção sobre sua natureza digital.

Viralização nas Redes Sociais Intensifica o Debate

O escândalo ganhou proporções massivas quando a criadora de conteúdo @lala4an compartilhou um vídeo no TikTok expondo a presença da modelo artificial. A publicação alcançou impressionantes 2 milhões de visualizações, desencadeando uma onda de indignação entre profissionais da moda e consumidores. Muitos leitores manifestaram intenção de cancelar suas assinaturas da revista como forma de protesto.

Profissionais da Moda Expressam Preocupações Sobre o Futuro da Indústria

Felicity Hayward, modelo experiente com mais de dez anos de carreira, classificou a utilização de avatares digitais como uma abordagem “negligente e de baixo custo” em declaração à BBC. Para ela, a decisão editorial representa um desenvolvimento “extremamente desalentador e ameaçador” para a categoria profissional.

A inquietação se estende além das passarelas. Especialistas alertam que a tecnologia pode impactar negativamente diversos profissionais do ecossistema fashion, incluindo maquiadores, cabeleireiros e fotógrafos que tradicionalmente participam das produções editoriais.

Impactos Psicossociais Preocupam Especialistas

Sinead Bovell, ex-modelo e analista do setor, destacou como “os parâmetros estéticos contemporâneos já sofrem influência da inteligência artificial” e manifestou inquietação quanto aos efeitos psicológicos em jovens que estabelecem comparações com “indivíduos completamente artificiais”.

O parlamentar australiano David Shoebridge criticou duramente a iniciativa da Guess, acusando a marca de “estabelecer padrões estéticos inalcançáveis e irresponsáveis” através de corpos digitalmente aperfeiçoados que não possuem correspondência na realidade.

Criadores da Tecnologia Defendem Inovação

As empreendedoras Valentina Gonzalez e Andreea Petrescu, fundadoras da Seraphinne Vallora, contestaram veementemente as acusações de substituição de talentos humanos. As jovens de 25 anos sustentam que sua metodologia na verdade gera oportunidades laborais, descrevendo um processo complexo que envolve criação de mood boards, trabalho de estilistas e ocasionalmente colaboração com fotógrafos para estudos de pose.

“Por que profissionais como engenheiros, designers gráficos, artistas 3D, programadores e arquitetos não podem também criar beleza?”, questionaram através de publicação no Instagram, enfatizando que suas criações são “potencializadas por IA, mas executadas por humanos criativos e designers”.

Oportunidade Surgiu Através das Redes Sociais

Gonzalez revelou ao BuzzFeed que a grande oportunidade emergiu quando Paul Marciano, cofundador da Guess, descobriu o trabalho da dupla no Instagram e selecionou sua modelo virtual entre dez alternativas apresentadas.

Quando confrontada sobre a perpetuação de padrões estéticos controversos, Gonzalez transferiu a responsabilidade para as preferências do público: “A responsabilidade não é nossa, mas do público. Se eles valorizassem a diversidade, nosso Instagram estaria repleto de diversidade.” A dupla aponta seus 220 mil seguidores como evidência da demanda mercadológica por imagens baseadas em fantasia.

Expansão da IA na Publicidade Fashion

A incorporação de modelos virtuais pela indústria da moda sinaliza uma transformação significativa nas práticas publicitárias. Publicações renomadas como Elle e Harper’s Bazaar também já apresentaram criações digitais da Seraphinne Vallora, seguindo a controversa iniciativa da Vogue.

Esta revolução tecnológica coincide com desafios econômicos do setor. Pesquisa recente da McKinsey indica que apenas 20% dos executivos de moda antecipam melhoria no comportamento do consumidor em 2025, enquanto 39% preveem deterioração das condições mercadológicas.

Processo Produtivo Revela Complexidades Tecnológicas

O desenvolvimento de cada modelo digital pela equipe de cinco profissionais da Seraphinne Vallora demanda até um mês, desde a concepção inicial até a imagem finalizada. Os custos podem atingir valores de seis dígitos para grandes clientes, equiparando-se aos investimentos de produções fotográficas convencionais.

Contudo, a tecnologia atual apresenta limitações evidentes. Embora a IA consiga produzir “estrutura óssea perfeita e pele impecável”, as vestimentas frequentemente aparecem “desorganizadas” nos anúncios, necessitando fotografia tradicional das peças reais. A agência reconhece não ter desenvolvido modelos plus size devido a “restrições tecnológicas” e atribui a ausência de diversidade racial às preferências algorítmicas, não a limitações técnicas.

Significativamente, marcas como a Guess evitam compartilhar essas imagens de IA em suas próprias redes sociais, sugerindo ambivalência corporativa em relação à inovação tecnológica.

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